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Estados Unidos Pelo Amor | Drama narra a chegada do pop à Polônia

Polêmica, a produção ganhou prêmio de roteiro em Berlim

28.12.2016, às 15H17.
Atualizada em 28.12.2016, ÀS 16H06

Apesar da névoa trágica em volta de suas personagens, o aclamado Estados Unidos Pelo Amor (United States of Love), que chega ao Brasil nesta quinta, trazendo em seu currículo o troféu de melhor roteiro no Festival de Berlim, retrata a chegada do pop na Polônia em meio aos últimos dias dos regimes socialistas na Europa. Dirigido pelo jovem realizador Tomasz Wasilewski, esta produção rodou festivais planeta adentro conquistando prêmios e elogios, mantendo viva a fama do novíssimo cinema polonês, iniciada com o Oscar dado a Ida, em 2015, a partir de uma doída ciranda de dramas femininos. Um pôster da cantora Whitney Houston (morta em 2012) na parede de um dos cenários principais é um dos indícios da busca do longa-metragem por retratar o flerte de seu país com a cultura pop.

Cresci numa arquitetura comunista, onde os prédios eram iguaizinhos, sob forte jugo da Igreja sobre as relações familiares, tendo apenas duas boas referências do mundo capitalista: a voz de Whitney e a minissérie de TV Pássaros Feridos”, disse Wasilewski ao Omelete em Berlim, comemorando a boa situação do cinema polonês. “Eu amo Ida por muitas razões, mas uma delas é o fato de aquele filme ter atraído os olhos do mundo pra nós, de volta, como só se dava no período de grandes mestres como Andrzej Wajda ou Kieslowski. Hoje, diretores mais jovens, de gerações como a minha e até de gerações mais novas, estão se aproximando e trocando ideias. Fora isso, apareceu dinheiro. Quando rodei meu primeiro longa, tive que me virar com € 20 mil. O segundo teve € 400 mil pra gastar. E pra este, em meio à nossa recente ebulição, eu pude contar com um orçamento de € 1 milhão. As coisas estão melhorando”.

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Numa estrutura narrativa quase episódica, que se desliga de uma personagem e salta para outra sem dizer adeus, começamos com uma mulher infeliz no casamento, de olho em um padre. Depois, caímos no colo de uma diretora de escola apaixonada por um homem casado. Por fim, damos as mãos a uma professora de Russo cujo coração bate por uma vizinha. E esta, a quarta mola propulsora da trama, sonha virar modelo e faz o que pode para isso, até se deixar fotografar por quem não presta.

Este filme, ambientado em 1990, na nossa fase de abertura política, resgata os tempos em que nos livrarmos do Comunismo e experimentamos a liberdade. Mas narro isso a partir da perspectiva de pessoas fraturadas por dentro, sem enveredar por aspectos políticos conscientes, buscando afetos a partir de memórias pessoais do período em que meu pai, um piloto de helicóptero, passou três anos fora da Polônia, trabalhando para nos sustentar. Minha mãe ficava em casa. A lembrança mais forte que tenho dela é o aroma dos bolos que ela assava”, explica Wasilewski.   

Realizador do drama de tom homafetivo Arranha-Céus Flutuantes (2013), Wasilewski é um cineasta de 36 anos que tinha apenas 9 quando a Polônia passou por uma reestruturação econômica sob os ecos do fim do regime soviético. Morava numa casa com mãe, irmã e amigas de ambas. Os códigos do feminino governam seu olhar de mundo e, a partir deles, foi cerzido este que é o mais uterino dos concorrentes ao troféu máximo do certame berlinense. Temos quatro protagonistas, um antagonista (a solidão) e um destino (o vazio).

Este é um filme sobre o Desejo e as consequências que ele traz num momento em que as pessoas estão se curando de um colapso ideológico”, diz o cineasta. “Lembro que todas as mulheres que eu conheci quando era criança, isso há uns 26 anos, eram todas donas de casa. As exceções eram as professoras, as freiras e as enfermeiras. Fora isso, não havia essa liberação feminina que existe hoje e que deve ser festejada”.

Houve quem se incomodasse (e até vaiasse) na Berlinale a exposição sem pudor que o filme faz de corpos das mais variadas idades, a despeito da flacidez, das gordurinhas. Mas, para inventar cicatrizes do coração e da alma, Wasilewski precisa exumar pele e carne. O resultado é um espetáculo incômodo, porém... vivo. 

A potência maior do filme, fora a força do elenco, está na fotografia de Oleg Mutu, grande nome da imagem realista na Romênia, responsável pelo premiado 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, que eu trouxe para este projeto atraído por suas memórias. Ele também cresceu num ambiente comunista e, por isso, saberia bem traduzir minhas inquietações”, diz Wasilewski, cujo filme conquistou o Prêmio José Carlos Avellar de experimentação de linguagem no BIFF – Festival Internacional de Cinema de Brasília, em novembro.

Nesta quarta, às 20h30, Estados Unidos Pelo Amor terá uma pré no Rio de Janeiro, no Estação Net Barra Point.

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