Presidido pelo dinamarquês Bille August, realizador de A Casa dos Espíritos (1993), o júri do 64º Festival de San Sebastián, ignorou ousadias temáticas e formais e esnobou estreias de peso, coroando a obviedade, em nome do exotismo: I Am Not Madame Bovary, produção chinesa premiada há uma semana em Toronto, recebeu o troféu Concha de Ouro de melhor filme do evento espanhol. Dirigido por Feng Xiaogang (de O Funeral do Chefão), este drama de tons cômicos acompanha a luta de uma mulher contra o sistema, após o fim de seu casamento. A protagonista, Fan Bingbing, ficou com o prêmio de melhor atriz. Coube ainda à Ásia o troféu de melhor diretor, atribuído ao sul-coreano Hong Sang-soo (de Hahaha), por uma cerebral love story: Yourself and Yours.
Essa decisão dos jurados jogou para escanteio as três produções mais badaladas (e potentes) do festival: Nocturama, de Bertrand Bonello; Orpheline, de Arnaud Des Pallières; e sobretudo Pastoral Americana, primeiro trabalho do ator Ewan McGregor como cineasta, encarado por muitos como a maior descoberta de San Sebastián em 2016. Dos títulos que mais e melhor mobilizaram a cidade durante a competição, duas produções espanholas com perfil de thriller saíram com troféus. Centrado na corrupção política do país, com base em fatos reais ligados a desvios de verbas, El Hombre De Las Mil Caras, de Albert Rodríguez, rendeu o (merecido) prêmio de melhor ator a seu protagonista, Eduard Fernández. Já o policial Que Dios Nos Perdone, de Rodrigo Sorogoyen, que eletrizou a plateia, ficou com prêmio de melhor roteiro.
Filmada pelo diretor estreante Emiliano Torres na Patagônia, o argentino El Invierno ganhou o troféu de melhor fotografia e o prêmio especial do júri, sendo este empatado com The Giant, da Dinamarca. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes, em maio, e já confirmado pelo Festival do Rio 2016 (6 a 16 de outubro), I, Daniel Blake, do inglês Ken Loach, foi premiado pelo júri popular como sendo o melhor longa de San Sebastián.
