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Motorrad | Suspense sobre motoqueiros é filmado em clima de aventura em Minas Gerais

Diretor de Um Homem Bom aposta no medo e no mal com vilões sob duas rodas

24.08.2016, às 12H54.

Tirar do papel, no Brasil, um thriller motorizado, com tons de terror, repleto de cenas de perseguição sobre duas rodas, como Motorrad - em filmagem atualmente no interior de Minas Gerais, sob a direção de Vicente Amorim -, pode ser uma aventura tão cheia de desafios quanto é a jornada de perigos vivida por seus personagens. Até dublê de filmes de 007 tinha no set visitado pelo Omelete, na Serra da Canastra, ao qual só chega de pick-ups 4 x4, por uma imposição da natureza: por todo lado, há pedras tamanho GG e barrancos arenosos de árduo acesso. De uma das concentrações da produção, na cidade mineira de Passos, até a locação desta vista, foi necessário encarar cerca 70 km de chão de terra, poeirento e irregular, para alcançar a equipe. Isso sem contar o fato de ser uma região de animais peçonhentos: com cascavéis e escorpiões pelo terreno, onde a qualquer vacilo, pode-se escorregar feio. 

Respeitado internacionalmente por seu trabalho dirigindo Viggo Mortensen em Um Homem Bom (2008), Amorim filma num terreno sinuoso de pedreira, num lugar onde um dia funcionou uma mina, hoje desativada. E esse é só um dos cenários visitados pelo cineasta carioca, por onde, no filme, um grupo de motoqueiros é perseguido por psicopatas com motocas paramentadas para cantar pneu (e matar) que evocam até os Transformers... (ou seus algozes Decepticons).   

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Isso aqui é um desafio logístico, sobretudo pelo fato de, nas cenas de ação, usarmos às vezes oito ou nove câmeras, incluindo um drone: é longe, é quente, é empoeirado, chove muito quando menos se espera. Tem um quê de Fitzcarraldo do Serrado”, diz Amorim, referindo-se ao cult de Werner Herzog filmado contra toda sorte de dificuldades naturais da selva amazônica. “Se você olhar bem para este cenário de pedras, desolado, parece que estamos em Marte. Mas este cenário árido se torna fundamental para uma trama que lida com o Mal em estado bruto. Tem elementos de John Carpenter, de Alien e até de O Predador, mas nada disso se gruda aqui como uma referência que salte aos olhos. Referências aqui são só um  ponto de partida na busca por uma experiência cinematográfica tensa, viva, que, diferentemente do que estamos acostumados a ver no cinema brasileiro, joga a Sociologia fora e fica com a Psicologia, mostrando pessoas diante do medo... diante de um inimigo desconhecido”. 

Tem dedo de um bamba dos quadrinhos brasileiros neste projeto de R$ 6 milhões, cujo enredo nasceu (literalmente) como um sonho de seu produtor e argumentista L. G. Tubaldini J.R. (do blockbuster O Concurso): quem concebeu os personagens foi Danilo Beyruth, o autor da HQ Bando de Dois. O ator Guilherme Prates é Hugo, um dos jovens que encaram uma trilha com amigos, novos conhecidos e algumas beldades, até ser caçado por uma gangue misteriosa. No elenco estão Carla SalleEmilio DantasJuliana LohmannPablo SanábioRodrigo Vidigal Alex Nader. Dublês estão por todos os cantos, incluindo o mexicano Javier Lambert, que trabalhou em filmes de James Bond como 007 – Permissão para Matar (1989), com Thimoty Daltonalém de Troia (2004), com Brad Pitt, e O Incrível Hulk (2008), com Edward Norton

Esta área de filmagem, do ponto de vista da geografia física, impõe muita dificuldade por ter muita pedra, o que exige ainda mais atenção de nós, dublês, para não haver nenhum acidente”, diz Lambert.

Quem são os vilões de Motorrad? Isso é mantido em segredo, assim como o visual dos perseguidores, o que alimenta o clima sombrio do roteiro, escrito por L. G. Bayão a partir do argumento de Tubaldini, que finalizará o longa para lançar em 2017.

A gente teve de encarar um deslocamento aqui, para a cidade de Delfinópolis, onde só se chega de balsa... e isso transportando motos, equipe, câmera. Passamos por muitos lugares sem estrada asfaltada, onde nem caminhonete chega. É necessário uma estrutura de 70 pessoas para levantar essa aventura aqui, incluindo três mecânicos aqui da região. As motos dos vilões, por exemplo, precisaram ser adaptadas, recebendo uma hidráulica de pneu diferente”, diz Tubaldini. “O desafio maior para um projeto como este, no Brasil, é a nossa pouca tradição em gêneros como o thriller. Levantar um filme assim exige um intenso trabalho de pré-produção, tendo uma equipe preparada para antecipar problemas. Nossa preparação consumiu três meses de trabalho. Fomos obrigados até a trazer mergulhadores para tirar uma das motos da água, numa cena subaquática que filmamos”. 

Conhecido por filmes com ritmo tenso, como Corações Sujos (2011), Amorim, que foi um dos diretores da série da GNT Romance Policial: Espinosa (2015), define Motorrad como “um brinquedo sinistro”.

Fazer cinema só interessa, como arte, se for para quebrar paradigmas, como é o caso de uma experiência que lida com instintos primais, como o medo. E aqui, é uma quebra de paradigmas de mercado, de padrão de produtores e de crítica, pois hoje, no Brasil, há um patrulhamento grande do que é ou não é relevante para se ver nas telas. E esse patrulhamento tem feito a linguagem de nosso cinema empobrecer, deixando uma sensação de que estamos sempre diante do mesmo filme”, protesta Amorim, que filma sempre trocando ideias de enquadramento com seu diretor de fotografia, Gustavo Hadba (do sucesso Faroeste Caboclo e da série global Dupla Identidade). “Não há nada mais urgente e contemporâneo no país em que vivemos do que um thriller de terror. Tenho nos meus filmes uma obsessão autoral pelo Bem e pelo Mal. E aqui, diante da tentação do Mal, paixões afloram, em nome da sobrevivência”.

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