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Exclusivo! O Omelete no set de 300 - Primeira parte

Visitamos as filmagens da adaptação da graphic novel de Frank Miller no Canadá

20.01.2007, às 00H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 06H03

Os leitores mais atentos do Omelete devem ter se perguntado em algum momento de 2006: "cadê o artigo prometido em janeiro sobre a visita ao set de 300?"

Realmente, já faz algum tempo que estivemos no estúdio da aguardadíssima adaptação para as telonas da graphic novel de Frank Miller e Lynn Varley. Foi em dezembro de 2005 que visitamos a gelada Montreal, no Canadá (temperatura de -10° C enquanto estávamos por lá), mas a demora tem uma explicação. É comum no mercado cinematográfico a assinatura de contratos de divulgação, para que os veículos convidados respeitem as datas em que os estúdios preferem que os artigos sejam publicados. Do contrário, ansiosos como somos, teríamos publicado toda a extensa cobertura em 2005 mesmo, um ano e três meses antes da estréia do filme, algo que estragaria surpresas e adiantaria demais a expectativa pela produção.

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Duas versões do lobo aparecem no filme: Animatrônica e digital

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Zach Snyder, o diretor

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Piercings falsos e manipulação por computação gráfica para Rodrigo Santoro

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Snyder diante da parede de corpos

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Dois meses para produzir espadas, lanças e escudos

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Gerard Butler como o Rei Leônidas

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Esparta e seu terreno são quase totalmente digitais

Pois finalmente chegou a hora de começarmos a contar para vocês tudo o que vimos por lá! As forças de invasão persas se aproximam e já é possível sentir o tremor provocado por centenas de milhares de homens marchando. A batalha entre esse exército do oriente e os trezentos bravos que se dispuseram a defender a liberdade acontecerá em 16 de março (EUA) e 30 de março por aqui.

A história e a técnica para levar os quadrinhos às telonas você deve estar mais careca de saber que o Rodrigo Santoro como Xerxes, mas vale uma breve recapitulação:

Em 480 a.C. uma fenomenal força de ataque vinda da Pérsia - com centenas de milhares de invasores - entrou na Grécia pelo norte e chegou até a Fócida, no extremo oeste da Grécia Central. Leônidas, um dos dois reis espartanos, posicionou uma pequena fração de seu exército, com aproximadamente 4 mil soldados, nas Termópilas, um estreito desfiladeiro próximo ao mar. Dessa forma, conseguiu bloquear a passagem dos invasores enquanto as outras cidades gregas eram avisadas por mensageiros. Como o código de honra dos homens de Esparta repudia a derrota ou a rendição, Leônidas decidiu resistir até o final, juntamente com sua guarda de elite, os 300. O resultado foi uma das mais heróicas batalhas da história. A produção foi totalmente rodada em estúdio, numa técnica parecida com a que levou outra obra de Miller às telas, Sin City (2005), cuidadosamente recriando elementos visuais e narrativos do material original no cinema.

Dois dias em Montreal

Visitas a sets de filmagens podem ser incrivelmente maçantes. Ver uma cena sendo rodada então, costuma render horas de espera e inúmeras repetições de algo que, aos nossos olhos destreinados, pode ter parecido perfeito da primeira vez. Assim, nunca há como saber como será uma visita dessas - depende demais do que está sendo filmado, das pessoas envolvidas e até mesmo do volume de informação que eles pretendem divulgar.

Em dezembro de 2005, nada sobre 300 ainda tinha sido mostrado ao público, nem uma foto sequer, e o primeiro trailer ainda estava meses distante. Só podíamos torcer e confiar no bom trabalho que o diretor Zack Snyder havia realizado um ano antes em Madrugada dos mortos, decente remake do clássico romerista Despertar dos mortos.

Assim, quando cruzamos os portões do estúdio Ice Storm (a tempestade de gelo que batiza as instações era quase literal, dado o clima) - no dia 41 de filmagens de um jornada de 60 -, tivemos um verdadeiro choque. Logo no corredor principal passava um Imortal - um dos guerreiros de elite de Xerxes. E a figura sombria parecia recortada diretamente dos quadrinhos! Até as unhas do pé da criatura tinham aqueles ângulos distintos do traço de Miller, com direito a pequenas fendas irregulares e verrugas, coisas que o quadrinhista gosta tanto de desenhar! O início era promissor.

Conforme caminhamos pelo corredor e subimos até a sala de reuniões, oficinas diversas de trabalho eram deixadas para trás. Mais tarde entraríamos em todas (lembra da discussão sobre "o volume de informação que eles pretendem divulgar"? aqui era TUDO liberado), mas a própria salinha onde seriam conduzidas as entrevistas reservava surpresas para nós. Na parede, quadros comparativos entre os quadrinhos, stoyboards, cena no set e cena tratada, já com fundo digital. A semelhança entre o passo um e o último era assombrosa.

Objetos de cena - "A sala das armas"

Casacos guardados (cada um dos presentes ali ocupava aproximadamente o dobro de espaço que o normal graças às camadas de aquecimento), fomos para a primeira parada da extensa visita: a sala de objetos de cena.

Conhecida como "A sala das armas" pelos integrantes da equipe, o local reunia basicamente espadas, escudos, lanças e outros objetos de batalha. A responsável pela seção explicou que para cada momento do filme há um tipo de arma: novas, usadas e já detonadas (com flechas espetadas, dentes e faltando lascas). Tudo, claro, igualzinho à história em quadrinhos. Foram mais de dois meses para construir tudo aquilo - 250 lanças, 125 escudos e 75 espadas -, sendo que elas seriam mais tarde duplicadas por computação gráfica. Mas a profissional também revelou dois truques: algumas das peças que aparecerão ao fundo nas cenas foram reaproveitadas de filmes como Tróia e Alexandre. Já algumas das que foram criadas para o filme são ligeiramente menores do que deveriam ser, para fazer que seus portadores pareçam maiores e mais ameaçadores.

Treinamento espartano

A próxima parada na visita foi a academia. Todo mundo já ouviu falar em "treinamento espartano", termo que remonta às duras e quase inumanas práticas desses soldados da antiguidade, mas confesso que, acostumado com os confortos das academias modernas, nunca tinha efetivamente visto um.

Pois é exatamente o que Mark Dwight, preparador físico e alpinista profissional, preparou para os atores e dublês. Por conta das vestes (ou ausência delas) dos espartanos, todos precisavam estar com os corpos em forma. Mas Dwight não é um "personal trainer" padrão. "De certa forma sou responsável pelo figurino", brinca. De estatura mediana, vestindo um moletom, o sujeito parecia que tinha pedras sobre os ombros. 300 foi seu primeiro trabalho em Hollywood. Ele está acostumado mesmo é a treinar lutadores de vale-tudo e forças de elite do exército estadunidense (informação que levamos um bom tempo para conseguir arrancar dele). Outra de suas ocupações principais é deixar pessoas aptas a escalar os Andes!

Dwight é um "nerd do físico". Deixou claro seu desprezo por "músculos inúteis", os decorativos, conseguidos em academia. "Eles dão estética, mas não força", explicou. Assim, não havia um aparelho sequer no local. Em seu lugar, pneus de caminhão, bolas de ferro, troncos, cordas e bancos. "Quis montar um treinamento como deve ter sido o dos guerreiros espartanos", continuou. Imagine só: para criar laços de amizade entre o elenco e dublês, o treinador - que exigiu que os egos ficassem fora daquela sala - dividiu as pessoas em grupos. Cada grupo executava uma ação (por exemplo, puxar um tronco amarrado ao corpo) enquanto o outro pulava num banco, descia do banco, erguia uma bola de aço e repetia todo o movimento. Enquanto todos os troncos não chegarem ao outro lado da sala, ninguém podia parar as repetições. Ou seja, cada um ali depende de si mesmo e dos outros durante o treinamento. "Tivemos muitos vômitos e sofrimento nas primeiras semanas", contou com certo prazer sádico Dwight.

"Começamos dois meses antes do início das filmagens e ficamos apenas treinando. Os dublês ou fizeram condicionamento físico conosco, ou praticaram coreografias de luta e treinamento por até seis horas diárias. Algumas pessoas do elenco tiveram um desenvolvimento surpreendente", continuou.

O resultado do treinamento foram corpos fortes e rígidos, mas sem os "tanquinhos" típicos de esforço concentrado de grupos específicos de músculos. O único que tinha outro treinador, especificamente para a parte estética, era Gerard Butler, o Rei Leônidas. "Por interpretar o Rei, ele sentiu que precisava de algo a mais, algo que me recuso a fazer por crenças pessoais", concluiu Dwight. E quem somos nós para discordar?

Efeitos especiais: A sala das criaturas

A continuação da visita levou-nos a outra sala curiosa, o local onde são criadas e armazenadas as criaturas, animais e cadáveres - enfim, todos os bonecos da superprodução.

Mark Rappaport, o supervisor de efeitos de criaturas que trabalhou também em As crônicas de Nárnia (2005), estava lá para nos mostrar o lugar. Como as maiores criaturas serão fruto da computação gráfica, tudo o que estava ali não era assim tão imponente. Mas duas coisas chamavam imediatamente a atenção em meio à barulheira dos aerógrafos e serras em atividade.

O lobo selvagem que Leônidas enfrenta ainda criança estava logo ao lado da porta. Animatrônico, ele é capaz de vários movimentos de cabeça, como morder e mostrar os dentes, tudo com a ajuda de cinco pessoas simultaneamente - uma só para a língua, "a mais articulada que já fiz na vida", comentou com orgulho Rappaport. Pudemos até "acariciar" o lupino, de pêlo grosso, olhos injetados de sangue e flocos de neve grudados à pele. Assustador. Outro boneco interessante era uma cabeça de bode, que foi empregada numa cena de orgia dentro da tenda de Xerxes. Um figurante veste aquela cabeça e fica lá parado, enquanto os animadores manipulam as feições. Nesse, preferimos não passar a mão.

Curioso também foi ver alguns dos rostos que estavam ali trabalhando, como carpinteiros e pintores, espelhados em cadáveres empalados ou rasgados ao meio. É que algum tipo de modelo é necessário para dar realismo aos bonecos... e quem está por perto é que "sofre".

Completavam o enorme depósito realistas cavalos de borracha - para serem arremessados e mortos em cena - e alguns pedaços de monstros para serem usados pelo pessoal da maquiagem, nossa próxima parada.

Sala de maquiagem

Foi longa a visita à sala de maquiagem. As paredes forradas de desenhos de criaturas não escondiam uma supresa sequer do filme - incluindo o corcunda Ephialtes, o überimortal e Xerxes. Vasculhamos cada centímetro do local, até atrapalhando um pouco quem tentava trabalhar, e conversamos com o supervisor de maquiagem Shaun Smith (também de Narnia e Madrugada dos mortos) e o chefe do departamento, Scott Wheeler (várias séries e filmes de Jornada nas Estrelas), que comanda uma equipe de vinte pessoas.

Os desenhos de Ephialtes, como tudo relacionado à produção, eram fielmente adaptados dos quadrinhos, incluindo um olho falso que terá interações de computação gráfica (semelhante ao Olho-Tonto Moody de Harry Potter). O britânico Andrew Tiernan (O pianista, 2002) passava por torturantes cinco horas na cadeira dos maquiadores - o que significa que ele acordava horas antes de seus colegas de elenco - para ser transformado no personagem, peça-chave da trama.

Xerxes, o Deus-Imperador Persa, também pareceu imponente. Questionamos Wheeler sobre como ele pretendia transformar o brasileiro Rodrigo Santoro - que até então não havia aparecido no set - na figura lendária. O profissional informou que a transformação era relativamente simples, apesar de trabalhosa: maquiagem de corpo inteiro, para deixar a pele do ator dourada; 33 piercings falsos colados em pele de látex; e, é claro, a careca. Na época não fomos informados que ele seria manipulado digitalmente para parecer um gigante, ou que sua voz seria igualmente trabalhada, como vimos na prévia conferida em dezembro passado.

Outros dois personagens interessantes foram o gigantesco Überimortal (Robert Maillet) e o Executor Persa. Os dois não existem nas histórias em quadrinhos e são criações do diretor para dar mais dramaticidade à trama. O campeão dos imortais enfrentará Leônidas no mano-a-mano, enquanto o Executor - que tem lâminas no lugar de braços - cortará algumas cabeças. O primeiro é um gigante deformado de presas salientes e, curiosamente, foi desenhado pelo tatuador de Snyder.

Outro cantinho bacana da oficina foi a "sala das cicatrizes", em que centenas de rasgos de látex, imitando carne, estavam pendurados e numerados para aplicação em espartanos e persas. "Cada maquiador cuida de dois ou três personagens, então ele precisa conhecer cada cicatriz e saber onde ela é aplicada", explicou Smith.

"Nós usamos o tempo todo o livro para buscar referências, exceto nas criaturas inéditas, que só existem no filme", concluiu.

FIM DA PARTE 1 - Parte 2 em 29/1

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