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Maior nome da animação portuguesa brilha em dois festivais nacionais

José Miguel Ribeiro se consagra com curta sobre guerra entre Portugal e África no 24º Anima Mundi

29.10.2016, às 15H07.
Atualizada em 29.10.2016, ÀS 16H00

Acerto de contas existencial entre pai e filho, tendo por estopim traumático o histórico das guerras coloniais de Portugal contra a África, o curta-metragem Estilhaços virou uma sensação na 24ª edição do Anima Mundi, consagrando, uma vez mais, a potência criativa, política e pop do maior diretor lusitano quando o tema é animação: José Miguel Ribeiro. Seu trabalho mais recente passa de novo no maior festival latino-americano do setor neste domingo, às 15h, na Cinemateca do MAM-RJ, com projeções na versão paulistana do evento nos dias 3 e 5 de novembro, primeiro na Cinemateca Brasileira (às 21h30) e depois na Caixa Belas Artes (às 20h). Não por acaso, a partir do dia 1º, três cults da obra dele serão exibidos na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, no menu da MONSTRA – Mostra Oficial de Animação Portuguesa, em cartaz até o dia 13: A Suspeita (2000), Abraço do Vento (2005) e Viagem a Cabo Verde (2010).

“Não existe uma indústria de animação em Portugal e sim uma forte e contínua aposta na criação de filmes de autor, a sua maioria em curta metragem, ocorrida nos últimos 20 anos, a partir de concursos do Instituto Português de Cinema e do Audiovisual. Foram feitas também algumas séries”, diz Ribeiro, que nasceu na cidade de Amadora, em 1966, e formou-se em Artes Plásticas na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.

“Nosso principal problema é a falta de envolvimento das televisões, para além da estatal, que é a RTP, o que é mais difícil em tempos de crise. As TV privadas de Portugal olha para a produção de animação como uma área muito dispendiosa e não vêem as vantagens que a área tem. Na animação, filmes, como por exemplo, os de Tom & Jerry, que têm quase 70 anos, podem ainda ser vistos como se fossem histórias atualíssimas, mais do que filmes em live action”.

Envolvido hoje na preparação de um longa intitulado Nayola, com argumento de Virgilio Almeida a partir da peça de teatro Caixa Preta dos escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa, em co-realização com Jorge Antonio, Ribeiro goza há quase duas décadas do status de popstar no Anima Mundi, no qual todos os seus filmes foram sucesso de audiência.

Com Estilhaços não foi diferença, sendo que esta produção se alinha com a temática que incendiou alguns dos trabalhos mais provocativos do cinema português nesta década, como Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, drama escolhido para representar aquele país na briga por uma vaga na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro de 2017 – que está em cartaz na Mostra Internacional de SP, neste fim de semana, e estará concorrendo a prêmios no Brasília International Film Festival – BIFF, que começa no dia 4, em Brasília.

“A guerra colonial é uma realidade muito presente em toda a sociedade portuguesa hoje, sobretudo entre pessoas da faixa dos 50 anos, como eu, que são filhos de ex-combatentes e viram em casa os efeitos dessa guerra. O meu pai lutou e foi mais uma das pessoas que voltaram fisicamente sãs, mas trazendo a guerra bordada dentro de si, profundamente. Tivemos 3 milhões de pessoas vivendo muito próximas da guerra. Meu filme se baseia nessa realidade, sob o ponto de vista de gerações para quem esse conflito é só um relato dos livros de História. Quis tratar o tema com realismo, mas com alguma fantasia, a partir de várias técnicas, misturando imaginação, memória e a História do meu país e dos demais países”, diz Ribeiro, hoje suando a camisa para retratar a realidade de Angola em seu projeto de longa. “Da peça Caixa Preta temos uma história sobre os efeitos da guerra colonial sobre três gerações de mulheres. É a história de uma mulher com uma filha de um ano nos braços que parte para a guerra atrás do homem de sua vida, que foi para o front combater”.

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