Reduto de invenções e transgressões de linguagem, responsável por inaugurar, há 19 anos, o circuito nacional de festivais brasileiros, a Mostra de Tiradentes inicia neste fim de semana uma maratona de 35 longas e 81 curtas-metragens que funciona como uma prévia do que haverá de mais quente no setor autoral do cinema no país, trazendo agora um perfume mais pop que o de anos anteriores.
Sempre fiel à máxima de que a ruptura de convenções narrativas é um caminho para a revolução audiovisual, o evento mineiro traz em 2016 filmes com maior carga de elementos de gênero (terror, suspense, thriller) com atores de gerações distintas. Confira a seguir dez apostas, pinçadas a partir do cardápio da seleção, com fôlego para gerar boca a boca Brasil adentro.
O Diabo Mora Aqui, de Dante Vascio e Rodrigo Gasparani - De passagem por um casarão colonial, quatro jovens vão ter uma provinha do que o Mal é capaz aqui no Brasil, em meio aos demônios e fantasmas de nosso passado escravocrata.
Prova de Coragem, de Roberto Gervitz - Assombrado por fantasmas de sua juventude no Sul do Brasil, um médico (Armando Babaioff) planeja viajar pelo mundo para uma escalada só que, em meio de seus sonhos, a hipótese de paternidade aparece como um empecilho. A atuação primorosa de Mariana Ximenes alimenta o drama, com base no romance Mãos de Cavalo, de Daniel Galera.
Bili Com Limão Verde na Mão, de Rafael Conde - O diretor do seminal Fronteira (2008) volta agora os olhos para a infância e narra os percalços de uma menina para se livrar os ranços de ser criança e talhar uma subjetividade própria.
Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba - Um cheiro de David Lynch ronda este thriller paranaense - desde já encarado como um dos filmes brasileiros de narrativa mais sofisticada do ano - no qual um viúvo se depara com uma fita VHS com segredos sobre a mulher de sua vida. Chancelado pelo Festival de Montreal e por um balde de prêmios no Festival de Brasília. Seu clima tenso é de roer as unhas.
Através da Sombra, de Walter Lima Jr. - Mito do Cinema Novo, o diretor de A Ostra e o Vento (1997) arranca de Virginia Cavendish uma atuação memorável ao narrar o mergulho de uma professora em um ambiente povoado por forças das trevas, no qual duas crianças são assombradas por entidades malignas.
O Espelho, de Rodrigo Lima - Em apenas 65 minutos, este filme-poema mexe com a libido e com o medo ao dialogar com um conto homônimo de Machado de Assis para narrar o que uma mulher (Ana Abott) saída do fundo de um lago pode operar na vida de um homem (o ótimo Augusto Madeira). A fotografia é uma aula de rigor plástico.
Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, de Petrus Cariry - A beldade Sabrina Greve estrela este ensaio sobre o desapego estruturado a partir da liturgia de dor que se processa no reencontro de pai e filha. É o filme de maturidade do diretor cearense aclamado por O Grão.
Planeta Escarlate, de Dellani Lima e Jonatta Doll - Ecos de Melancolia (2011), de Lars von Trier dão tonalidades existenciais a esta produção sobre um dependente químico atormentado pela morte de sua amada, vítima de overdose, enquanto um astro passa pela órbita da Terra, num prenúncio de abismo.
Introdução à Música do Sangue, de Luiz Carlos Lacerda - De volta às telas após uma luta pela vida, Ney Latorraca prova porque é um dos maiores atores do Brasil na pele de um agricultor às voltas com a chama do desejo numa região sem luz elétrica.
Animal Político, de Tião - Um dos mais aclamados curta-metragistas de Pernambuco estreia na direção de longas narrando as desventuras de uma vaca que deseja provar do gosto de ser gente. Metáforas sociais e econômicas lhe servem de pasto.
Tiradentes segue até o dia 30, quando serão divulgados seus vencedores.