Filmes

Entrevista

"Estamos em um momento confuso", diz a diretora portuguesa de Colo

Teresa Villaverde fala sobre a crise retratada em seu filme

16.11.2017, às 08H51.
Atualizada em 16.11.2017, ÀS 09H05

É raro o cinema português ganhar espaço no circuito brasileiro, apesar da proximidade da língua. Mais raro ainda nestas bandas é a presença de um longa-metragem lusitano com tão elogiado (Europa afora) quanto Colo, candidato de nossos patrícios ao Urso de Ouro do último Festival de Berlim.

Com estreia em nossas telas agendada para esta quinta-feira, o novo filme da diretora Teresa Villaverde, realizadora de cults como Os Mutantes (1998) é uma aula sobre efeitos afetivos de crises financeiras. Para isso ela revive recentes turbilhões econômicos em seu país (hoje já estável, sobretudo em Lisboa). A trama mostra a destruição de uma família. O pai (João Pedro Vaz) está desempregado. A mãe (Beatriz Batarda), o arrimo da casa, não tempo para cuidar de si nem da filha, Marta (Alice Albergaria Borges), pois está ameaçada de perder seu trabalho noturno. O corte da luz da casa deles coroa o processo de decadência daquele lar, em meio ao percurso de amadurecimento de Marta que se descobre mulher ali naquela residência cheia de angústias.

Na entrevista a seguir, dada ao Omelete na Berlinale, Villaverde disseca sua forma de expor as entranhas de sua pátria.

Omelete: Que Portugal está retratado em Colo?

Teresa Villaverde: É um país que sofreu uma crise brutal, cujas sequelas são vistas pelo olhar de uma geração mais jovem, aquela da qual mais esperamos mudanças. Não quis usar efeitos brutais da economia para retratar o que se passou entre nós, pois este é um filme que aborda a crise pelo silêncio e pela solidão. Mas ao olhar para o que se passou conosco em anos recentes, tento alertar o público para o avanço da extrema direita e de sua política conservadora. Estamos num momento confuso, onde esse avanço é perigoso.

Omelete: O que o silêncio representa no cinema que você faz?

Teresa Villaverde: No silêncio reside o que de mais importante uma pessoa tem a dizer pois o mais rico em um diálogo é o “não dito”, o gesto, o olhar. Silêncio requer tempo para ser entendido, bem digerido.

Omelete: Colo representa o desamparo a partir do desemprego. O quanto isso retrata a vida na Europa de hoje?

Teresa Villaverde: O trabalho aqui é a metáfora da ausência e também da desunião. A partir da realidade econômica, entendemos o peso dos colapsos financeiros sobre os afetos. 

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