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Manja-se O Vôo da Fênix (Flight of the Phoenix, 2004), refilmagem de um drama de 1965, depois de alguns minutos. O piloto Frank Towns (Dennis Quaid) sobrevoa o deserto da Mongólia para fechar mais um poço de petróleo malfadado. De carona, apanha a recém-demitida equipe de Kelly (Miranda Otto) que falhou em achar o combustível. Ao atravessar uma tempestade, o avião cai, se destroça. Salvam-se alguns, mas as esperanças de resgate não são nada animadoras - ninguém se arriscaria por um bando de refugos perdidos no meio do nada.
A questão principal: alguém duvida que esses perfuradores fracassados provarão ao descrente piloto o seu glorioso valor na tentativa de remontar o avião? É isso que uma fênix faz, afinal, renascer das cinzas...
No original dirigido pelo mestre Robert Aldrich (1918-1983), baseado no livro homônimo que Trevor Dudley Smith (1920-1995) escreveu em 1964, a previsibilidade não era problema. Trata-se da típica obra que expõe homens aos perigos da natureza. O desespero e o instinto de sobrevivência revelam o que há de muito bom e de muito ruim no nosso caráter. Dá para tirar bons ensaios morais desse subgênero hoje em dia mal utilizado.
O remake de 2004 não tem nada disso. O diretor irlandês John Moore (Atrás das linhas inimigas), mero carregador de piano, não imprime o seu estilo. Os personagens são rasos. Os conflitos, risíveis. Mas de tão ruim, caso clássico, o filme rende ótimo humor involuntário. Mais do que isso, O Vôo da Fênix se revela um novo Top Gun no quesito... homoerotismo.
Temos aqui algumas pistas. Depois de dias da queda, depois que os ânimos se acirram e a paciência acaba, nenhum daqueles mais de dez homens sequer esboça uma piada ou uma cafajestagem com a única mulher do grupo. Quando botam para tocar "Hey Ya" no rádio, tudo muda: machões se contagiam de alegria, dançam juntos, suam e se enxugam debaixo de sol. Há todo tipo de musculoso aqui, desde o negro com tapa-olho até o ruivo com pinta de escocês. Faltaram o bombeiro, o marinheiro e o encanador.
Mas nada é tão emblemático dessa atmosfera gay do que o clima que pinta entre o piloto e o mirrado projetista interpretado por Giovanni Ribisi. Os dois instauram uma rivalidade velada pelo comando do grupo que beira a atração enrustida. De um lado, a barriga de tanquinho do durão Quaid. Do outro, a carência do manhoso Ribisi. Rola até um "whos your daddy?" esclarecedor quando os dois finalmente se acertam.
Lembra os melhores momentos da rivalidade entre Tom Cruise e Val Kilmer no filme de 1986. Deve ter algo muito afrodisíaco nesses aviões...
Ano: 2004
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 113 min
Direção: John Moore
Roteiro: Scott Frank, Edward Burns
Elenco: Dennis Quaid, Tyrese Gibson, Giovanni Ribisi, Miranda Otto, Tony Curran, Jacob Vargas, Kirk Jones, Hugh Laurie, Scott Michael Campbell, Kevork Malikyan, Jared Padalecki, Bob Brown