Filmes

Entrevista

T2: Trainspotting | "Sempre quis voltar ao filme", diz Danny Boyle no Festival de Berlim

Filme dividiu opiniões em evento alemão

10.02.2017, às 15H32.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

De certa forma, filmar de novo com pessoas com que você trabalhou no início de sua carreira é uma forma de resgatar a sensação de trabalhar sem pretensão, de sentir que tudo é novo, de regressar às suas raízes, ao marco zero de si mesmo”. Estas foram as palavras que o diretor inglês Danny Boyle usou no 67º Festival de Berlim para explicar o prazer de poder retomar os personagens de Trainspotting (1996), maior cult de sua oscarizada carreira numa espécie de sequência, mais divertida do que o original, em exibição no evento alemão, onde rachou opiniões.

Um dos desafios que esta volta impôs envolvia o redesenho estético da trilha sonora, pois, como a música tornou o primeiro filme muito famoso, eu não poderia retomar as canções do original sem nenhum retrabalho, sem, no mínimo, uma nova mixagem, em especial em Lust For Life, do Iggy Pop, que ficou embelmática”, disse Boyle ao Omelete em Berlim, onde seu T2: Trainspotting entrou em sessões hors-concours. “No meio do processo, a gente descobriu uma banda nova, chamada Young Fathers, e gravamos coisas deles. Eu não sei se este filme é uma sequência ou se é uma visita àquelas pessoas e à Escócia que encontramos nos anos 1990. Mudou o som e mudou a voz, pois agora, o personagem Spud, vivido por Ewen Bremner, é uma espécie de narrador, não mais Renton, vivido por Ewan McGregor”.

Na Berlinale, para alguns, esta produção de US$ 18 milhões, lançada na Inglaterra há cerca de dez dias, é a comédia do ano, mesmo em seus momentos mais sombrios e violentos. Para outra ala da crítica – e mesmo do público europeu -, o cineasta pesou demais em sua linguagem clipada, esvaziando a discussão sobre vazio existencial, incorrendo numa narrativa repetitiva. A sessão de gala aqui é nesta sexta, mas a primeira projeção para a imprensa foi na quinta.   

Eu sempre quis voltar ao filme, mas sabe como é cinema independente... Nem sempre é fácil levantar um projeto. Mas, como há pouco tempo, o escritor Irvine Welsh, cuja literatura inspirou o primeiro longa-metragem, deu a ele uma continuação, chamada Pornô, buscamos um caminho de juntar a turma. Eu só não queria que se chamasse Trainspotting 2, para não parecer uma sequência oportunista. O T2 é uma diferença”, diz o cineasta de 60 anos, laureado com o Oscar por Quem Quer Ser um Milionário, em 2009.

Previsto inicialmente para estrear em solo nacional no dia 16 de fevereiro, mas adiado sem data certo, T2 começa com Renton tendo uma espécie de parada cardíaca numa esteira de academia. Seu coração dá tilte no momento em que seus colegas de juventude Spud (Ewen Bremner), Simon (Jonny Lee Miller) e o bandidão Franco (Robert Carlyle) estão afogados em fracasso. Sua primeira atitude é deixar sua vidinha em Amsterdã e voar para Edimburgo, onde será recebido por imigrantes eslavas, estranhando tudo à sua volta. Ele vai procurar cada um dos amigos e se mete com eles em uma série de confusões – de novo envolvendo drogas e dinheiro... dos outros. Tudo isso se passa ao som de QueenFrankie Goes to Hollywod e Iggy Pop, que embalam uma edição febril, de cortes ligeiros, onde nem sempre se entende com perfeição o que se passa. Mas se ri de tudo. E muito. “A maior diferença no cinema nestes 21 anos entre os dois filmes é que as câmeras ficaram menores”, brinca Boyle.

MAIS DA BERLINALE - Neste sábado, o festival germânico exibe mais um título de sua esquadra de 13 produções brasileiras: Pendular, de Julia Murat. Nele, um apartamento abriga, em espaços iguais, uma dançarina e um artista plástico, que vão estabelecer uma relação de paixão e descobertas artistas múltiplas no local. Até o momento, dois outros filmes nacionais apresentados causaram boa impressão: Vazante, de Daniela Thomas, pela força de sua fotografia, na recriação do Brasil escravocrata de 1821, e Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, pela atuação visceral de Maria Ribeiro e pela participação luminosa do cantor Jorge Mautner como ator, disparando frases dignas de anotação como “A calma sempre precede a tempestade”.

No domingo, está previsto um dos acontecimentos mais esperados da Berlinale: um debate com o presidente do júri do Urso de Ouro, o septuagenário cineasta holandês Paul Verhoeven, e sua companheira de corpo de jurados, a atriz americana Maggie Gyllenhaal. O tópico do colóquio é Coragem: Contra Todos os Desafios. O realizador de RoboCop – O Policial do Futuro (1987) vai falar dos tabus que desafiou ao longo de sua carreira, chegando até o festejado Elle, ganhador do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e cotado ao Oscar de melhor atriz (para Isabelle Huppert). Já Gyllenhaal vai falar de seu trabalho na franquia Batman, de Christopher Nolan, e de sua atuação no polêmico A Secretária, de 2002, no qual encarnava os fetiches de uma masoquista.   

Dos filmes em competição exibidos até agora na Berlinale, só o longa de abertura disse a que veio: Django, do francês Etienne Comar, revive (com brilho do elenco e com uma fotografia requintada) a trajetória do jazzista Django Reinhardt (1910-1953) contra os nazistas. Já a love story húngara On Body and Soul, da diretora Ildikó Enyedi, sobre uma mulher sisuda que desperta o amor de seu supervisor em um matadouro de bois, parece uma versão malfeita das comédias românticas com Meg Ryan - só  suja de sangue e tripas.

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