Filmes

Entrevista

Trabalho Interno | “Cresci na Disney quando comecei a me valorizar”, diz primeiro brasileiro a dirigir curta

Leo Matsuda comanda animação que será lançada junto com Moana - Um Mar de Aventuras

05.01.2017, às 10H31.
Atualizada em 05.01.2017, ÀS 11H03

Com uma magia que atravessa gerações, a Disney é um lugar dos sonhos quando se fala em trabalhar com animação. E Leo Matsuda é o primeiro brasileiro a dirigir um curta no estúdio, o Trabalho Interno, que chega aos cinemas nacionais esta semana junto com as cópias de Moana - Um Mar de Aventuras.

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Nascido em São José dos Campos, ele se inspirou em aspectos de sua própria vida para contar a história de Paul, um simpático personagem que se divide entre agir com o coração ou com a razão.

“A ideia do curta veio do fato que eu sou descendente de japonês, então tenho um lado bem lógico, disciplinado, mas também tenho o meu lado brasileiro, que gosta de festa e carnaval. Então é uma dualidade dessas duas culturas”, explica Matsuda em entrevista ao Omelete durante viagem ao Brasil para o Anima Mundi.

Além dos sentimentos, a animação se destaca também por dar um visual bem-humorado e leve aos órgãos do corpo humano, como coração, pulmão, cérebro, etc.:

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Coração e pulmões animados em Trabalho Interno

“Nasci nos anos 80, uma época sem internet, então eu encontrava entretenimento nos livros. Um dos meus favoritos era a enciclopédia britânica, e no volume oito era sobre biologia. Lembro-me de abrir e ir direto para as páginas transparentes de acetato, que tinham os sistemas do corpo humano. Lembro de combinar o sistema circulatório, o sistema nervoso, o respiratório… para mim aquilo era fascinante, quando via como os órgãos trabalham juntos. Aquilo foi uma memória que sempre ficou embutida em mim, desde a infância, e consegui expor essa ideia através desse curta”, explica.

O tempo do filme também foi um fator desafiador para o trabalho de Matsuda, que revela que precisou cortar algumas partes para chegar ao tempo certo: “Esse é um dos fatores mais difíceis, porque realmente é um curta, então é um filme baseado em escolhas. Da história que eu queria contar, tive que diluir muita coisa para contar o que é essencial. É uma luta, como um pedaço grande de madeira que você diminuindo, diminuindo até ele ficar bem pequeno. É muito gratificante depois que você termina, mas é árduo, porque não existe uma resposta, não é como uma equação, que você chega a uma resposta. Você pode chegar ou não. Então é difícil”.

Trajetória na Disney

O caminho para chegar até a direção de um curta foi longo. Leo Matsuda entrou na Disney em 2008 e já trabalhou em filmes como Detona Ralph, Operação Big Hero e o recente Zootopia. Ele explica que o processo para entrar no estúdio foi tranquilo, mas seu crescimento melhorou muito quando percebeu o próprio talento:

“No começo, quando eu entrei, foi um processo que me intimidou muito. Porém, conforme fui crescendo como profissional, percebi que cresceu também meu respeito por mim mesmo. Muitas vezes eu achava que não era capaz de certas coisas, ou não tinha o talento, mas a partir do momento em que comecei a me entender, me valorizar e de onde eu vim, a minha origem, eu encontrei um nicho. Acho que isso é o importante: eu me tornei um profissional melhor na Disney a partir do momento em que comecei a me valorizar”.

Já a seleção para o novo curta foi interna, e Matsuda foi escolhido entre vários outros animadores que também apresentaram suas ideias: “O que é prazeroso nisso é conseguir fazer um projeto com a sua voz, mas que será distribuído pelo mundo inteiro. E isso foi algo que me inspirou muito, desde que eu comecei a fazer o pitch dessas ideias: conseguir, de certa forma, dividir a minha voz com o público”.

Para os brasileiros que sonham em trabalhar na Disney - ou em outro grande estúdio - o recado de Leo Matsuda é simples: equilibrar sonhos e realidade.

“No final do meu curta, o personagem não sai do trabalho, porque não seria uma coisa lógica de se fazer, mas ele mudou a situação no local onde ele estava e afetou também os outros funcionários. Acho que isso também pode ser traduzido para os jovens: você ter um sonho, uma meta, mas também ser uma pessoa com esse equilíbrio, porque as coisas não vão cair de mão beijada, é muito do seu esforço, da sua dedicação, do seu otimismo… de você ter essa esperança, por mais que a situação seja difícil”.

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