Sensação no último Festival de Cannes, onde foi ovacionado por público e crítica em sua passagem pela Quinzena dos Realizadores, o drama Loucas de Alegria (La Pazza Gioia), previsto para estrear no Brasil no dia 1º de setembro, inaugurou nesta quinta-feira em todo o país um festival criado para realçar os laços entre nossas plateias e a obra recente da pátria de Fellini. Dirigido por Paolo Virzì (do sucesso Capital Humano), este "Thelma & Louise" à moda da Toscana é o abre-ala da 8 ½ Festa do Cinema Italiano, evento que promete mobilizar a cinefilia brasileira de 25 a 31 de agosto. A mostra ocupará telas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Florianópolis, em salas como as do Espaço Itaú.
“Somos um país que sempre teve muitos talentos filmando e inventando, mesmo sem ter uma indústria estabelecida como se vê nos EUA, o que torna ainda mais miraculoso vermos novas gerações renovando nosso cinema com filmes radicais”, diz Virzì ao Omelete, por telefone, num balanço do patrimônio audiovisual de seu país, que estará representado na Festa por sete longas inéditos.
O pacote de pérolas (todas zero km por aqui) inclui o thriller político As Confissões (Le confessioni), de Roberto Andò, o filme de super-herói Meu Nome é Jeeg Robot, de Gabriele Mainetti, e o filme de máfia As Consequências do Amor, finalizado em 2004 pelo oscarizado Paolo Sorrentino (A Grande Beleza) e nunca lançado em solo brasileiro. Mas, de todos os títulos, o longa de Virzì, sobre duas pacientes de um hospital para distúrbios psiquiátrico - a extravagante Beatrice (Valeria Bruna Tedeschi) e a introspectiva Donatella (Micaela Ramazzotti) - que travam uma forte amizade, é hoje o filme nº 1 da Itália em termos autorais e de conquista por respeitabilidade nos circuitos internacionais.
“Esta história serve, de certa forma, como metáfora para a loucura essencial da Itália, em relação às nossas crises de identidade e nossos conflitos políticos, vistos aqui pelo prisma da amizade”, explica Virzì, que neste momento filma nos EUA sua primeira produção em língua inglesa: a love story em tempo de madureza The Leisure Seeker, com Helen Mirren e Donald Sutherland. “Meus filmes buscam propor alguma forma de observação do tempo e, no caso de Loucas de Alegria, o aspecto a ser observado é o universo clínico, esse ambiente hospitalar. Ali temos um canteiro de humanidades muito distintas, que busca um equilíbrio e uma interação num contexto onde todos são definidos como doentes. A partir da energia da loucura, chegamos a pessoas que amam, que têm carências, que precisam de liberdade. De uma certa forma, O Estranho no Ninho, um clássico americano, com Jack Nicholson, sobre o sistema manicomial, foi uma referência importante para nós”.
Na trama de Loucas de Alegria, Beatrice e Donatella se embrenham numa espécie de aventura – que afasta o filme das veredas amargas ou melosas do drama e caminha para momentos divertidos e até tensos – para desfrutarem dos prazeres da vida fora da castração de médicos e enfermeiros. Ao se tornarem amigas, elas desenvolvem uma espécie de sanidade pelo afeto.
“Existia uma tentação quase natural de retratar uma burguesia entediada e sem muita perspectiva a partir da figura de Beatrice, que é uma mulher de maior poder aquisitivo, afeita a uma vida mais exuberante. Mas eu não cedi a essa vertente, optando mais pelo caminho da aventura. Não é um filme político. Não é um documentário. É uma história de amigas, com doçuras, com mágoas”, define Virzì.
Até seu encerramento, a 8 ½ Festa do Cinema Italiano exibirá ainda as produções: Paro Quando Quero (Smetto Quando Voglio), de Sydney Sibilia; Não Seja Mau (Non essere cattivo) de Claudio Caligari; Amor Eterno (La Corrispondenza) de Giuseppe Tornatore, cineasta cultuado nos anos 1990.
