Responsável por cifras astronômicas em sucessos como Stargate (1994), Independence Day (1996) e O Dia Depois de Amanhã (2004), o cineasta alemão Roland Emmerich faz da militância homoafetiva algo mais do que uma bandeira em Stonewall – Onde o Orgulho Começou, que estreia hoje (29) no Brasil: ele produziu uma radiografia histórica dos movimentos LGBTS. Artesão do filme-catástrofe e da ficção científica, acostumado a superproduções cheias de efeitos especiais como 2012 (2009), o diretor de 60 anos abriu mão dos orçamentos inflacionados e administrou uma verba estimada em US$ 13,5 milhões, em sets em Montreal, no Canadá.
Lá, ele reproduziu a Nova York de 1969, em meio aos protestos de gays e lésbicas, em Greenwich Village, após a invasão da polícia a um bar conhecido como um ponto de encontro homossexual. Essa história é revisitada a partir das descobertas afetivas e da reeducação política de um grupo de jovens, a começar por Danny Winters (papel do inglês Jeremy Irvine), que é vítima de homofobia na escola e em seu próprio lar. Lançado há um ano no TIFF – Festival de Toronto, o filme ficou pronto antes de o realizador concluir o fracassado Independence Day: O Ressurgimento, lançado em junho. Nesta entrevista, concedida ao Omelete por email, Emmerich faz um balanço da representação gay nas telas.
Omelete: O que os protestos de Stonewall simbolizaram para a sua geração e para a toda a luta dos movimentos LGBTS no mundo?
Roland Emmerich: Os protestos de Stonewall são um mito. Um mito sobre o qual todo mundo tinha alguma coisa para falar, mesmo sem ter certeza do que aconteceu lá. Eu sentia que alguém precisava retratar o que se passou ali, de fato, sem especulações, e fiz esse filme para isso.
Omelete: Como se deu, na prática, a reconstituição da América de 1969? Que referências visuais e históricas você utilizou para a construção da narrativa, na recriação daquele espírito de época?
Emmerich: Todos nós fizemos muita pesquisa, sobretudo as equipes de direção de arte e de figurino, e, tecnicamente, utilizamos lentes que emulassem o mesmo efeito visual da fotografia usada no cinema dos anos 1970. Em termos de dramaturgia, não busquei inspiração em outros filmes. Trabalhei apenas em cima dos fatos. A questão no meu cinema é contar histórias.
Omelete: Um dos maiores ícones do cinema LGBT foi um cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, realizador de cults como Querelle? Ele é uma referência para você, também germânico?
Emmerich: Sim, porque Fassbinder era uma espécie de herói nacional na Alemanha quando eu estava na escola de cinema e, por coincidência, ele morava pertinho de mim. Eu o vi, de pertinho, várias vezes, sempre que ia ao mercado, mas nunca falava com ele.
Omelete: Embora traga alguns rostos famosos, como Jeremy Irvine e Jonathan Rhys Meyers, seu elenco aposta em muitos atores pouco conhecidos, algo curioso para um cineasta acostumado a trabalhar com astros a granel. Como foi construir essa trupe?
Emmerich: Queria muito encontrar atores que se parecessem com os rapazes e moças que estavam nas ruas nos protestos de Stonewall, o que foi difícil. Mas conseguimos, por fim, encontrar alguém que encarnasse a natureza trans do segundo papel mais importante do filme [Ray, vivido por Jonny Beauchamp]. Já o Jeremy sempre foi a minha escolha para o papel principal. Fechar o restante do elenco foi um loooongo trabalho, mas não desistimos. Acho que fizemos as escolhas certas.
Omelete: Como você analisa o atual cinema LGBT feito na Europa e nos EUA?
Emmerich: Temos hoje uma cena muito vibrante, onde há cada vez mais filmes. É muito interessante ver que os filmes gays estão se tornando cada vez populares, deixando de ser um nicho.