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Fábio Gouveia, biografado em Fábio Fabuloso (2004), é tido como o melhor surfista brasileiro de todos os tempos, aquele que abriu a porta dos torneios internacionais aos demais, na virada dos anos 80 aos 90. Mas a competitividade implícita nessa afirmação está longe de ser a marca do paraibano.
Gouveia ficou famoso pela persistência com que aprendeu a surfar nas marolas mais desconjuntadas do Nordeste, mas também pelo desapego ao dispensar longas viagens para ficar ao lado dos pais. Tornou-se amigo dos rivais, sempre bem humorado, espécie de chaveirinho do circuito. E as imagens em que Gouveia surfa com os três filhos na África do Sul são tão preciosas no filme quanto aquelas em que sobe ao pódio.
Nos seus sessenta e poucos minutos de duração, Fábio Fabuloso cumpre a cartilha do documentarismo: faz uma competente contextualização histórica, pesquisa um vasto arquivo pessoal de imagens, entrevista autoridades do surfe de perfis diversos. Mas é por reproduzir muito bem a personalidade sossegada de Gouveia que o filme dirigido por Pedro César, Ricardo Bocão e Antonio Ricardo cativa o público.
Escolhido pela audiência do Festival do Rio como o melhor na sua categoria, o documentário parece mais uma informal celebração entre amigos. Deixa de lado a investigação, a argumentação, e procura ser mais leve, caseiro até. O tom de fábula e as animações que lembram o cordel ajudam a reforçar essa despretensão. O baião eletrônico e o repente da trilha sonora se encaixam muito bem na atmosfera folclórica. É um filme "da gota serena", como diz o narrador com o seu jeito meio João Grilo.
Esse estilo regionalista se apresenta oportuno. Mas cria-se um paradoxo - coisa aparentemente boba - quando os termos em inglês contaminam a narrativa. Flat, backdrop, swell... Parece um tanto hipócrita os realizadores se preocuparem em explicar os pormenores do léxico nordestino quando esse vocabulário técnico do surfe continua incompreensível para os leigos. Mas, de novo, Gouveia resolve a questão. No momento mais engraçado do filme, é chamado a dizer algumas palavras no pódio gringo. E solta uma embromation hilária, cheia de tenkiús e loviús. Fica tudo apaziguado. Se não fosse Fábio o fabuloso retratado, a linguagem do filme perderia todo o sentido.
Autor: Pedro Cezar, Ricardo Bocão e Antonio Ricardo
Ano: 2004
País: Brasil
Classificação: LIVRE
Duração: 60 min
Elenco: Abraham Sofaer