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O Matador | Crítica

Filme brasileiro da Netflix capricha no visual, mas não acredita em seu protagonista

14.11.2017, às 15H53.
Atualizada em 16.11.2017, ÀS 10H13

Quando teve seu primeiro trailer divulgado, O Matador gerou muita expectativa. Primeiro por ser a estreia da Netflix em filmes originais brasileiros, e segundo por ser um faroeste situado no sertão brasileiro. Uma história totalmente nossa, que tinha tudo para dar certo, mas o filme apresentado por Marcelo Galvão não alcança o esperado e o maior problema é a ausência de seu protagonista, o Cabeleira.

Acompanhamos sua história desde o começo, quando foi encontrado ainda bebê pelo matador Sete Orelhas. Apesar de ser um homem duro, Sete Orelhas adotou o garoto e resolveu criá-lo, mas um dia foi para a cidade mais próxima e não voltou. Depois de esperar por anos, Cabeleira resolve ir atrás dele e saber o que aconteceu. Com essa premissa, a relação entre Cabeleira e Sete Orelhas é o ponto crucial para conectar o público com a história, mas isso não foi bem desenvolvido.

Em uma tentativa clara de retratar o homem do sertão, o roteiro de Marcelo Galvão confunde dureza com falta de empatia e não entrega personagens com os quais conseguimos nos relacionar. A relação entre pai e filho é inexistente e isso tira o peso do abandono do garoto. O ponto de mudança da história - a saída de Cabeleira para buscar o pai - também se prejudica por essa falta de emoção e fica difícil torcer pelo sucesso da jornada.

Essa ideia central também se enfraquece quando o próprio personagem abandona essa jornada, que era a sua maior motivação, para se tornar o maior matador do lugar. Embora exista uma pequena justificativa para isso, parece que tudo não passou de uma conveniência do roteiro para colocar o personagem na cidade.

Ao longo de sua trama, O Matador mostra várias características do sertão na época: os próprios matadores, a violência contra a mulher, a compra de terras do Pernambuco por estrangeiros, etc. Tudo isso é extremamente relevante, mas dosado de forma errada e a consequência é que o próprio protagonista some do filme durante muito tempo. Seria mais interessante, por exemplo, se o próprio Cabeleira participasse e levasse o público através dessas histórias, mostrando seu desenvolvimento enquanto personagem.

Quando ele volta a ser o foco, sua relação com um novo garoto é interessante, inclusive corrigindo alguns pontos onde o filme errou no começo. Mas isso já acontece com mais de uma hora de filme e não há mais tempo para explorar o personagem de forma satisfatória. O clímax apressado quebra as expectativas e sacrifica um momento crucial, onde o filme poderia ter mostrado todo o seu potencial como um faroeste.

Sobre a parte técnica, a fotografia do nordeste é caprichada e a edição de som traz pequenos ruídos e detalhes que ajudam na imersão àquele universo. Já os efeitos visuais aparecem poucas vezes e são um demérito forte para o filme. As cenas em questão não são obrigatórias dentro da história e evidenciam um fundo verde que não precisava aparecer.

No fim, O Matador é um filme com visual caprichado, que agrada quem já foi ao nordeste ou é natural da região. Uma pena que conhecemos tão pouco de Cabeleira, um homem que parece ter feito coisas incríveis no sertão, mas ninguém viu.

Nota do Crítico
Regular
O Matador
O Matador

Ano: 2017

País: Brasil

Direção: Marcelo Galvão

Roteiro: Marcelo Galvão

Elenco: Maria de Medeiros, Diogo Morgado, Mel Lisboa

Onde assistir:
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