Domingo é dia de dois novos concorrentes ao Urso de Ouro de 2017 na seleção do Festival de Berlim, o thriller polonês Spoor, de Agnieska Holland, e o drama chileno Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lélio, mas ambos podem ser ofuscados se confirmada a vinda de Woody Allen à capital alemã, para a projeção comemorativa do filme que lhe deu seu primeiro Oscar: Annie Hall, de 1977.
Batizado no Brasil de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, o clássico do humor, filmado em Nova York a um custo estimado em US$ 4 milhões e convertido, num piscar de olhos, em um fenômeno "intelectual" de bilheteria, com uma arrecadação de US$ 39 milhões só nos EUA, está completando 40 anos. "Rever filmes me aborrece, pois eu só consigo apontar defeitos no meu trabalho, sempre que revisito algo que fiz. Mas alguns desses filmes do passado ainda são falados até hoje", disse Allen ao Omelete, no último Festival de Cannes, quando lançava Café Society.
A comédia sobre os tropeços amorosos do humorista Alvy Singer (vivido pelo diretor) com Annie Hall (Keaton) é relembrada pelos comentários de Alvy sobre temas os mais variados. "No fim dos anos 1970, Nova York era um local onde falar de filosofia era uma moda, que fazia de você alguém descolado. E isso era engraçado pra mim. Os filósofos do pós-guerra, incluindo um escritor com toques filosóficos como Marshall McLuhan, que aparece no filme, têm algo quase teatral no modo de encarar a vida, bem diferente do abstracionismo de um Hegel ou Leibniz", diz Allen.
"Filmar comédia é arrancar alegria. Fazendo cinema eu encontro meios de adocicar o que há de amargo na vida, pelo menos para os outros, pois eu nunca revejo meus filmes. Evito essa tentação. Quando revejo algo que fiz, fico pensando no que errei no set", completa.
Vencedor de quatro Oscars, de melhor filme, direção, atriz (Diane Keaton) e roteiro original, o longa-metragem ganhará sessão de gala na Berlinale na manhã deste domingo. O Festival de Berlim acontece até o dia 19.
