Filmes

Entrevista

O Filho Eterno | "Essa é uma história de amor diferente, sob a ótica de pai e filho", diz Marcos Veras

Conhecido pela comédia, ator estrela drama que discute a Síndrome de Down

13.10.2016, às 17H14.

Formado pela escola do riso, tendo brilhado seja na web, em esquetes do Porta dos Fundos, seja na TV, como humorista fixo do programa Encontro com Fátima Bernardes, por quase quatro anos, Marcos Veras passou pelo rito de passagem do drama, na noite de terça, na Première Brasil do Festival do Rio, à frente do filme O Filho Eterno. Dirigido por Paulo Machline (de O Natimorto), sob a grife da RT Features (produtora brasileira de maior visibilidade hoje no exterior, graças a sucessos como A Bruxa e Frances Ha), o longa-metragem acompanha cerca de 13 anos na vida de um escritor iniciante e professor de literatura, Roberto (Veras, encarado, no boca a boca, como um forte candidato ao troféu Redentor). O foco nesse período é a sua relação com seu filho e sua luta para tolerar a Síndrome de Down do garoto, vivido por Pedro Vinicius. Sua base é o romance best-seller de Cristovão Tezza, traduzido para 20 idiomas e já celebrizado numa montagem teatral com Charles Fricks.

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Esta é uma história de amor diferente, contada sob a ótica de pai e filho, construída por mim a partir de uma leitura apaixonada, mas distanciada, do livro do Tezza, para que eu encontrasse a minha voz”, diz Veras. “Fazer este filme é um passo grande para mim não apenas por testar o drama, coisa que eu já havia feito no teatro e em filmes do início da carreira, mas pela complexidade envolvida em toda essa história e em toda a discussão acerca do nosso preconceito com o Down”.

Previsto para estrear em 1º de dezembro, com cerca de 200 cópias, O Filho Eterno é narrado por Roberto (Veras), mostrando sua evolução na paternidade, em paralelo a uma relojoaria que sempre frequenta, para ver seu pai, e em paralelo a cenas de arquivo de Copas do Mundo. Num ano de vigorosas atuações femininas, sobretudo a de Karine Teles em Fala Comigo, a mineira Débora Falabella se junta aos grandes trabalhos das mulheres em competição na Première no papel da jornalista Cláudia, casada com Roberto.

Fazer esse filme sob a ótica do afeto me fez ver o mundo com outros olhos, pois nele, tudo transpira amor”, diz Veras.  

Muitos espectadores chegaram cabisbaixos à sessão de O Filho Eterno não por má vontade com o projeto, mas sim como consequência do filme nacional anterior a ele, o documentário (até agora) mais polêmico da ala nacional em concurso no festival deste ano: Curumim, de Marcos Prado.

Cercado por um certo clima de “já ganhou”, apesar de toda a torcida fervorosa em torno de seus dois maiores rivaisDivinas Divas, de Leandra Leal, sobre travestis lendárias, e o stallônico A Luta do Século, de Sérgio Machado, sobre titãs do boxe nordestino – o novo longa doc do diretor de Estamira (2004) chegou precedido de resenhas calorosas obtidas no Festival de Berlim, lá em fevereiro. Com uma estrutura narrativa investigativa capaz de embaralhar certezas e dar nós no estômago, a produção registra o drama do surfista, chef e traficante brasileiro Marco Archer, fuzilado na Indonésia em janeiro de 2015, depois de mais de uma década preso por posse de drogas. Sua montagem tensa dribla o fato de já sabermos o destino final do personagem a partir de uma abordagem panorâmica de seu dia a dia no cárcere e de seu passado de glórias em asas deltas e em praias do mundo todo. Ao fazer do projeto um libelo contra a pena de morte, Prado tornou-se “a” aposta para o troféu Redentor de direção da seara de não-ficção. E com méritos.

Ainda na ala brasileira, só que na prateleira dos títulos hors-concours, fez barulho a sessão em homenagem aos 80 anos do diretor Domingos Oliveira, com a exibição do delicioso BR 716, pelo qual ele ganhou os Kikitos de melhor filme e direção no início de setembro, no Festival de Gramado. Baseado nas memórias amorosas do cineasta e dramaturgo em seus tempos mais borrachos de uísque, nos anos 1960, o longa põe Caio Blat como um alter egodele: um aspirante a escritor às voltas com muita farra num Brasil em tempos de ditadura. A projeção, na telona do Cine Odeon, no Centro do Rio, ainda revelou à Cidade Maravilhosa um talento para se ficar de olho: a espoleta Glauce Guima, premiada em solo gramadense com o troféu de melhor coadjuvante pela interpretação de uma desvairada amiga do personagem de Caio, conhecida por declamar versos em festas – nos piores momentos.   

Na ala estrangeira, os destaques do Festival do Rio 2016, até agora são o terror iraniano Sob as Sombras, de Babak Anvari, o drama americano Capitão Fantástico, com Viggo Mortensen, a história de ajuste de contas em família É Apenas o Fim do Mundo, do canadense Xavier Dolan, e a comédia inglesa Absolutely Fabulous: O Filme, de Mandie Fletcher, baseada na série de TV homônima. Entra nesta quarta, na seleta da maratona carioca, o aguardado Indignação, drama americano baseado na prosa de Philip Roth, sob a direção de James Schamus (roteirista e produtor-assinatura de Ang Lee): as sessões, hoje, são às 15h10 e 21h40 no Reserva Cultural Niterói. Cotado já para indicações aos prêmios que antecedem o Oscar, Schamus virá ao Brasil nesta sexta, para falar do longa com os brasileiros.

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