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Festival de Gramado | "Esse ano tudo está mais alegre, mais atraente", diz Rubens Ewald Filho

Curador falou sobre evento e deu uma prévia do que espera do próximo Oscar

26.08.2016, às 10H40.

Calçado numa exibição do filme brasileiro mais polêmico do ano, Aquarius, com projeção esta noite (26), o Festival de Gramado inaugura hoje sua 44ª edição apostando no ineditismo, em comédias, numa cinebiografia musical e numa aguardada coprodução com nuestros hermanos argentinos. Um dos responsáveis por esse cardápio foi o mais popular dos críticos de cinema do país, o “homem Oscar”, Rubens Ewald Filho, que assina a curadoria da tradicional mostra competitiva ao lado de Eva Piwowarski e de Marcos Santuário. Eles decidiram o menu de 2016, apostando em títulos atípicos de longa metragem. Na lista de concorrentes nacionais estão: Barata Ribeiro, 716 (RJ), de Domingos OliveiraEl Mate (SP), de Bruno KottElis (SP), de Hugo PrataO Roubo da Taça (SP), de Caito OrtizO Silêncio do Céu (Brasil/Argentina), de Marco Dutra; e Tamo junto (RJ), de Matheus Souza.

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Já na seleta de títulos hispânicos estão Campaña Antiargentina (Argentina), de Ale ParysowCarga Sellada (Bolívia/ México/ Venezuela/ França), de Julia VargasEspejuelos Oscuros (Cuba), de Jessica RodriguezEsteros (Argentina/Brasil), de Papu Curotton; Guaraní (Paraguai/Argentina), de Luis Zorraquín; Sin Norte (Chile), deFernando LavanderosLas Toninas Van al Este (Uruguai/Argentina), de Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta. Na entrevista a seguir, Ewald faz um balanço do que deve mobilizar a disputa pelo Kikito e antecipa alguns detalhes da festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood


Omelete: 
Como você avalia o desenho da seleção de Gramado deste ano a começar pela presença de um filme do peso de Aquarius como abre-alas?

Rubens Ewald Filho: Antes dele, havia o filme da Anna Muylaert, o Mãe Só Há Uma, que chegamos a fechar com ela, até porque, a Anna é cria de Gramado [seu longa de estreia, Durval Discos, estreou lá], ? Bom, ela mudou de ideia e pediu para passá-lo, em vez disso, num festival latino em São Paulo. Naturalmente, aceitamos, mas bem que a gente gostaria de ter os dois, né? Seria ainda mais interessante. O filme do Kleber também foi negociado com muita simplicidade e nenhuma dúvida. Além disso, há anos estávamos perseguindo a Sonia Braga, sua estrela, para vir receber o prêmio especial. Então, agora, juntou tudo: temos o filme brasileiro do ano, indicado em Cannes e dos mais aguardados pelo circuito. Sobre a competição... Pela primeira vez conosco, todos os filmes concorrentes nacionais são inéditos em festivais e em circuito. Sinal de que tínhamos filmes bons disponíveis. É um bom sinal diria..Elis, que foi para a competição, ia ser apenas convidado para ser exibido hors-concours. Não se esqueça de que a cantora Elis Regina era gaúcha, né? Mas o distribuidor topou entrar com a gente concorrendo. Depois disso, nós tivemos a sorte de reunir um grupo de comédias de alto nível, todas surpreendentes, desde um perpétuo querido de Gramado - nosso Domingos Oliveira- a outros filmes igualmente talentosos e não óbvios. Na verdade, sempre quisemos que o gênero comédia tivesse mais espaço em festivais e veio bem ao caso, já que Gramado estava bem temperado também com atrações de Sundance, bons filmes latinos e otras cositas mais...

Omelete: Existe uma tendência mais evidente na produção nacional e na latina que pleiteou vaga este ano? 
Ewald Filho: A tendência que a gente adorou foi o fato de termos coproduções entre Argentina e Brasil, inclusive um filme gay superdelicado e tocante. Tentamos também manter o esquema de um filme por país, ainda que a Argentina, tenha um lugar especial. 

Omelete: Depois de cinco anos à frente da curadoria de Gramado, com seus parceiros Eva Piwowarski, Marcos Santuário e, antes, o finado José Wilker, como você avalia a atual identidade do festival no cenário cinematográfico brasileiro? 

Ewald Filho: Creio que vocês vão sentir tudo este ano mais alegre, mais atraente, mais interessante, num festival cada vez mais diverso e interessante, sem preconceitos. Mas, de certa maneira, há também uma espécie de preview, do que gostaríamos que seja o festival do ano que vem... a edição de 45 anos... em que estamos desde já trabalhando.

Omelete: Qual é a representatividade de ver Sonia Braga premiada, já na abertura, com o troféu Oscarito, e José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão, ser laureado com o troféu Eduardo Abelin? 

Ewald Filho: Eu acho extremamente feliz a coincidência de a Sonia estar de volta com Aquarius, numa volta tão por cima... Existia a certeza de que ela nunca deixou de ser uma querida para nós, sempre em nossos planos. Lembro que José Wilker (que foi curador de Gramado de 2012 até sua morte, em 2014) e ela eram grandes amigos e parceiros. Hoje, em nossa abertura, ele estará aplaudindo esta comemoração. Mojica finalmente foi lembrado. Só demorou um pouco a escolha dele para o troféu Eduardo Abelin por questões de saúde do nosso querido Zé do Caixão, que voltou à boa forma... sendo festejado também pela minissérie feita sobre sua vida pela TNT, que eu achei excepcional.

Omelete: O assunto aqui é Gramado, mas é uma tentação perguntar a você sobre o Oscar: quais seriam suas previsões para o prêmio da Academia de Artes e Ciência Cinematográficas de Hollywood deste ano?

Ewald Filho: Ali, a situação nunca esteve tão feia. Pra começar, nunca houve uma sucessão de fracassos de bilheteria tão grande quanto a deste ano, em todas as formas da indústria, até mesmo nos filmes de super-heróis, cena onde alguns renderam menos do que se pensava. Acredita que o Mogli, o Menino Lobo tem sido considerado possível concorrente? Fala-se muito, por lá, sobre um filme de arte já antigo, de 2015, que foi premiado em Cannes há mais de um ano, mas não passou aqui: A Lagosta, do grego Yorgos Lanthimos. Bom, o outro previsto para disputar prêmios era Birth of a Nation, do diretor negro Nate Parker. Mas, esta semana, revelou-se que o cineasta foi processado por estupro de uma mulher e que esta já faleceu. Isso quer dizer que ele está frito. Espera-se agora, na temporada que começa em setembro, o surgimento dos filmes mais sérios, potencialmente premiáveis. Dá para se prever que vai ser um ano difícil. O dado mais curioso é que guerra agora começa mais cedo porque aquela organização de críticos exibicionistas, a do Critic´s Choice, que exibimos pela primeira vez na televisão no ano passado, em 2016, mudou sua data, passando para meados de dezembro. Acho que será em 11 de dezembro, juntando TV e cinema, o que é uma loucura, porque muitos filmes só entram em circuito depois, o que vai dar a maior confusão. Mas a ideia é essa, pois eles querem derrubar o Globo de Ouro, ou seja, para eles, isso é mais importante do que levar a sério os filmes ou mesmo os prêmios. Antes de tudo querem é virar noticia. Mas não tendo filmes bons, como parece este ano, até aqui, no que vai dar este esforço?

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