Filmes

Entrevista

Mostra de SP | Premiado O Outro Lado da Esperança tem sua primeira exibição no Brasil

Comédia de Aki Kaurismäki sobre refugiados ganhou o prêmio de melhor direção em Berlim

22.10.2017, às 14H13.
Atualizada em 22.10.2017, ÀS 18H00

Sucesso de bilheteria na Europa, eleito o Melhor Filme do Ano em votação feita pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci), a comédia O Outro Lado da Esperança, do finlandês Aki Kaurismäki, chega ao Brasil este fim de semana na programação da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Com foco no exílio dos refugiados, o longa-metragem é o título estrangeiro mais esperado do cardápio do evento neste domingo, com sessão às 21h30, no Espaço Itaú Frei Caneca, tendo mais uma projeção no Playarte Splendor Paulista no dia 29, às 15h40. Dono de uma estética cartunesca, onde a direção de arte é carregada de cores, acentuando o tom caricato das encenações, Kaurismäki conquistou o prêmio de melhor direção no Festival de Berlim pela produção.

“Existem formas de abandono muito distintas neste mundo, mas todas nos levam à violência: é uma agressão a maneira como a Europa lida com os refugiados”, disse o cineasta ao Omelete na Berlinale.

Batizado internacionalmente como The Other Side of Hope, o filme aposta na ironia ao narrar a saga de Khaled (Sherwan Haji), o sírio que busca reencontrar sua irmã em uma Europa desatenta ao drama de quem buscou abrigo no Velho Mundo. Um finlandês trambiqueiro vai ajudar o rapaz. “A dignidade, no mundo de hoje, virou um gesto marginal, que cabe a quem está na periferia dos processos de poder”, afirmou Kaurismäki, que idealizou O Outro Lado da Esperança como parte de uma trilogia sobre a exclusão, cuja primeira parte foi O Porto, lançado por ele em 2011. “Amanhã, uma nação como a Finlândia pode mudar de situação e seu povo ter quer se refugiar. Aí vamos saber o que os refugiados passam. Não seria melhor antecipar esse problema?”, questiona.

Até o momento, o filme mais bem falado entre as atrações nacionais da Mostra é O Beijo no Asfalto, de Murilo Benício: uma releitura em P&B da peça homônima de Nelson Rodrigues (1912-1980) que marca a estreia do ator na direção. A exibição foi na sexta e houve uma avalanche de aplausos nos créditos finais, quando Fernanda Montenegro fala sobre o dramaturgo. No sábado, a surpresa brasileira da Mostra foi Saudade, um documentário de Paulo Caldas (Deserto Feliz) sobre a palavra do título, que só existe na língua portuguesa. O filme faz parte de um projeto híbrido que inclui ainda uma série para o canal Arte 1, esperada para 2018. Foram feitas quase 300 horas de entrevistas com cineastas, escritores, poetas, corógrafas, filósofos, cantoras, atores e fotógrafas sobre o sentimento de banzo, de ausência, de algo perdido.

“Minha montadora, a Vânia Debs, madrinha de todo o bom cinema pernambucano, levou dois anos editando o material, que poderia render um poema visual. Tínhamos três opções: 1) Faz uma linguagem poética, só com imagens; 2) Fazer um filme à moda de Eduardo Coutinho, só com entrevistas, como fazia o mestre; 3) Misturar os dois estilos. Optamos pela mistura”, disse Caldas ao Omelete.

Em Saudade, litros e litros de saliva são gastos em reflexões e digressões sobre o que é sentir falta de algo ou de alguém. Há depoimentos lúdicos tipo o do ator luso-africano Miguel Hurst, que faz poesia ao pensar sobre o verbete que só existe na Língua Portuguesa, ao citar o aroma de uma comida de sua infância: “O cheiro provoca algo tão vazio quanto as palavras que você não disse”. Bráulio Tavares, escritor, vai no mesmo pretérito de imperfeita perfeição: “Quem vive só para o presente é uma casa sem alicerces”. E o trovador Antonio Marinho crava: “Não ter saudade de nada é não ter nada na vida”.

Nesta segunda, a Mostra 41 vai conhecer o mais recente trabalho do baiano Edgard Navarro: Abaixo a Gravidade, que terá sessão nesta segunda na Mostra de São Paulo, às 21h20 no Cine Caixa Belas Artes. O realizador arrebanhou uma legião de fãs com o média-metragem SuperOutro (1989) e com o longa Eu Me Lembro (2005), aclamado no exterior. Na trama de seu filme inédito, o solitário Bené (Everaldo Pontes), que vive no campo há anos, é flechado pelo Cupido e resolve tentar a sorte na cidade grande. Mas o Cupido é um moleque traiçoeiro.

A Mostra vai até 1º novembro, quando recebe o cineasta francês Laurent Cantet para fechar sua seleção deste ano com A Trama.

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