Ao esbarrar com o Omelete pelos corredores do Festival de Cannes, na manhã deste domingo, o decano da crítica francesa Michel Ciment cantou uma pedra das melhores para a autoestima do Brasil: "Preste bem atenção no filme brasileiro, Gabriel e a Montanha, que é muito impressionante".
Os conterrâneos do veterano editor da revista Positif (um das bíblias do pensamento cinéfilo) pareciam concordar com ele ao fim da projeção de gala do longa-metragem de Fellipe Gamarano Barbosa. Lotada de gringos, a sessão finalizou com quilos de aplausos, caras de choro e alguns olhos ainda esbugalhados pelos ângulos que o fotografo da produção, Pedro Sotero, arrancou das paisagens africanas. E tinha muito curioso a se perguntar: "Quem é esse ator?", em referência à transformação fisica e moral pela qual João Pedro Zappa passa ao reviver a historia real do economista Gabriel Buchmann, morto de hipotermia, em 2009, no Malauí, em uma de suas escaladas.
"Conheci Gabriel quando era garoto, aos 7 anos, e ele já tinha um sorriso que me perturbava. Espero que este sorriso apareça na tela, quando vocês olharem para o Gabriel nos olhos. Que se crie uma relação especular", disse Barbosa antes da projeção.
Seu filme começa com o achado do corpo de Buchmann. Em 2009, ele foi encontrado morto, em decorrência do frio, numa trilha no Monte Mulanje, no Malauí - um dos quatro países visitados. Tem ainda Quênia, Tanzânia e Zâmbia. Feito em coprodução com a França, o filme foge de padrões de National Geopraphic ou de deslumbres turísticos, a fim de falar de um processe de descobertas: do mundo e de seus povos. Para isso o diretor, aproveita em seu elenco de não atores uma série de pessoas que cruzaram o caminho de Buchmann em suas andanças por montanhas africanas.
“Gosto do fato de o filme se chamar Gabriel 'e' a Montanha e não Gabriel na Montanha", destacou o delegado geral da Semana da Crítica Charles Tesson, curador da sessão competitiva paralela à briga pela Palma de Ouro. 'O 'e' dá uma ideia de alteridade, de olhar o outro".
Gabriel e a Montanha vai ser avaliado por um júri presidido pelo cineasta Kleber Mendonça Filho.