Filmes sobre planos geniais são complicados porque precisam ser, essencialmente, tão geniais quanto a artimanha que move a sua trama. O roteiro passa a ser uma estratégia em torno de um objetivo, seja um assalto, uma fuga ou um elaborado trambique, e seu sucesso depende do encaixe perfeito de personagens, situações e cenários. Qualquer atrito entre as peças e o que deveria ser engenhoso passa a ser apenas conveniente.
É o caso de Logan Lucky - Roubo em Família, o novo filme da produtiva “aposentadoria” de Steven Soderbergh. Todos os elementos para um plano genial estão lá, mas o mecanismo que movimenta a história não é nem de longe tão esperto quanto pretende ser. Ao mesmo tempo, se não deixa sua marca no gênero de filmes de assalto, o longa escrito sob o pseudônimo Rebecca Blunt, que possivelmente pertence a Jules Asner, esposa de Soderbergh, tem bons momentos com seus personagens caricatos e referências da cultura pop (incluindo uma ótima piada sobre George R. R. Martin/ Game of Thrones).
Cada cena serve para explorar um eixo “redneck” de intelectos acima da média, transformando em piada o seu pitoresco jeito de falar e a facilidade com que transitam entre a ignorância e a perspicácia. Assim, mesmo sem instrução formal ou experiência no mundo do crime, cada um dos Logan - Jimmy (Channing Tatum), a ex promessa do futebol americano, Clyde (Adam Driver), o bartender de um braço só, e Mellie (Riley Keough), a cabeleireira que ama carros - possui os talentos necessários para executar um intrincado plano perfeito de roubar um autódromo durante uma corrida, o que inclui também a fuga do especialista em cofres Joe Bang (Daniel Craig) da prisão.
O roteiro não se preocupa em fundamentar as habilidades dos seus personagens ou suas motivações - Jimmy é um pai desempregado, depois um mestre do crime, sem que uma ponte tenha sido criada essas facetas. Nem mesmo a maldição que dá título ao filme - a sorte (lucky) dos Logan é uma ironia para o azar que persegue a família - merece mais do que algumas linhas de diálogo, apenas o necessário para criar a amarra final da história. A utilidade escancarada de todos esses elementos só é atenuada pela qualidade das atuações. O elenco, sem exceções, aproveita cada momento exagerado, cada fala engraçadinha, para dar vida ao filme.
Logan Lucky - Roubo em Família não é genial, mas é divertido. Do tipo que preenche uma tarde vazia em uma brincadeira que só parece elaborada, mas não exige esforço, algo que Soderbergh sabe fazer muito bem. Como o próprio filme diz em certo momento, esse é o seu Ocean's 7-Eleven (algo como 11 Homens e um Segredo do Mercadinho).
Ano: 2017
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 119 min
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Rebecca Blunt
Elenco: Channing Tatum, Adam Driver, Riley Keough, Daniel Craig, Hilary Swank, Seth MacFarlane, Katie Holmes, Katherine Waterston, Sebastian Stan, Dwight Yoakam, Brian Gleeson, Jack Quaid, David Denman, Jim O'Heir, DJ Qualls, Macon Blair, Charles Halford, Ito Aghayere, William Mark McCullough, Edward Gelhaus, Farrah Mackenzie, Alex Ross, Tom Archdeacon, Lauren Revard, Sutton Johnston, Boden Johnston, Jimmy Kustes, Katherine Waterston, Hilary Swank, Dwight Yoakam, Sebastian Stan, Farrah Mackenzie, Jack Quaid, David Denman, Jim O'Heir, Jesco White, Macon Blair, Jeff Gordon, Carl Edwards, Kyle Busch, Brad Keselowski, Joey Logano, Kyle Larson, Ryan Blaney, Boden Johnston, Ann Mahoney, Jon Eyez, LeAnn Rimes, LA Winters