Filmes

Entrevista

O Mestre dos Gênios | "O cinema gosta de me caracterizar como alguém esquisito", diz Colin Firth

Falamos com o ator sobre os desafios do papel

21.10.2016, às 09H07.
Atualizada em 27.10.2016, ÀS 19H02

Com peso de Oscar, ao unir medalhões como Colin FirthNicole Kidman Jude Law em uma trama sobre os meandros da Arte, o elenco de O Mestre dos Gênios (Genius) vem abrindo portas de grandes eventos internacionais, começando pelo Festival de Berlim, lá em fevereiro, para este drama baseado em fatos reais – já em cartaz no Brasil – que marca a estreia do diretor teatral e ator britânico Michael Grandage como realizador.

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Filmada na Inglaterra, com locações em Manchester e Liverpool, esta produção aposta num tipo mais elegante de herói: um herói literário, interpretado por Firth com base nos feitos folclóricos do editor de livros Max Perkins (1884-1947). Num cenário de arrogância intelectual no mercado editorial dos EUA, no qual as Letras eram um espelho das angústias financeiras dos americanos, Perkins foi o responsável por publicar mitos da prosa como Ernest Hemingway (de Adeus às Armas) e F. Scott Fitzgerald (de O Grande Gatsby), interpretados no filme por Dominic West Guy Pearce respectivamente. Seu maior dilema foi o escritor Thomas Wolfe (1900-1938), autor de O Menino Perdido, que encarnado por Law como uma besta raivosa.

O cinema gosta muito de me caracterizar como aquele tipo de gente esquisita que anda de terno para disfarçar sua estranheza, mas já me acostumei com esse papel”, brincou Firth, em resposta ao Omelete em Berlim, explicando a figura de Perkins no contexto autoral dos anos 1920 e 30. “O que existe de mais atraente neste projeto é a possibilidade de criar um herói que impôs sua marca nos bastidores: Perkins ajudou muita gente a colocar suas inquietações literárias de fora sem reivindicar uma centelha de reconhecimento por isso. Seu trabalho era editar bem. Mas hoje, na relativização histórica, a gente consegue descobrir a grandeza dele lendo gente como Fitzgerald”.  

Escrito pelo aclamado dramaturgo John Logan, roteirista dos dois últimos episódios da franquia 007 (Operação Skyfall Spectre) e do oscarizado Gladiador (2000), o longa se concentra no processo de construção de parceria profissional e de amizade entre Perkins e Wolfe, cuja excentricidade pode embotar a fluidez de sua prosa.

Esse papel exigia um cuidado grande com o sotaque, obrigando-me a filtrar as marcas inglesas no meu jeito de falar e buscar a coloquialidade de quem nasceu na Carolina do Norte, mas o desafio maior era dar verossimilhança à angústia de um artista que quer ser uma voz nova na literatura. Wolf quer encontrar uma prosa nova, viva”, disse Law.

Para Grandage, esta trama de O Mestre dos Gênios é um convite a uma reflexão sobre cumplicidade. “Editar livros é um processo de troca que exige generosidade de ambos os lados: de quem escreve e de quem corrige os originais”, diz o cineasta. “O que me importava mais aqui é ver o quanto ambos, Perkins e Wolfe, ganharam afetivamente na troca que tiveram”.

Firth diz que o filme ampliou sua relação com os romance de língua inglesa do início do século XX. “Durante a preparação para o filme, li muito sobre o método de trabalho de Perkins e fiquei surpreso com o cuidado dele em preservar o que de melhor havia no texto bruto de seus autores”, diz o ator. “Ele chegava ao cúmulo de preservar os erros de digitação dos escritores desde que esse erro criasse um efeito estético capaz de acrescentar algo ao resultado final de um romance ou conto”. 

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