Hilária do começo ao fim ao longo de 103 minutos, cuja apoteose é a corrida de um suicida sem roupa por quilos de neve, Wild Mouse, uma comédia austríaca dirigida e também protagonizada pelo veterano ator e cineasta estreante Josef Hader, dispara na preferência europeia entre os candidatos ao Urso de Ouro do 67º Festival de Berlim.
Já há quem apelide o longa-metragem de "o Toni Erdmann da Berlinale", em referência à produção dirigida pela alemã Maren Ade, favorita para levar o Oscar de melhor filme estrangeiro. As proximidades entre ambos passam pela chave do que se pode chamar de humor trágico, um refinamento ainda mais cáustico do humor negro. Assista ao trailer:
Embalado a frases entusiasmadas na linha do "já ganhou!", Wild Mouse acompanha os infortúnios de um crítico de música cinquentão, Georg (Hader), demitido numa onda de cortes e crise na Áustria, após anos de serviços prestados à imprensa. Sem contar nada para sua mulher, Johanna (Pia Hierzegger), uma psicóloga em crise que deseja engravidar aos 43 anos, Georg gasta seus dias a ler e curtir os brinquedos de um parque de diversões no qual trabalha um velho amigo seu. Georg sugere botar música clássica na montanha-russa mais popular da Áustria, a tal Wilde Maus, do título original, e a transforma num sucesso, enquanto arquiteta uma série de vinganças contra o chefe que o demitiu. O requinte de sua revanche cria situações na qual se ri de nervoso.
Total é o domínio de Hader na construção do clima de incerteza e de suspense, sem jamais deixar a graça cair. E seu trabalho como comediante é irretocável, só sendo ombreado, até aqui, pelo show de Richard Gere e de Steve Coogan como irmãos de visões éticas conflitantes em The Dinner, único concorrente dos EUA na Berlinale. O Festival continua até o dia 19 deste mês.
