Poucos filmes brasileiros de baixíssimo orçamento alcançaram, nos últimos anos, um rendimento tão grande no exterior – e também internamente- em termos de exposição, elogios e até prêmios quanto o thriller de DNA mineiro Elon Não Acredita na Morte, atração do horário nobre da 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes neste domingo.
Laureado em dezembro no Festival de Macau, com um prêmio especial de contribuição artística, por sua engenharia de som, o longa-metragem, dirigido pelo estreante Ricardo Alves Jr, já tem convites para eventos em Portugal, México e Argentina, indo antes para uma das mostras de maior prestígio na seara autoral da indústria audiovisual em todo mundo: o Festival de Roterdã, que vai de 25 de janeiro até 5 de fevereiro na Holanda.
Com Lourenço Mutarelli, autor de HQs (O Dobro de Cinco) e romances (O Cheiro do Ralo), entre seus coadjuvantes, o filme, cuja narrativa acompanha a cruzada de Elon (Rômulo Braga, premiado no Festival de Brasília pelo desempenho no papel) para descobrir o paradeiro de sua mulher desaparecida, tem estreia em circuito marcada para agosto. Ele ainda ganhou o Prêmio Especial do Júri na Semana dos Realizadores, no Rio, onde recebeu também uma menção honrosa para sua direção.
“Mesmo que trabalhe com o suspense de maneira impura, este filme assume uma natureza de thriller ao partir de um corpo de desaparece e estabelecer a busca por ele como eixo de sua narrativa, carregada de um clima claustrofóbica, sem deixar que o espectador olhe para outro lugar que não aqueles por onde o protagonista passa em sua jornada”,explica Alves Jr, cujo longa carrega uma atmosfera bruxuleante que evoca Estrada Perdida (1997), de David Lynch. “O cinema de gênero, como é o caso do suspense, tem códigos que estabelecem um contato direto com o espectador”.
Na trama de Elon Não Acredita na Morte, uma série de figuras vai complicar a investigação do personagem de Rômulo Braga, entre eles um solícito ex de sua esposa (vivido por Mutarelli), que pode acrescentar informações importantes sobre ela, ao mesmo tempo em que leva o derrotado protagonista a beber - vício já superado por ele.
“Acreditava que mesmo um anti-herói surrado, incorreto, fraturado pela vida, que vai ruindo à cada cena, pudesse contaminar o espectador”, diz Alves Jr.
A partir desta segunda, em Tiradentes, começam a ser exibidos – até sexta – os competidores da menina dos olhos do evento, a seção Aurora, na qual concorrem sete longas: Baronesa, de Juliana Antunes (MG); Corpo Delito, de Pedro Rocha (Ceará),Eu Não Sou Daqui, de Luiz Felipe Fernandes e Alexandre Baxter (MG); Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava, de Fernanda Pessoa (SP); Sem Raiz, de Renan Rovida (SP); Subybaya, deLeo Pyrata (MG); e Um Filme de Cinema, de Thiago B. Mendonça (SP). Para seu encerramento, no próximo sábado, Tiradentes reservou A Cidade Onde Envelheço. Exibido na Europa em 2016, em mostras competitivas em Roterdã e em San Sebastián, esta produção luso-brasileira dirigida por Marília Rocha, contemplada com o prêmio de melhor filme no último Festival de Brasília, narra o reencontro de duas amigas portuguesas em Belo Horizonte, onde as divergências de comportamento entre as duas vai ameaçar aquela relação.
Até o momento, o longa de maior comoção entre os espectadores – concorrente ao prêmio de júri popular – foi Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, sobre a ocupação de um prédio em São Paulo onde se reúnem grupos de sem-teto e imigrantes políticos. Ao fim de sua projeção rolou uma salva de palmas de cinco calorosos minutos. Quente também foi a recepção a Mulher do Pai, de Cristiane Oliveira, um drama sobre uma adolescente obrigada a lidar com seu pai, que ficou cego. A produção vai representar o Brasil na mostra Geração do Festival de Berlim (9 a 19 de fevereiro).
