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Miragens | Brasileiro premiado em Cannes fala sobre seu novo filme

Diretor ganhou o maior prêmio do festival dado a filmes documentais

19.06.2017, às 09H38.
Atualizada em 19.06.2017, ÀS 10H01

Um ano após a conquista do troféu L’Oeil d’Or, o prêmio de melhor documentário do Festival de Cannes (maior láurea dada lá a um brasileiro nas últimas quatro décadas), o diretor Eryk Rocha pede licença ao Real para adentrar o terreno da ficção. Já em produção, com filmagem marcada para outubro, Miragens retrata questões da crise financeira brasileira a partir da realidade de um chofer de táxi. 

“Miragens é uma coprodução Brasil-França-Argentina que se passa no Brasil de hoje e narra a história de um homem de 39 anos que vive uma crise profunda. Ele está recém separado da mulher e, a exemplo de milhões de brasileiros, ficou desempregado. A partir disso tenta recomeçar sua vida em uma nova profissão, como taxista, vivendo à flor da pele o colapso da cidade do Rio de Janeiro”, conta Eryk, filho do mítico Glauber Rocha (realizador de cults como Terra em Transe). “Em seu táxi, ele vaga pelas noites com a urgência de juntar dinheiro para pagar a pensão de seu filho e reconquistar seu lugar de paternidade”.

Ocupado ainda com a carreira internacional de Cinema Novo, que será lançado agora na Espanha, nos Estados Unidos, na Itália, no Chile, no México e em Portugal, onde acaba de ser homenageado com uma retrospectiva, Eryk já havia experimentado as cartilhas ficcionais antes, com Transeunte (2010). Mas há anos, entre vários projetos de cinema e TV que toca de forma paralela, ele vinha preservando esse enredo sobre o universo dos taxistas.

Eu me sinto forte e feliz de ter em minha formação raízes do cinema documental, o que levarei comigo para o resto da vida. Assim como percebo que, em meus filmes documentais, há um desejo de construção dramatúrgica, eu sinto que, nos meus filmes ficcionais, há sempre uma intensa energia documental, que não é nada mais do que estar muito atento à vida. E essa vida, esse acaso, invade e é incorporada no jogo e na cena. Em Transeunte, já experimentei algumas coisas nesse sentido.  Em Miragens, eu   quero seguir tensionando esses campos”, diz Eryk, que, ao largo de Miragens, prepara-se para editar o material que filmou para mais um longa-metragem: Edna, sobre a poeta e ex-guerrilheira Edna Rodrigues, a partir da qual aborda a luta armada no Araguaia. 

Centrado também nos problemas agrários do Brasil, nas raias do Pará, Edna foi rodado numa parceria entre Eryk e a atriz Gabriela Carneiro da Cunha.

O cinema é a minha forma de sentir o mundo, e de investigar a complexa e múltipla realidade que me rodeia e me afeta diariamente”, diz o cineasta. “Hoje, no Brasil, qualquer cidadão á atravessado pelas tensões políticas e sociais, isso está no cheiro das ruas, nas esquinas, nos encontros... Então, como traduzir esse embate com a realidade em poética cinematográfica? Ser documentário ou ficção me parece algo secundário, creio que o essencial é pesquisar e descobrir uma linguagem capaz de traduzir de forma potente e honesta a alta voltagem dessa época vertiginosa e aterradora da qual fazemos parte”.

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