"Há uma linha evolutiva no suspense, que vem de Hitchcock e passa por Brian De Palma em um esforço de descontrução do gênero, que é o que desejo fazer", disse o cineasta francês François Ozon ao 70º Festival de Cannes, ao explicar o ritmo febril e o tom de deboche do thriller de tintas eróticas L'Amant Double. Seu novo filme é um dos títulos mais esperados pelo mercado exibidor europeu e disputa a Palma de Ouro fazendo um tributo à tradição do suspense. Mesmo os antipatizantes do diretor de 8 Mulheres (2002) se renderam ao domínio que ele esbanja em relação às cartilhas da tensão.
"O cinema muda, ganha novas formas e novas abordagens, mas resiste", diz Ozon, que tem um filme anterior, Frantz (2016), chegando ao circuito brasileiro.
Em L'Amant Double, sua protagonista, Chloé (Marine Vacth), é funcionária de um museu que busca a ajuda de um psiquiatra para parar de somatizar (como dor de estômago) suas angústias. Suas primeiras sessões com o Dr. Paul (o belga Jérémie Renier, em impecável atuação) são ótimas até que ele se apaixona por ela. O amor é mútuo e rende um namoro feliz... até ela saber que ele tem um irmão gêmeo - ainda mais sedutor. Aí começa ima sequência de cenas de mistério com molho de Freud.
"Apesar de ter formato de suspese, esse filme nos narra uma historia de autodescoberta num ritmo que o público vai descobrindo quem é junto conosco. O que me interessa nessa mulher é a mitologia da ilusão, a dificuldade de lidar com o real", diz Ozon, campeão de bilheteria em solo francês, onde roda e lança um longa por ano. "Gosto muito de filmar. E tenho uma produção modesta em orçamento, o que me permite seguir filmando sempre num país onde há muita diversidade nas telas".
Nesta sexta (26), aos 45 minutos do segundo tempo da partida pela Palma de Ouro, Cannes recebe Joaquin Phoenix, protagonista do último dos 19 concorrentes à Palma de 2017: You Were Never Really Here, da diretora escocesa Lynne Ramsay. Domingo (28) serão conhecidos os vencedores do festival.
