Dono de uma legião de fãs que sabem de cor canções como "Bandolins" e "Lua e Flor", o cantor e encenador teatral Oswaldo Montenegro vai acrescentar mais um feito à sua trajetória pelo audiovisual – iniciada em 2008, quando transformou em filme a peça Léo e Bia, e emendou a direção de mais dois longas-metragens: em janeiro, ele lança sua primeira minissérie para a TV. Chamada De Sonhos e Segredos, a produção foi idealizada para o Canal Brasil em 13 episódios de 25 minutos, juntando elementos documentais, música e metalinguagem.
No projeto, o menestrel reuniu seis atores (Kamila Pistori, Leonardo Brício, Paula Ferrari, Verônica Bonfim, Jordana Paulista e Pedro Gracindo) e uma psicóloga real (Joana Amaral) na história de uma terapia de grupo, que se estende por quatro meses de desabafos, conflitos e amizades. O Omelete teve acesso a oito episódios e pode conferir a mistura de humor e drama buscada pelo músico e cineasta a partir de uma série de exercícios no qual faz uma psicanálise real de figuras ficcionais, entre elas uma gótica viciada em sexo, um artista plástico sem travas na língua e uma dançarina que sente dores fortes da perna ao subir no palco.
“Há tempos, eu uso o método de interação com o elenco que emprego aqui como um exercício para que os atores fiquem mais tempo nos personagens”, explica Montenegro, que aparece em cena várias vezes, desmontando as encenações e compartilhando das sensações experimentadas por sua trupe. “Eu precisava, aqui, apenas que a psicóloga não fosse uma atriz, pois eu não podia cair no risco de errar os termos técnicos de uma terapia dessas. E, mais do que isso, queria alguém que pudesse fazer um trabalho de análise de verdade com meus personagens”.
Usando versos musicados como “O dia nunca pede permissão para acordar” e “A língua portuguesa já é moça para casar”, Oswaldo faz jus à sua estética metafísica, mas explora a agilidade da linguagem televisiva construindo uma trama que dialoga com os cânones do melodrama da TV brasileira: acompanha-se o drama dos pacientes de Joana como uma novela.
“Esta é uma história de vidas comuns com problemas não tão comuns assim, numa homenagem ao teatro e à psicanálise”, diz Montenegro, cujo último longa, O Perfume da Memória, lançado diretamente em seu canal no YouTube, contabiliza 1,5 milhão de views. “Fui fazer cinema para seguir contando histórias e porque a música mudou de lugar com a virada dos tempos. No século XIX, a arte popular maior era a ópera. Nos anos XX, era a canção. Hoje, nos anos 2010, a música popular que faz diferença é a música usada como trilha sonora, no cinema e na TV. A música um dia foi protagonista do mundo. Mas hoje, ela precisa ter um lugar para morar. O cinema é esse lugar, esse lar”.
