Filmes

Entrevista

Polícia Federal | “Somos uma democracia jovem, precisamos aprender a debater”, diz Antonio Calloni

Elenco e equipe falam sobre filme da Lava Jato, que começa uma trilogia

06.09.2017, às 10H48.
Atualizada em 06.09.2017, ÀS 12H04

O noticiário político do Brasil é um dos mais movimentados dos últimos tempos e é natural que exista uma curiosidade sobre o que acontece nos bastidores, principalmente da operação Lava Jato, grande símbolo da luta contra a corrupção no Brasil. É com esse objetivo que chega aos cinemas Polícia Federal - A Lei é Para Todos, filme protagonizado por Antonio Calloni, Flávia Alessandra, Ary Fontoura, entre outros. Em entrevista ao Omelete, o diretor Marcelo Antunez revela que a ideia sobre um filme da operação veio do produtor Tomislav Blazic, que trabalhava em uma trama sobre o tráfico de drogas:

“No meio de 2015 o Marcelo Odebrecht foi preso e isso mexeu bastante com a cabeça do produtor, que teve a sacada de que seria interessante fazer um filme sobre esse assunto. Isso foi o que mais me atraiu para fazer o filme de uma história que não acabou: fazer sobre uma história viva”.

O longa conta a história da operação desde seu começo, até a condução coercitiva do ex-presidente Lula e o vazamento dos áudios dele com a então presidente, Dilma Rousseff. Porém, esse não era o corte inicial previsto para a história: “A ideia inicial do filme era ir até os empreiteiros, que era a coisa mais bombástica e inédita que tínhamos visto até então. Só que, quando começamos a conversar em março de 2016, aconteceu a condução coercitiva do ex-presidente Lula, mais pessoas envolvidas, liberação de áudio entre Lula e Dilma, enfim. Então nas próximas reuniões percebemos que não dava pra ficar com a história lá atrás, porque o público já está muito mais avançado. Ninguém vai querer saber de doleiro”, explica o diretor.

Em sua trama, que mistura fatos com elementos de ficção, o filme tem personagens que mesclam várias figuras reais. Esse é o caso de Ivan, interpretado por Antonio Calloni. Embora seja inspirado no delegado Igor de Palma, o personagem de Calloni tem uma postura mais comedida do que os colegas, questionando os passos e resultados da operação em todos os momentos:

“Acho fundamental ter um personagem assim no filme, para mostrar que o longa não quer mostrar uma verdade absoluta. Ao mesmo tempo em que ele é favorável para que as coisas aconteçam bem, ele é muito cauteloso e isso é fundamental em um filme como esse, para inclusive ele não ser maniqueísta e partidário, para um lado ou para outro. Acho que o filme tem essas nuances, esse desenho, que é atraente para o público”, diz o ator em entrevista ao Omelete.

Um dos pontos que chama a atenção na produção é o fato da operação não ter terminado e continuar com desdobramentos até os dias atuais. Flávia Alessandra, que interpreta a delegada Bia, revela que mudanças foram feitas durante as filmagens da produção:

“Tivemos algumas alterações no texto durante as filmagens, na medida em que dava para atualizar. Tínhamos um roteirista direto no set, então havia sim essa constante atualização diária, para tentar deixar o filme o mais atual possível, mas é claro que tinha um ponto final no roteiro”.

Bruce Gomlevsky, que faz o papel de Júlio César, revela que sentiu na pele essa questão com a morte de Teori Zavascki: “Lembro que tínhamos terminado uma filmagem, eu ouvi no rádio sobre a morte dele e liguei pro diretor na hora, porque tem uma fala no filme que meu personagem diz ‘isso aqui vai virar a operação Mãos Limpas, como na Itália? Daqui a pouco vão matar juiz’. Então é raro conseguir fazer um trabalho que está em consonância direta com a realidade, com o dia a dia do que está acontecendo”.

Recepção do público

Como não poderia ser diferente, um filme que trata de uma questão tão delicada também acaba envolvido em algumas polêmicas. Calloni revela que não teve receios prévios ao aceitar o papel, mas percebeu que a produção já chamava a atenção antes mesmo de ficar pronta:

“Ainda nas filmagens tinham pessoas que já detestavam o filme. Mas esse receio, ao invés de me travar, me estimulou ainda mais, porque o roteiro é maravilhoso, os personagens são ótimos e, além da qualidade artística, me estimulou o fato de o Brasil estar vivendo essa situação política. Isso me estimulou a continuar no projeto, com uma ideia de participar do debate artisticamente e como cidadão também, porque a coisa está em efervescência ainda. Isso pra mim foi fascinante”.

“Acho que todos nós já tínhamos certeza de que seria um filme polêmico e o que queremos trazer através disso é gerar discussão, pra gente conseguir conversar sobre política”, completa Alessandra.

Com orçamento aproximado de R$ 15 milhões (que conta com alguns apoiadores não revelados), o filme começa uma trilogia e o diretor Marcelo Antunez revela que já trabalha no roteiro da sequência. Para Calloni, a pré-estreia em Curitiba já é um indício do sucesso da produção, que deve estimular ainda mais a discussão política no país:

“Sabemos que artisticamente o filme é bom, e não tenho dúvida nenhuma de que no momento político que vivemos, ele vai contribuir para o debate. Somos uma democracia jovem e precisamos aprender a debater. Não importa se a gente não sabe fazer isso direito, o importante é que estamos debatendo e parabéns ao povo brasileiro, que está indo para as ruas, falando sobre política e querendo que as coisas melhorem”.

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