Colegas de juri no 70° Festival de Cannes (17 a 28 de maio), o diretor espanhol Pedro Almodóvar e o ator americano Will Smith demonstraram ter opiniões bem divergentes acerca da polêmica número 1 do Festival de Cannes de 2017: a presença em competição de dois filmes da grife Netflix - The Meyerowitz Stories e Okja - que não serão lançados em circuito comercial. Há uma semana, a direção do evento baixou uma norma: para concorrer à Palma de Ouro, um longa-metragem tem a obrigação de concordar em ser distribuído em salas de cinemas da França, mesmo indo para outra janela de exibição (como a TV) logo na sequência. Na coletiva de imprensa dos jurados, o diretor de Fale Com Ela e o astro de MIB: Os Homens de Preto comentaram a questão deixando visíveis suas diferenças.
“As plataformas digitais de exibição são uma nova forma de oferecer conteúdo, mas elas não podem suprimir as anteriores, como, por exemplo, o hábito de se ir ao cinema. As novas plataformas não devem mudar os hábitos dos espectadores. Eles devem respeitar as regras que existiam anteriormente e respeitar todos os formatos de exibição”, anunciou Almodóvar, lendo um discurso que preparou sobre o assunto deixando claro considerar um paradoxo premiar um filme que “não vai passar em tela grande”. “Enquanto eu seguir vivo, vou defender a experiência que muitos jovens não tiveram que é a sensação de poder assistir um filme em tela grande. O espaço em que a gente vê um filme pela primeira vez não pode fazer parte de nossa mobília”.
Um dos maiores campeões de bilheteria de Hollywood nos anos 1990 e 2000, Will Smith parece pensar diferente, sobretudo agora que tem um projeto como ator para lançar via Netflix em dezembro: a aventura Bright. “Tenho filhos de 16, 18 e 24 anos em casa e a Netflix não tem impacto sobre a relação deles com o cinema. Eles descobriram na Netflix muitos filmes que não conheceriam de outras formas e que despertaram a atenção deles para um tipo de cinema sobre o qual eles podem pesquisar na internet. Mesmo assim, eles continuam indo a salas de exibição. São formas bem diferentes de entretenimento”, explica Smith.
No debate, Almodóvar, que preside o júri, expressou seu respeito à diversidade dos filmes em concursos. “Espero ter a mesma sensação que Cannes viveu quando por aqui passaram La Dolce Vita ou Apocalypse Now. Espero a surpresa. E se vier algo politicamente incorreto, estou aberto a ele”. Completam o júri as diretoras Agnes Jaoui e Maren Ade, os cineastas Paolo Sorrentino e Park Chan-wook, as atrizes Jessica Chastain e Fan Bingbing e o compositor Gabriel Yared. Os ganhadores de Cannes serão conhecidos no dia 28. A lista de concorrentes inclui:
- In The Fade, de Fatih Akin
- Okja, de Bong Joon-ho
- Happy End, de Michael Haneke
- Rodin, de Jacques Doillon
- Jupiter's Moon, de Kornél Mondruczó
- The Meyerowitz Stories, de Noah Baumbach
- O Estranho Que Nós Amamos, de Sofia Coppola
- 120 Battements Par Minutes, de Robin Campillo
- Wonderstruck, de Todd Haynes
- Vers La Lumière, de Naomi Kawase
- The Square, de Ruben Östlund
- Un Femme Douce, de Sergei Loznitsa
- Loveless, de Andrei Zvavintsev
- Good Time, de Josh e Benny Safdie
- You Were Never Really Here, de Lynne Ramsay
- The Death of a Sacred Dear, de Yorgos Lanthimos
- The Day After, de Hong Sang-soo
- Le Redoutable, de Michel Hazanavicius
- L'Amant Double, de François Ozon