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Piedade, novo filme do polêmico Claudio Assis, terá trama ecológica 

Cauã Reymond está na mira do cineasta, que prepara um espetáculo de dança com Deborah Colker

25.09.2016, às 18H22.

Mais polêmico de todos os cineastas brasileiros, o pernambucano Cláudio Assis (de Big Jato) começa a rodar em janeiro Piedade. O longa parece um "filme ecológico", no qual os tubarões das praias do Recife servem de metáfora para o poder político dos grandes empresários por trás de desastres ambientais. Para o papel do dono de um cinema pornô pós-moderno, o diretor de Amarelo Manga (2002) almeja ter Cauã Reymond, já contatado por sua produção, além de seus habituais parceiros Matheus Nachtergaele Irandhir Santos. O título se refere ao nome de uma cidade imaginária "onde todo mundo ferra um ao outro", diz o premiado realizador, virada do avesso pela chegada de uma empresa petrolífera que precisa expulsar os moradores locais para explorar os recursos da região.

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"Esse filme traz rasgos da minhas história familiar e aborda, como eu sempre faço, a questão das relações humanas, tendo como foco o fato de que, mesmo numa cidade onde todo mundo explora alguém, é possível se apaixonar", define Assis. "Piedade é mais do que uma cidade: é o lugar para a construção de um sonho. Um lugar de expressão. O que o meu cinema faz é mostrar para quem não nasceu em berço de ouro que é possível se expressar. Não é só a burguesia que tem direito a voz, mesmo agora em que o Brasil virou um país da direita, à base de muita mentira. O mundo hoje é da direita. Basta ver o Donald Trump, que se encaminha para liderar a nação mais colonizadora do planeta."

Mas até o início de 2017 a agenda de Assis se divide com Mundo Novo, um projeto ligado ao mundo da dança. Recém-saído de uma experiência de direção conjunta com seu conterrâneo Lírio Ferreira à frente da minissérie Ouro Velho do Canal Brasil sobre poetas populares, o realizador de A Febre do Rato (2011) hoje trabalha em parceria com a coreógrafa Deborah Colker para levantar o espetáculo Cão Sem Plumas, com base em poema de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) sobre o rio Capibaribe, que corta Pernambuco. O poema, que Assis sabe de cor, diz:

A cidade é passada pelo rio 
como uma rua é passada por um cachorro; 
uma fruta por uma espada. 
O rio ora lembrava a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão, 
ora o outro rio  de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

A ideia é que, até o fim de novembro, Colker e Assis percorram locais irrigados pelo Capibaribe, como Brejo da Madre de Deus, numa residência artística. A estreia mundial será a partir do primeiro semestre. "Estamos traduzindo João Cabral em dança", diz o cineasta. "Nossa ideia é fazer uma denúncia de como o rio está poluído e abandonado sem soarmos panfletários. Quero que as pessoas se apaixonem pelo Capibaribe por seu lado cultural. Neste momento, mais forte do que se protestar é trazer as pessoas para a cultura".

Nesta terça, Assis sobe ao placo do 49º Festival de Brasília, no encerramento do evento, para comemorar os 20 anos do filme Baile Perfumado (1996), de Lírio Ferreira Paulo Caldas, cuja equipe ele integrou. Esperam-se palavras duras em relação ao governo Temer do discurso do cineasta, famoso por sua língua ferina.

"Temer é o único presidente da História que, quando aparece em público, ninguém vê por ele ser um vampiro, sanguessuga, que diz algo pela manhã e desdiz à tarde", avalia Assis. "Se ele fosse esperto, começaria os próprios discursos gritando 'Fora Temer!', para ter alguma dignidade".

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