Os primeiros relatos da síndrome de Down surgiram mais ou menos em 1864, quando um médico inglês começou a observar certas características diferentes em algumas crianças. De lá para cá, muita coisa mudou em relação à síndrome, mas algo permanece igual: o desafio dos pais e da família dessas crianças.
Esse é o tema de O Filho Eterno, novo drama nacional que adapta o livro de Cristovão Tezza, publicado em 2007. Situada nos anos 80 - época em que a síndrome ainda era erroneamente chamada de “mongolismo” - o filme acompanha Roberto (Marcos Veras) e Cláudia (Débora Falabella), um casal que espera o primeiro filho e, ainda no hospital, fica sabendo que o pequeno Fabrício é uma criança com Down.
A partir dessa premissa, a produção toca em muitos pontos duros, porém cruciais, para as famílias de crianças com deficiência. Sentimentos como culpa, negação, medo, rejeição, etc., surgem, com o personagem de Veras sendo responsável pela maior parte deles. Enquanto a mãe tenta de tudo para cuidar do filho e estimular seu desenvolvimento, o pai não acredita que aquilo está acontecendo. Ele vê a criança como alguém com “defeito”, pesquisa possíveis “curas” e tem atitudes e falas que surpreendem pela frieza.
Veras, conhecido por fazer comédia, surpreende no papel dramático e entrega uma atuação sólida, que horas faz odiar, horas faz sentir pena do personagem. Já Débora Falabella mantém a consistência do seu trabalho, mostrando as dificuldades em lidar com a criança, e com a rejeição do próprio marido. Esse, inclusive, é um ponto muito importante retratado na trama: muitos pais de crianças com deficiência passam por sérios problemas no relacionamento, seja porque um não concorda com o outro, seja por “culpar” o companheiro pela deficiência.
Conhecido por séries e documentários, o diretor Paulo Machline conduz bem a trama, que apesar de mostrar 12 anos da vida da família, não fica cansativa pois pula para momentos cruciais, sempre perto dos jogos da Copa do Mundo. O Filho Eterno não oferece grandes respostas, ou métodos de como cuidar de uma criança com síndrome de Down. Ao invés disso, mostra como todos podemos ser falhos em relação a essa questão e o quanto qualquer deficiência precisa ser encarada com mais aceitação, paciência e carinho.
Ano: 2016
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Duração: 86 min
Direção: Paulo Machline
Roteiro: Leonardo Levis
Elenco: Marcos Veras, Débora Falabella