Filmes

Entrevista

Elon Não Acredita na Morte | "Não gosto de lugar estável na arte", diz Rômulo Braga

Filme está em cartaz nos cinemas

27.04.2017, às 17H01.
Atualizada em 27.04.2017, ÀS 19H08

Exibido no prestigiado festival de Roterdã e no de Macau, onde foi premiado por sua excelência sonora, o suspense mineiro Elon Não Acredita na Morte, de Ricardo Alves Jr., chega às telas nesta quinta-feira (27), após um périplo de elogios e láureas no país e no exterior, firmando seu protagonista, o ator brasiliense radicado nas Gerais Rômulo Braga, como novo o muso do “cinema de invenção” nacional. O termo se aplica a filmes de narrativa e/ou linguagem que transgridem convenções, apontando uma linha autoral: é também o caso de Joaquim, um thriller político sobre Tiradentes, indicado ao Urso de Ouro em Berlim, em fevereiro, e hoje em cartaz em diversos estados. Em cada longa-metragem que aparece, não importa o papel, Braga faz do silêncio sua principal ferramenta para esculpir a angústia afetiva dos homens que encarna.

Quando eu escuto uma definição como essa, de que eu simbolizo isso ou aquilo no meu modo de atuar, isso me causa mais medo do que contentamento, pois atuar é um ofício muito cruel, em que você rapidamente é enquadrado numa gaveta, assim como, rapidamente, pode ficar queimado ou ser esquecido. Não gosto de lugar estável na arte: se eu me vejo em um, vou fazer de tudo para me desconstruir”, diz Braga ao Omelete. “Uma vez, um analista me disse: ‘Na atuação é onde um ser humano mais se aproxima da verdade’. Não se associa um ator da vida que ele leva: sou ator 24 horas”.      

Em sua primeira exibição pública, no último Festival de BrasíliaElon Não Acredita na Morte deu ao astro o troféu Candango de melhor ator. Neste exercício de tensão rodado em Belo Horizonte ao custo de em R$ 900 mil e capaz de evocar a estética de David Lynch (Twin PeaksEstrada Perdida) a cada plano, Elon é um perdedor profissional que sai em busca do paradeiro de sua mulher desaparecida.

“Elon não acredita na morte porque, de certa forma, também não acredita no amor. Seu relacionamento com a mulher é pueril muitas vezes”, define Braga, hoje com 40 anos. “A dificuldade de lidar com o amor gera sua inconsistência”.

Estrela de Exilados do Vulcão (2013), a atriz Clara Choveaux tem um papel seminal no filme, no papel de uma femme fatale que embaralha ainda mais a percepção de Elon em sua investigação. E ainda sobrou espaço nobre para Lourenço Mutarelli em cena: escritor e mito das HQs, o quadrinista tem uma participação no enredo como o primeiro marido (ou coisa do tipo) da desaparecida. É na fotografia de Matheus Rocha que o longa impõe toda a sua potência, em enquadramentos de corpo a corpo com Braga, em andanças a esmo por labirintos de mistério.

Eu costumo ser introspectivo na vida, mas não sei se os diretores enxergam isso e valorizam esse aspecto na minha atuação ou se isso vem dos personagens”, diz o astro, que ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival do Rio 2014 por Sangue Azul, de Lírio Ferreira.

Prestes a voltar às telas em filmes inéditos como Navios de Terra Os Dias Sem Tereza, ele participou ainda de outras produções aclamadas no exterior como Mutum, de Sandra Kogut, lançado em Cannes em 2007. “Achei Rômulo ótimo no Joaquim”, elogia Kogut. “Foi uma alegria reencontrá-lo depois de 10 anos. Foi também uma alegria trabalhar com ele no Mutum. Ele tinha uma pureza, uma verdade, e uma riqueza emocional. A emoção que vinha dele no trabalho era total - emoção do personagem misturada à emoção de estar ali fazendo aquele filme, contracenando com aquelas crianças. Eu me lembro de uma cena que a voz dele sumiu, sumiu de emoção. Acabou ficando melhor ainda. No Mutum, ele era uma pedra bruta – e isso foi perfeito, era também o lugar que todos almejavam no filme”.

Em paralelo ao cinema e a uma participação no seriado Psi, da HBORômulo Braga se prepara para encenar Macunaíma no teatro, só que com bonecos. “Estou aprendendo a ser bonequeiro agora, mas está sendo um bom caminho”.

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