Filmes

Entrevista

Festival de Berlim | "Trump confundiu a palavra 'refugiado' com 'terrorista', e isso é um crime", diz Richard Gere

Ator falou sobre presidente americano durante coletiva do longa The Dinner

10.02.2017, às 12H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Mais disputada coletiva, mais estrelada e também a mais inflamada coletiva de imprensa do 67º Festival de Berlim até agora, a roda de entrevistas proposta pelo direção do evento com a equipe e o elenco do drama The Dinner, a única produção dos EUA em competição pelo Urso de Ouro em 2017, tornou-se uma plenária contra o presidente americano Donald Trump graças às combativas declarações do eterno galã Richard Gere, com a sabedoria de seus 67 anos.

Se Trump fosse convidado para o jantar retratado no filme, eu não estaria à mesa. Há hoje, em nosso país, uma cultura do medo. E o medo nos leva a fazer coisas horríveis. O que existe de mais criminoso hoje nos EUA é o fato de Trump ter confundido a palavra ‘refugiado’ com ‘terrorista’, o que é um delito”, expôs Gere, numa fala mansa, sempre elegante, ao lado dos colegas de cena Laura Linney e Steve Coogan.

Estruturado a partir de uma engenharia de roteiro sofisticada, no qual cada ato da ação dramática é estruturado como uma das etapas de um jantar de gala – aperitivo, prato principal, sobremesa, digestivo -, este drama do cineasta Oren Moverman (de O Mensageiro) retrata uma ceia entre dois irmãos e suas mulheres. Paul (Coogan) é um professor de História obcecado pela Batalha de Gettysburg (um pilar da Guerra Civil dos Estados Unidos) e Stan (Gere, em seu melhor desempenho em anos) ocupa um posto no Congresso, sendo interrompido por assessores todo o tempo. Os primeiros 20 minutos são de um humor rascante, pela implicância de Paul com o excesso de luxo do restaurante. Mas dali pra diante, entre flashbacks elucidativos do perfil de cada irmão, vemos uma batalha ética sobre responsabilidade envolvendo um crime contra uma sem teto. Para Overman, The Dinner seria “uma metáfora para o pecado original” e já, para Gere, o longa seria mais uma observação moral sobre nossa intolerância.     

Precisamos aprender a maneira certa de nos dirigirmos às outras pessoas para dizer o que é importante”, disse o ator de sucessos como Uma Linda Mulher (1990) para o Omelete. “Trabalhei algumas vezes com Oren e encontramos uma parceria na qual ele me dá espaço de construir personagens do meu jeito: não faço muitas escolhas prévias, eu apenas me abro ao máximo de informações e tento decidir pelas melhores. Aqui eu tentei criar um político que escapasse dos clichês, evitando retratá-lo como um mulherengo de visões superficiais”.  

O Brasil em Berlim

Entre as 13 produções brasileiras escaladas para Berlim este ano, a primeira a ganhar projeção em solo alemão foi a tocante Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky (Bicho de 7 Cabeças), um drama sobre balanços sentimentais que eleva a atriz, diretora e cronista Maria Ribeiro ao patamar das maiores intérpretes nacionais, com uma atuação a um só tempo delicada e brutal. Na pele de Rosa, uma aspirante a dramaturga obrigada a fazer bicos numa empresa de cerâmica para banheiros, às voltas com descobertas sobre sua mãe que abalam sua paz, Ribeiro trafega da perplexidade à acomodação das feridas sem jamais perder inquietude em seu olhar. À direção, Laís equilibra humor e dor em doses exatas de ambos, apoiada em roteiro com frases dignas de anotação, tipo “A calma sempre precede a tempestade”.

Este é o filme mais importante da minha vida”, disse Ribeiro, antes da sessão, filmando a subida de sua diretora ao palco. Ao fim da projeção, aplausos calorosos serviram de termômetro da boa acolhida europeia ao longa. 

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