História de romances, amizade e descobertas (sexuais e existenciais) de uma juventude louca para se reinventar, Sobre Viagens e Amores (L’Estate Addosso), que chega ao circuito brasileiro no dia 4 de maio, com prés em São Paulo neste fim de semana, colocou o diretor italiano Gabriele Muccino de volta na indústria audiovisual de seu país após uma série de incursões em Hollywood. Inclua aí À Procura da Felicidade (2006), pelo qual Will Smith concorreu ao Oscar. Promissor em terras americanas à primeira vista, ele se envolveu por lá com projetos fracassados estrelados por Gerard Butler (Um Bom Partido) e Russell Crowe (Pais e Filhas). Voltar às raízes foi uma forma de provar da liberdade autoral de que desfrutava no início de sua carreira, quando despontou para o estrelato ao filmar Para Sempre na Minha Vida (1999) e O Último Beijo (2001).
“Aprendi muito em Hollywood, que está em constante em mutação para agradar seu público, mas no cinema italiano, eu experimento uma liberdade criativa única, que me permite filmar apenas o que eu quero, sem precisar de tomadas de apoio e cobertura”, diz Muccino em entrevista por telefone ao Omelete, no qual define Sobre Viagens e Amores como uma “cartografia de sentimentos”. “Em todo filme que faço, seja nos EUA ou na Europa, a crise afetiva ou social de um indivíduo é motor para a tomada de decisões cruciais”.
É assim que começa seu novo – e aclamado – longa-metragem, laureado no Festival de Veneza de 2016 com um prêmio para sua trilha sonora: já no início, Marco (Brando Pacitto) e Maria (Matilda Anna Ingrid Lutz), dois jovens adolescentes de Roma, resolvem viajar juntos, nas férias, para São Francisco, nos Estados Unidos. Lá, eles se hospedam com o casal gay Matt (Taylor Frey) e Paul (Joseph Haro), com quem viverão um verão inesquecível.
“Para alguém que gosta de retratar a gênese dos sentimentos mais íntimos, a falar de juventude é garantir para si um lugar onde não existe cinismo, onde se é ingênuo o suficiente para voar sem medo de bater com a cara na parede”, explica o cineasta, que escreve seus roteiros com o apoio de seus atores. “Tento observar ao máximo a forma como as pessoas encaram as sensações que elas precisam representar, entendendo como elas respiram, ficam em silêncio, falam. Daí posso adequar os diálogos. Aqui, eu tive a ajuda de um amigo homossexual para poder retratar a homoafetividade sem incorrer no rótulo de ‘filme gay’. Não gosto de rótulos nem de gavetas. Trago algo de melodrama para meus filmes, mas não quero que eles se resumam a esse gênero”.
No elenco hollywoodiano de Sobre Viagens e Amores não há astros de blockbusters, apenas o veterano da TV Scott Bakula, de Jornada nas Estrelas: Enterprise e Contra Tempos. “A melhor ajuda que Scott poderia ter dado a este filme foi dizer ‘Sim!’ ao meu convite, pois ele me deu a segurança que eu precisava”, diz o cineasta, que tem um novo longo para rodar na Itália. “Estou aberto a voltar a Hollywood quando houver um projeto bom para o qual precisem de mim. Hollywood é uma máquina de engrenagens complexas e sólidas, mas que está sempre se autorregenerando, sempre mudando. E há por lá uma insegurança que aparece sempre que o público rejeita uma fórmula consagrada. E isso gera fragilidade. Hoje, a TV, com todo o seu sucesso, fez o público dos filmes adultos migrar dos cinemas de arte para o Netflix ou a Amazon TV. Isso deixou Hollywood desconjuntada, resumida a superproduções, remakes, reboots. Antes do boom das séries, Hollywood sabia o que era. Hoje, não sabe mais. Mas ainda é um lugar fascinante”.
