Filmes

Entrevista

Sandy Wexler | "Adam Sandler finge que não se leva a sério, talvez isso atraia o público, diz dublador

Alexandre Moreno fala sobre modo de atuação do comediante

20.04.2017, às 16H41.
Atualizada em 20.04.2017, ÀS 17H00

Humorista cativo da Netflix, onde anda emplacando um sucesso atrás do outro, a julgar pelo recém-lançado Sandy WexlerAdam Sandler passou 15 anos - de O Rei da Água (1998) a Gente Grande 2 (2013) - no topo do pódio dos comediantes mais rentáveis dos EUA. Faturava US$ 100 milhões por filme, até quando era avacalhado pelos críticos. Desde os primeiros blockbusters até seus dias de web, ele foi ganhando notoriedade em território brasileiro – onde, segundo estatísticas, seu longa-metragem mais elogiado, Como Se Fosse a Primeira Vez, de 2004, sempre é exibido em algum canal a cabo ou na TV Globo – com uma ajudinha extra: a voz de Alexandre Moreno, que também dubla Sandy Wexler.

Conhecido por emprestar o gogó ao Leão Alex de Madagascar e à doninha Bucky de A Era do Gelo, Moreno, um ator nascido em Nilópolis, no Rio de Janeiro, e na ativa desde 1990, já foi eleito várias vezes pela crítica o maior dublador de sua geração e um dos maiores de toda a história da dublagem no Brasil.     

Acho que o Adam Sandler finge que não se leva a sério e brinca de fazer cinema. Talvez esse ‘descompromisso’ atraia o público”, diz Moreno, que dublou Sandler até seus papéis dramáticos, como Reine Sobre Mim (2007), ou sua versão vampiro, vista na franquia animada Hotel Transilvânia. “Já dublei filmes dele em que ele atuava de forma mais elaborada. Talvez não seja seu melhor caminho como intérprete. Certamente, Sandler é merecedor do sucesso alcançado. Ele acreditou em si e se produziu. Sempre acho que o público se identifica ou não com o temperamento do ator que está por trás dos personagens. No caso de Sandler, que se coloca diante da câmera sem fazer personagens, fazendo uso de uma única persona, que, é... de certa forma... ele próprio, houve uma grande aceitação do público”.

Dirigido pelo ator e cineasta Steven Brill (de Totalmente Sem Rumo), Sandy Wexler confirma a visão de Moreno. Na produção da Netflix, Sandler faz um personagem bem parecido com o do diretor de A Rosa Púrpura do Cairo (1985): é um caçador de talentos e empresário desastrado de pouco sucesso. Tudo aqui se passa nos anos 1990, quando Wexler enxerga numa jovem aspirante a cantora (Jennifer Hudson) uma joia a ser lapidada. E, aos poucos, apesar de seu pouco prestígio, ele consegue dar a ela a visibilidade merecida, cavando um poço para si. Seus feitos são comentados por personalidades da mídia (todas elas amigas e parceiras de Sandler) como o diretor Judd Apatow, os atores Henry WinklerPauly Shore Chris Rock e o cantor Vanilla Ice. O que se destaca na atuação de Sandler na versão original é seu falar caricato, que Moreno tenta reproduzir à sua maneira. 

Eu dublo Sandler, como dublo qualquer outro ator: procuro entender ao máximo o ator, o personagem, o propósito do filme, o que está por trás de cada cena, etc; e me coloco neste contexto enquanto dublo”, explica Moreno, versão brasileira do Gato de Botas de Shrek. “Tento ser conduzido por essa percepção e procuro não fazer nada; meu objetivo é ser eu mesmo. Penso que a influência que sofro de tudo que observo e sinto, é suficiente para que cada trabalho de dublagem tenha uma identidade”.

Testada em projetos do já citado Woody Allen, tipo Poucas e Boas (1999), a aparência de mockumentary (falso documentário) de Sandy Wexler é uma forma de Sandler homenagear seu próprio agente, Sandy Wernick, que foi, entre muitas coisas, um dos consultores da série Alf, o Eteimoso. A estrutura narrativa desta comédia Netflix segue o padrão dos filmes mais famosos do comediante: o patético nele não se dá pela fraqueza ou pela fragilidade e sim pela brutalidade de suas explosões, aqui medidas em gargalhadas caricatas. É uma receita batida, mas que Sandler cozinha com uma competência sem par na indústria do riso dos EUA, temperando-a com um carisma único. Desde que foi para a Netflix, após o fracasso de Juntos e Misturados (2014), estrelando The Ridiculous 6 (2015), ele arrumou para si um cantinho confortável, que agora se estende à Croisette, em concurso pela Palma dourada. 

Este ano, o Festival de Cannes (17 a 28 de maio) concovocou uma produção Netflix, estrelada por ele, para concorrer. Encarada como dramédia familiar, The Meyerowitz Stories é dirigida pelo ótimo Noah Baumbach, que nos deu A Lula e a Baleia (2005) e Frances Ha (2012) e tem Dustin Hoffman Emma Thompson no elenco, deixando Sandler em boa companhia. Outra... além da de Moreno

Comecei a dublar em dezembro de 1990, quando fui contratado pela extinta Herbert Richers. Havia poucos estúdios de dublagem nessa época, em comparação ao quadro atual. Desde então, todos os atores que dublo, são, para mim, um desafio. Para mim é, acima de tudo, uma pesquisa”, diz Moreno. “Se consigo perceber um ator enquanto personagem, num determinado filme, para mim é sinal de que tenho em mim aquele personagem. Os atores mais desafiadores são os grandes atores. São os atores mais inteligentes. São os atores menos óbvios em suas escolhas na atuação. Dublei o Al Pacino na trilogia O Poderoso Chefão. Foi, talvez, o maior desafio que tive. Nada nele era óbvio. Às vezes era difícil perceber a linha de pensamento dele, as escolhas dele.  Independentemente do resultado da dublagem que alcancei, foi um grande estudo. Aprendi muito como ator.  O que mais me atrai na arte de dublar, é o desafio de se alcançar uma atuação verdadeira, num mundo tão técnico como a dublagem, no ritmo industrial cada vez mais acelerado que se estabeleceu nesta atividade. Dublar é um exercício para um ator. Um exercício único”.

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