Filmes

Entrevista

Logan | "Wolverine envelheceu e eu envelheci com ele", diz dublador nacional do personagem

Isaac Bardavid, que também fez a voz do Esqueleto, fala sobre o novo filme do mutante

06.02.2017, às 16H07.

Ao longo de 69 anos de uma carreira marcada por novelas de sucesso internacional como Escrava Isaura (1976) e até por sazonais participações em programas como Os Trapalhões, o niteroiense Isaac Bardavid passou por muitos papéis de destaque, mas nunca um que lhe garantisse uma fama (e até um séquito de fãs) similar à que seu trabalho como dublador de Wolverine lhe garantiu. Desde 1994, quando a Rede Globo lançou aqui a série animada dos X-Men, esse ator de 85 anos – experiente em canto lírico, como tenor dramático - virou a voz oficial do personagem no país, cujos graves podem ser ouvidos já na versão brasileira do trailer de Logan. Sua estreia está marcada para 2 de março, mas, antes, o filme de James Mangold ganha uma première, próximo dia 17, no 67º Festival de Berlim (9 a 19 de fevereiro), onde o mundo poderá ver Hugh Jackman numa versão mais grisalha do Carcaju.

Não sinto muito a transformação do personagem, porque sua essência não mudou: Wolverine segue sendo um amontoado de dúvidas, questionamentos, frustrações e perguntas não respondidas. Esse homem que me acompanha há 23 anos em bancadas de dublagem é alguém que nunca se encontrou, seja como mutante, seja como homem, e que, agora, em Logan, vai se humanizar”, diz Bardavid, que nos anos 1980 dublou o Esqueleto da série de desenhos animados He-Man e Os Mestres do Universo. “Cada personagem que eu fiz me ensinou algo sobre suas idiossincrasias, oferecendo um repertório a qual eu recorro sem esperar. Dublar me deu maneiras muito variadas de representar”.  

Na próxima segunda, Bardavid assopra sua 86ª velinha de aniversário, cercado de convites para palestras, tamanha é seu prestígio entre os fãs da dublagem. “Esqueleto me deu muita fama na época dele. Assim como, nos anos 1960, minha voz ficou bem famosa dublando o seriado Bonanza. Mas Wolverine, sem dúvida, representa o ápice da minha carreira, depois de 59 anos como dublador. Nunca fui tão reconhecido nas ruas e olha que as pessoas sequer olham pro rosto nesse trabalho. Isso me leva a crer que a dublagem talvez sirva para fazer lembrar dos atores mais do que qualquer arte. Veja no teatro... hoje quase não se fala em Raul Cortez, em Sergio Cardoso, em grandes nomes que ficaram mais famosos nos palcos. A dublagem mantém nossas atuações na memória das pessoas. Isso, pelo menos, até quando não chegam e redublam nossos filmes. Já vi trabalhos meus refeitos por outras vozes, o que é um crime contra a memória da arte”, diz Bardavid, que dublou Sir Alec Guinness na versão nacional de Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança.

Seu repertório de astros dublados inclui ainda Marlon Brando em Superman-O Filme (1978) e Anthony Hopkins em Amistad (1997). Mas seu trabalho mais desafiador foi num clássico de Alfred Hitchcok. “Fui escalado para dublar Laurence Olivier em Rebecca, a Mulher Inesquecível. Imagina dublar aquele que você considera o maior ator do mundo”, lembra o ator, que garante emoções em Logan. “Fiz este trabalho em apenas dois dias. Foi muito prazeroso, com uma sequência muito comovente na qual ele encontra sua humanidade”.  

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