For your consideration (2006), dirigido por Christopher Guest, especialista em mockumentaries (falsos documentários), esculhamba diversos dogmas de Hollywood. A comédia utiliza o humor para mostrar como funciona a relação do Oscar com os profissionais da sétima arte.
Infelizmente Guest não consegue aqui o resultado de suas produções anteriores. O roteiro escrito por ele e o ator Eugene Levy (o pai do personagem Jim em American Pie) tem ótimas idéias, mas péssima execução. Um claro caso de material interessante desperdiçado.
A trama acompanha Callie (Parker Posey), Marilyn (Catherine OHara) e Victor (Harry Shearer). Eles são atores em Hollywood de um filme independente de baixo orçamento, cujo roteiro é um drama que se passa na década de 1940, no sul dos Estados Unidos. Para eles, o Oscar é alma do cinema. Portanto, quando Marilyn fica sabendo pela internet sobre a sua possível indicação para o prêmio de melhor atriz, uma grande agitação toma conta da sua vida. A febre do Oscar logo atinge também Callie e Victor, que começam a brigar pela indicação. Uma confusão contamina a excêntrica equipe do pequeno filme e logo surgem oportunistas e aproveitadores.
A sátira é baseada em fatos reais, mas vale dizer que é muita mais uma inspiração sustentada nos costumeiros chavões que circulam Hollywood. São cenas envolvendo um agente incompetente (Eugene Levy), um maquiador homossexual (Ed Begley, Jr.), roteiristas (Michael McKean e Bob Balaban) tendo seu texto desrespeitado pelo diretor, uma produtora (Jennifer Coolidge) que não entende sobre cinema, atores envelhecidos (OHara e Shearer) sentindo-se acabados, executivos (Ricky Gervais e Larry Miller) que mandam nos filmes, entre outros clichês. Não funciona, pois Guest estereotipa demais seus personagens. Ele não consegue equilibrar o real com a caricatura. O humor fica restrito na constante humilhação das figuras dramáticas.
O Oscar recebeu sua dose de crítica. O cobiçado prêmio é analisado como a salvação para carreiras estagnadas. Mas muitos se esquecem da maldição do evento. Vários vencedores tiveram suas carreiras destruídas justamente por terem vencido a estatueta. Esse paradigma passa despercebido durante a narrativa.
Os famosos programas televisivos sobre cinema também não escaparam. A primeira vítima são aqueles comandados por um típico casal (Fred Willard e Jane Lynch), remetendo aos exibidos no canal de TV E! Entertainment. O outro tem dois críticos (Don Lake e Michael Hitchcock) discutindo sobre o filme da semana. A sátira não funciona, pois em ambos os casos parecem pessoas saídas de alguma clínica para doentes mentais.
Essas escolhas exageradas não combinam com o tom de denuncia da narrativa. A produção sofre de esquizofrenia, pois ao mesmo tempo em que lembra uma comédia estrelada pelo humorista Pee-wee Herman, tem uma aura de filme independente saído do Festival Sundance.
Outras produções flertaram com esse tema com resultados bem mais interessantes. A única reflexão que o cineasta Christopher Guest consegue provocar ao final da projeção é sobre a escolha do elenco. Profeticamente, todos são atores que não conseguiram se firmar dentro da constelação hollywoodiana. Estrelaram raros sucessos, na qual foram coadjuvantes. Talvez um Oscar pudesse tirá-los do limbo que se encontram. Mas com certeza não será com esse filme.