Filmes

Entrevista

Sete Homens e Um Destino é o meu primeiro filme pipoca, diz Ethan Hawke

Ator é homenageado no Festival de San Sebástian

17.09.2016, às 11H25.
Atualizada em 17.09.2016, ÀS 11H36

Homenageado em San Sebastián com o Troféu Donostia, por seus 31 anos de serviços prestados ao cinema, como ator, diretor e cocriador da trilogia iniciada com Antes do Amanhecer, um simpaticíssimo Ethan Hawke botou este sexagenário festival espanhol no colo, esbanjando doçura ao conversar com crítica e público, em paralelo à projeção de Sete Homens e um Destino.

None

Com estreia no Brasil marcada para a próxima quinta, o remake do faroeste homônimo de 1960 foi ovacionado por aqui, onde desfruta de um acalanto mais caloroso do que sua azeda recepção no Festival de Toronto. Coube a Hawke o papel do pistoleiro Goodnight Robicheaux, um dos gatilhos a serviço de uma tropa de heróis montada pelo caubói Sam Chilsom (Denzel Washington) para ajudar aldeões oprimidos a debelar um sinhozinho mau (Peter Sarsgaard) do Velho Oeste.  

Este talvez seja o meu primeiro filme genuinamente pipoca, de grande alcance, o que me dá muita alegria, pois é bom sentir que estou num projeto capaz de levar prazer à muita gente, sem ter que abrir mão da qualidade artística para isso”, avalia Hawke, hoje com 45 agrisalhados anos, fazendo troça em San Sebastián com a atual corrida presidencial dos EUA. “O Sete Homens... original, dos anos 1960, era uma adaptação para os EUA do clássico japonês Os Sete Samurais, que tinha, em sua gênese, um olhar mítico parecido com a história de David e Golias. Ou seja, era o mito de pessoas fracas, pequenas, sem expressão bélica, que se unem, com fé, para derrotar o Mal. Ou seja, é uma história de amizade, de companheirismo. Duvido que Donald Trump vá entender assim se vir o nosso filme”. 

Para o ator, o maior mérito desta superprodução, que traz ainda Chris Pratt (de Guardiões da Galáxia) e Vincent D’Onofrio (o Rei do Crime da série Demolidor) é a quebra de paradigmas raciais no Oeste, tendo um negro, um oriental e um índio na equipe dos mocinhos. 

Num faroeste clássico, quando o Clint Eastwood entra em um saloon e se aproxima da mesa de um bar, você terá a certeza de que vai acontecer um tiroteio. Mas quando é Denzel Washington quem entra, de chapéu na cabeça e pistolas no coldre, você não tem a menor ideia do que esperar. Tudo é quebra de expectativa”, diz Hawke, que começou a atuar ainda menino, em 1985, em Viagem ao Mundo dos Sonhos. “Hoje estão pensando em refilmar esse longa, mas, na época, ele foi um desastre de público, que custou caríssimo para os valores dos anos 1980, consumindo cerca de US$ 30 milhões. Ninguém queria pagar ingresso para vê-lo. Mas aquela experiência me deu uma lição importante. No cinema, você precisa aprender a lidar com o fracasso para saber lidar bem com o sucesso. E, no cinema, por mais que você queria seguir fazendo filmes autorais, é importante valorizar uma produção mais comercial, de dignidade, que dê dinheiro. Nesse mercado, a liberdade se conquista com acertos de bilheteria”. 

Diante de uma multidão de repórteres afoitas por perguntas e selfies com o ator de Caninos Brancos (1991), Hawke rasgou elogios ao cinema da América Latina, com base em seu interesse por diretores locais. 

O cinema latino-americano tem dado ao mundo uma movimentação artística das mais sólidas, pois vocês aprenderam, na prática, uma velha máxima que o diretor Francis Ford Coppola defendia décadas atrás: ‘A arte cinematográfica tenderá, cada vez mais, a ser uma expressão artesanal de seus criadores, cada vez mais intimista e livre’. É bonito ver o que realizadores como Guillermo Del Toro, Alfonso Cuarón, com quem eu filmei Grandes Esperanças, e Alejandro González Iñárritu, estão fazendo nas telas”, elogiou Hawke, lembrando que conseguiu seu papel em Sete Homens e um Destino durante uma festa que promoveu para Denzel e o diretor Antoine Fuqua, seus parceiros em Dia de Treinamento (2001)pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante. “Era uma celebração pelo lançamento de O Protetor, que os dois fizeram juntos. Quando Fuqua me contou que refilmaria Sete Homens... com Denzel, eu perguntei ‘Quem seriam os outros seis?’ e ele... ‘Ainda não decidi nada’. Minha reação foi dizer: ‘Bom, se eu não for um dos seis, esta festa acaba agora’. E não é que ele embarcou na minha?”. 

Aproveitando o clima western de Sete Homens e um Destino e de seu próximo filme, o bangue-bangue In a Valley of Violence, de Ti West, Hawke aproveitou a coletiva para falar da HQ de faroeste indigenista que lançou este ano: Ideh: A Story of The Apache Wars. Com desenhos de Greg Ruth, a grapich novel saiu em julho nos EUA e já tornou-se um best-seller, narrando a luta de um jovem índio.

Eu adoraria fazer um filme sobre o Oeste na ótica dos índios, em que o pistoleiro branco fosse apenas um coadjuvante”, disse o ator, que tem ainda na seleta de San Sebastián o drama musical Born to Be Blue, no qual encarna o jazzista Chet Baker. “Eu fiz uns 50 filmes na vida, mas eu ainda me sinto surpreso com o que o cinema tem a me oferecer, talvez mais agora, em que passei dos 40, do que antes. Na juventude, queria que toda atuação fosse muito natural, parecida com meu jeito de ser. Hoje, eu quero é poder descobrir coisas. Até quando eu dirijo filmes, eu o faço para poder descobrir mais sobre a arte de atuar. Quando eu tinha 18 anos e estreou Sociedade dos Poetas Mortos, fui mandado para um evento no Japão, para divulgar aquele filme. Eu era um moleque sem nada a dizer que não fosse compartilhar com os outros a alegria de ter podido contracenar com Robin Williams. Hoje, eu vivi um pouquinho mais, tenho uma filha adolescente que está querendo ser atriz... ou seja, já tenho o que dizer. Mas tenho muito a aprender. Quem sabe se eu completar mais 30 anos de carreira, se viver até lá, eu chegue a algum lugar curioso na Arte”. 

Em sua seleção competitiva pelo troféu Concha de Ouro de 2016, San Sebastián viveu horas de tensão neste sábado com um thriller “da casa”, capaz de sintetizar o melhor do cinema de gênero espanhol: El Hombre de Las Mil Caras. Com direção de Alberto Rodríguez, o filme é uma aula de suspense e de política ao recriar a história real de um golpista, associado à venda de armas para grupos terroristas bascos, que, nos anos 1990, ajudou um importante oficial da Lei a disfarçar um desvio milionário de verbas. Dos 16 concorrentes escalados para desfilar pelas telas locais até o fecho do evento, no dia 24, o longa mais cercado de expectativas por parte da indústria mundial é o drama Pastoral Americana, que marca a estreia de Ewan McGregor, o jedi Obi Wan Kenobi dos Episódios I, II e III de Star Wars, como realizador. 

Nesta segunda, San Sebastián exibe, na seleção competitiva Horizontes Latinos, o longa brasileiro Era o Hotel Cambridgeda diretora paulista Eliane Caffé. A trama aborda o tema dos refugiados. Eles dividem que divide com um grupo de sem-teto uma ocupação no centro de São Paulo. No elenco estão Suely Franco e José Dumont. No dia 20 é a vez da produção luso-mineira A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha, sobre o reencontro de duas amigas em Belo Horizonte. 

Virá da França, no dia 24, o longa de encerramento do festival: L’Odyssée, um drama sobre o mais pop dos oceanógrafos: o documentarista Jacques-Yves Cousteau, que ganhou a Palma de Ouro de Cannes e o Oscar com seus filmes sobre o mar. 

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.