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Festival de Cannes tem surpresas e vaias entre os vencedores

Longa inglês I, Daniel Blake levou a Palma de Ouro

22.05.2016, às 15H37.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Capaz de encantar e, ao mesmo tempo, de levar à plateia às raias da tristeza ao mostrar a dura realidade dos desempregados da Inglaterra, o drama I, Daniel Blake, do diretor inglês Ken Loach, conquistou a Palma de Ouro no encerramento do 69° Festival de Cannes, que terminou neste domingo sem láureas para o concorrente brasileiro de longa-metragem da competição oficial, Aquarius. O Brasil, que conquistara no sábado o troféu L’Oeil d’Or de melhor documentário para Cinema Novo, de Eryk Rocha, recebeu uma menção honrosa para o curta-metragem A Moça Que Dançou com o Diabode João Paulo Miranda Maria, no qual o cineasta paulista de 34 anos narra o périplo de uma jovem criada em seio religioso para buscar seu próprio Paraíso, quebrando padrões de representação social. Mas esta lógica de quebra de paradigmas não reinou no palmarês. A entrega da Palma a Loach – um bicampeão, que ganhara o prêmio maior de Cannes antes, em 2006, com Ventos da Liberdade – simbolizou a aposta num tipo de narrativa mais conservadora, porém habilidosa no domínio da cartilha da emoção, usada aqui em prol de um debate sobre a exclusão.

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Agora em 2017, eu completo 50 anos como cineasta e, neste período todo de trabalho em prol da Arte, eu sempre retratei a questão do desemprego pela minha perplexidade em perceber que o Estado, não apenas na Inglaterra, mas também em outros países da Europa, parece culpabilizar os desempregados pela sua demissão”, disse Loach ao Omelete, ao falar sobre I, Daniel Blake, no qual um cinquentão sem emprego faz amizade com uma jovem mãe solteira. “Se você estudar como os centros de assistência do governo lidam com as pessoas, vai notar que há sempre algum argumento para fazer as pessoas acreditarem que elas foram demitidas por alguma falha pessoal. Existe um cenário de vulnerabilidade em torno dessas pessoas que alimenta uma dramaturgia critica”.

Considerado uma espécie de segunda Palma, ou seja, o segundo maior prêmio do festival, o Grand Prix du Júri este ano ficou com uma das maiores promessas de rejuvenescimento do cinema autoral: o canadense Xavier Dolan, de 27 anos, com seu tocante e virulento Juste La Fin Du Monde. Renomado por longas como Mommy (2014), o diretor, que integrou o júri cannoise no ano passado, foi laureado agora por sua adaptação da peça homônima de Jean-Luc Lagarce, já encenada no Brasil, sobre a cerimônia do adeus de um rapaz que volta para a casa dos pais para dizer à sua família que tem uma doença terminal. Seu elenco reúne a nata do cinema da França: Léa Seydoux, Vincent Cassel, Marion Cotillard.  “Prefiro a loucura da paixão à apatia da indiferença”, disse Dolan.

Na categoria de melhor direção, os jurados presididos pelo cineasta australiano George Miller optaram por um empate entre dois realizadores de estéticas radicalmente distintas. Ganharam o romeno Cristian Mungiu, pelo drama de timbre sociológico Graduation, e o francês Olivier Assayas, por Personal Shopper, um filme de fantasmas com Kristen Stewart.  

No ato do anúncio das categorias de interpretação, a torcida por Sonia Braga (em Aquarius) tomou um banho d’agua fria quando a ganhadora foi anunciada: Jaclyn Jose por Ma’Rosa, das Filipinas. Já o prêmio de melhor ator, mais do que merecido, ficou com o iraniano Shahab Hosseini, por seu desempenho acachapante como um professor e ator de teatro em The Salesmanque ainda rendeu a láurea de melhor roteiro para Asghar Farhadi, seu realizador, conhecido e respeitado mundialmente por A Separação (2011).

Afora o Grand Prix, Cannes concede tradicionalmente também um Prix du Júri, que nesta edição ficou com American Honey, da britânica Andrea Arnold, um dos títulos mais rejeitados pela crítica, entre os 21 longas concorrentes. Shia LaBeouf integra o elenco desta trama sobre um grupo de adolescentes em viagem pelo Meio-Oeste dos EUA. A Palma de curtas ficou com o espanhol Timecode, de Juanjo Giménez.

Galã da Nouvelle Vague (o movimento que engajou o cinema francês numa revisão política e simbólica entre 1958 e 1970), o ator Jean-Pierre Leaud recebeu uma Palma especial pelo conjunto de sua carreira, que segue avançando a julgar pela calorosa recepção a seu mais recente filme aqui na Croisette, em projeção hors-concours: La Mort De Louis XIV, dirigido por Albert Serra. Em seu discurso, o astro de Os Incompreendidos (1959), hoje um senhor de 71 anos, evocou a tradição da França nas telas, que preserva sua integridade ao fazer de um festival do porte de Cannes um templo em prol da diversidade.

Palma de Ouro: I, Daniel Blake, de Ken Loach;
Grand Prix: Juste La Fin Du Monde, de Xavier Dolan;
Prêmio do Júri: American Honey, de Andrea Arnold;
Atriz: Jaclyn Jose, por Ma’Rosa;
Ator: Shahab Hosseini, por The Salesman;
Direção: Cristian Mungiu por Graduation, empatado com Olivier Assayas, por Personal Shopper;
Roteiro: Asghar Farhadi por The Salesman;
Palma de curta-metragem: Timecode, de Juanjo Giménez, com menção honrosa para o curta brasileiro A Moça Que Dançou com o Diabo, de João Paulo Miranda Maria
Caméra d’Or: Divines, de Houda Benyamina

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