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O Procurado

Filme não tem nada a ver com a HQ. Tem, sim, idéias próprias

21.08.2008, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H39

O tempo inteiro o filme O Procurado desafia as leis da física, mas, se comparado com a HQ que lhe deu origem, fica parecendo até realismo à la Batman Begins. O filme tem carros que dão saltos mortais e tiros que fazem curva, mas a minissérie em quadrinhos do roteirista Mark Millar e do desenhista J.G. Jones tem em suas realidades alternativas um nazista viajante do tempo, um africano imortal, um vilão feito de fezes e outro que literalmente pensa com a cabeça de baixo.

Tirando a premissa - cara com emprego miserável descobre ser herdeiro de um dos maiores assassinos do mundo - o filme e a HQ têm pouco em comum. O primeiro é um thriller de ação e conspiração, o segundo é uma provocação com o universo dos super-heróis e dos super-vilões. No traço de J.G. Jones os protagonistas se parecem com Eminem e Halle Berry. No filme são interpretados por James McAvoy e Angelina Jolie.

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McAvoy é Wesley Gibson, sujeito cuja insignificância se resume pelo resultado zero das buscas por seu nome no Google. Jolie é Fox, uma assassina da sociedade secreta centenária Fraternidade, que aparece para avisar que o pai de Wesley, que ele sequer conhecia, foi morto. A missão de Wesley é vingá-lo - e aceitar que seu destino não é ser um loser das 9h às 18h, mas um fodão em tempo integral.

Se em Guardiões da Noite o diretor russo Timur Bekmambetov cobria de efeitos um roteiro macarrônico, agora cobre de efeitos um roteiro minimamente depurado, o que já faz toda a diferença. Dá até pra atentar às boas sacadas visuais que não têm a ver com computação: a mira infra-vermelha sobre a pinta na testa da indiana, o rosto de Wesley visto pelo galão de água, o caminhão de gatos de cabeça balançante, a fusão das luzes do túnel para a banheira revigorante...

Não dá para esperar muita profundidade de O Procurado. Dura um segundo o questionamento de Wesley, "quem sou eu?" - depois de se perguntar, corta rápido e no plano seguinte ele mesmo dá a resposta. Bekmambetov só rende-se a um plano mais demorado se for estritamente necessário, como quando o close-up se prende no rosto de Jolie - bela como nunca - antes dela soltar uma frase importante. Espera-se que um filme de ação não dê tempo para o espectador respirar, e essa regra O Procurado segue religiosamente, sem perder o fio dramático.

Religiosidade, curiosamente, é um elemento que não existia na HQ e que Bekmambetov insere de forma velada. O subtexto é forrado de cristandades: o líder da Fraternidade fala em rebanho de ovelhas, há velas por todos os lados, Wesley deve seguir o caminho do pai, o respeito à mensagem cifrada lembra a Bíblia. E quando precisa buscar as raízes do grupo o protagonista vai a uma abadia na Europa. O Procurado não é um filme profundo, "de temas", mas provoca, tem idéias e invenção. Hoje em dia isso já é uma vitória.

Só seria melhor se o filme não conversasse com o espectador - e nisso se assemelha negativamente à HQ - com tanto menosprezo, do tipo "pare o que você está fazendo e me ouça". Em dois momentos, no começo e no fim, a narração em off de James McAvoy esgarça o ar de superioridade misturado com auto-ajuda. Precisava mesmo?

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