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Crítica

Olmo e a Gaivota | Crítica

Em seu novo filme, a diretora de Elena ainda tem dificuldade em transformar performance em cumplicidade

04.11.2015, às 15H19.

Olívia Corsini integra a companhia teatral parisiense Théâtre du Soleil, cuja releitura de A Gaivota, de Tchekov, envolve dança - é o que nos diz a primeira cena do documentário Olmo e a Gaivota (2015). Olívia em seguida descobre que terá um filho, e um problema de saúde coloca em risco a gravidez. A atriz terá que ficar nove meses em casa, enquanto seu parceiro pessoal e profissional, Serge Nicolai, continua ensaiando com a companhia, às vésperas de uma montagem de A Gaivota nos Estados Unidos.

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O filme da brasileira Petra Costa e da dinamarquesa Lea Glob acompanha Olívia e Serge na casa do casal, enquanto Olívia reconta seu passado, fala de seus medos e dos planos para o futuro. Seu perfil e seu arco são parecidos com o de Elena Andrade, a irmã de Costa, tema do primeiro longa da diretora, Elena: ambas vivem em função de se expressar pela arte, e uma condição radical impede essa expressão; no caso de Elena era a depressão, no de Olívia, a gravidez de risco.

Nas duas vezes, Petra Costa se oferece menos como condutora da história e mais como um canal de comunicação que permita que a expressão de suas "musas" sobreviva, por meio desses filmes. Em Olmo e a Gaivota, logo a diretora interfere naquilo que registra, inclusive pedindo para Olívia e Serge atuarem de certa forma, assumindo posturas distintas enquanto discutem seu relacionamento. A figura de Costa se impõe como a diretora de cena de uma peça que Olívia passa a estrelar na intimidade, a da sua própria vida.

Se essa proposta ajuda Olívia Corsini a encarar o isolamento e a abstinência do teatro, fica difícil dizer por Olmo e a Gaivota. O que fica evidente é que a impressão deixada antes por Elena - de ser um projeto de vaidade antes de ser um projeto de investigação, incapaz de se indispor com seus documentados - persiste neste novo filme. Petra Costa faz o espectador notar seu olhar o tempo todo, na insistência em tirar e colocar as coisas em foco. Quando pede que o casal inverta papéis numa discussão, ela corta a cena logo em seguida: o que parece importar não é o eventual resultado dessa inversão, mas a demonstração de poder.

Evidentemente há muitos egos em jogo em Olmo e a Gaivota - o da diretora poliglota, o da atriz que se julga melhor que sua substituta em A Gaivota - mas todos se comportam como se essa premissa não existisse. Da mesma forma que Elena se contentava em se alimentar do mistério, sem fazer ou responder questões importantes sobre a irmã de Costa, Olmo e a Gaivota também cria um véu de um acordo criativo cuja finalidade nunca fica clara.

É por isso que alguns momentos importantes geram um curto-circuito na relação, como quando Costa pergunta a Olívia sobre adultério. A atriz diz que não quer saber de falar de infidelidade, e a reação de Olívia é curiosa, acima de tudo, pela perplexidade com que ela recebe a pergunta - como se esse aparte de Costa, agora para valer, fosse uma estranheza, depois de meses de acompanhamento. Essa cena exemplifica bem como a relação do filme com seus personagens tem dificuldade de passar da performance e alcançar uma cumplicidade de fato.

Nota do Crítico
Regular
Olmo e a Gaivota
Olmo & the Seagull
Olmo e a Gaivota
Olmo & the Seagull

Ano: 2014

País: Brasil/Portugal/Dinamarca/França

Classificação: 14 anos

Direção: Petra Costa, Lea Glob, Petra Costa

Elenco: Olivia Corsini, Serge Nicolai

Onde assistir:
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