Filmes

Entrevista

"Filmar só faz sentido se você puder levar a ironia a sério", diz o diretor da premiada comédia The Square

Vencedor em Cannes, longa chega o Festival de San Sebástian

25.09.2017, às 15H02.

Ganhador da Palma de Ouro em Cannes, aprovado por um júri com Will Smith, Jessica Chastain e Pedro Almodóvar, The Square rompeu um tabu comum a festivais de cinema: em geral, nesses eventos, comédias não ganham prêmios. Essa vocação de desafiar a sisudez protocolar das mostras se faz presente novamente agora, na passagem do filme de Ruben Östlund pelo Festival de San Sebastián. A cidade espanhola gargalha pelos quatro cantos com o longa-metragem, centrado no mundo das artes e na liberdade de expressão.

"Filmar só faz sentido se você puder levar a ironia a sério", diz Östlund ao Omelete, que encarou mais de uma hora e meia de fila para conferir a projeção do longa em solo espanhol.

De um humor ferino, The Square tira seu título de uma instalação artística ficcional homônima, na Suécia, na qual artistas sublimam suas neuroses com as mais desvairadas performances. A que mais fez San Sebastián rir (e se assombrar) foi a de um "homem-gorila". Um sujeito musculoso, grita e pula feito um símio, até agredir um espectador. É um reflexo da desmesura artistica e da paranoia que hoje rege a Europa.

"Eu faço rir pra abrir um diálogo sobre o medo e sobre o quanto a gente se refugia no medo da diferença, fazendo uma arte alienada", disse Östlund, cujo filme beira três horas de duração (e também de diversão). "Reclamam que o meu filme é longo, mas ninguém chia de ver todas as temporadas de House of Cards de uma vez só".

Fora o sucesso que The Square fez em San Sebastián, houve espaço para um anime de Tóquio dividir opiniões. Tão rara quanto a vitória de comédias é a presença desse filão em festivais classe A como este. Porém o desenho japonês Fireworks, Should We See It From The Side Or The Bottom, de Akiyuki Shinbo e Nobuyuki Takeuchi, cavou un espaço pra si e ainda dividiu opiniões. A imprensa europeia rachou-se em discussões sobre essa animação, que é derivada de um telefilme live action de 1993, dirigido por Shunji Iwai. O original era sobre um par romântico improvável e uma situação amorosa mais improvável ainda. O mesmo se dá na trama animada, ambientada em uma cidade na qual fogos de artifício são lançados ao céu para celebrar os mínimos feitos do cotidiano, um guri que vive de limpar piscinas se apaixona por uma colega mais velha de sua escola. Ela não sabe disso, mas enxerga nele um amigo, com quem pode contar quando decide fugir de casa, por não concordar com o casamento de sua mãe com um novo homem. Na fuga, o garoto encontra um estranho artefato que, a cada contato com os rojões, permite que eles voltem no tempo. Teve gente chiando dos efeitos em 3D. Mas a direção de arte é um primor. E a trilha sonora ainda mais.

Na manhã do sábado (23), San Sebastián suspirou com La Douleur, cuja direção (meio frouxa) é de Emmanuel Finkiel. O que importa mais neste mergulho de tintas metalinguísticas na vida da cineasta e escritora Marguerite Duras (1914-1996), autora de O Amante, Índia Song e Nathalie Granger é a interpretação de Mélanie Thierry: digna de Oscar. Ela não vive exatamente Duras e sim um tipo de recriação autobiográfica que a própria Marguerite fez de si no livro homônimo. É um romance qual  retrata seu engajamento na Resistência Francesa, em 1944. O festival segue até dia 30, quando o júri presidido por John Malkovich anuncia os vencedores. 

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