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O alfaiate do Panamá

O alfaiate do Panamá

24.08.2001, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 12H06
James Bond haverá de concordar: os espiões não são mais como eram antigamente. Ou, pelo menos, não se parecem tanto com tipos como 007. Os agentes onipotentes e oniscientes ganharam feições mais realistas. As identidades secretas de domínio público se tornaram secretas de verdade. As missões repletas de saltos, vôos e explosões perderam o lugar para as pequenas intrigas e para relações mais verossímeis. Os lunáticos nucleares saíram, entraram os homens de política, todos mesquinhos e verdadeiramente perigosos. Perde-se em aventura, mas se adquire um ar mais confiável, plausível.

No caso de "O Alfaiate do Panamá" ("The Tailor of Panama", 2001), de John Boorman, a sua maior qualidade é atender exatamente a essas características do mundo da espionagem. Baseado no romance homônimo de 1996, do britânico John Le Carré - famoso pelo domínio sobre o gênero, em especial por "O Espião que Saiu do Frio", de 1963 - o filme narra a história de Harry Pendel (Geoffrey Rush), um alfaiate inglês às voltas com o poder na Cidade do Panamá. Depois de ser condenado na Inglaterra por sonegação, Harry resolve se exilar na América Central, adotar uma nova profissão e criar uma nova família, uma nova identidade. Depois de alguns anos de adaptação, exatamente os anos de ascensão e de derrota do golpista Manuel Antonio Noriega, Harry se consolida como um amigo de poderosos e um confidente de excluídos sociais.

A influência do alfaiate no círculo político e econômico atiça o interesse de Andy Osnard (Pierce Brosnan), um agente enviado pela Rainha para investigar e garantir a tranquilidade no Panamá. Desde o domínio de Noriega - recrutado militarmente e financiado pelo governo dos EUA durante a década de 80, até ser deposto e preso pelos mesmos norte-americanos em 1989 - o Canal, a rota marítima mais importante da América, sempre teve um futuro incerto. Com a queda do ditador, o submundo das drogas mantém um poder relativo. Osnard surge exatamente para zelar pela autonomia do governo panamenho na administração do Canal, contra a interferência do narcotráfico.

Apesar da causa justa, os métodos de Osnard são um tanto impróprios. Para ter Harry do seu lado, o chantageia com as lembranças do passado sujo e flerta com a sua esposa (Jamie Lee Curtis). Influente, mas totalmente inexperiente na arte da espionagem, o alfaiate se vira como pode para cumprir as ordens de Osnard - inclusive mente, forja informações, inventa personagens e situações. Desse jogo de interesses pessoais, políticos e mundiais fulgura o envolvimento principal do filme. Sem os foguetes de 007, a história se mantém pela tensão de conflitos iminentes. No fim, Geoffrey Rush se mostra um espião perfeito em sua faliabilidade, enquanto Brosnan diverte com uma caracterização avessa ao seu papel de agente Bond: grosseria no lugar da prudência, sacana ao invés de galanteador. Aqui, claro, o único aspecto que sobra do agente famoso é a predileção pelas mulheres.   

Imagens © Columbia Pictures

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