Caco Ciocler como Overman durante as gravações do filme do herói brasileiro

Créditos da imagem: Pedro Macedo/Yuzú/Divulgação

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Overman aposta na brasilidade de herói criado por Laerte: Deadpool com Macunaíma

Omelete acompanhou filmagens no Rio do longa-metragem que satiriza o gênero

Omelete
5 min de leitura
30.08.2023, às 11H00.

Super-herói brasileiro nascido da mente fértil da cartunista Laerte Coutinho nos anos 90, Overman vai alçar novos voos em breve, com a adaptação das tirinhas para o cinema. Segundo o cineasta Tomás Portella, o protagonista anárquico e quixotesco é uma mistura de Deadpool com Zé Carioca ou Macunaíma, que tem lá suas questões existenciais peculiares - como não ter uma história de origem para chamar de sua - e dificuldades reais que os meros mortais conhecem bem.

Ele tem problema com jogo, com alcoolismo. Sai da pensão voando porque não tem dinheiro para pagar o aluguel, está lutando para sobreviver. É quase uma metáfora sobre o que é preciso para sobreviver nesse país”, conta o diretor em conversa com o Omelete durante uma pausa nas filmagens em uma sala comercial no centro do Rio.

No longa produzido pela Migdal Filmes, a missão de encarnar a versão em carne, osso e músculos fake do super-herói brasileiro coube a Caco Ciocler - que nunca havia se imaginado interpretando um personagem do tipo, ainda mais às vésperas de completar 52 anos. Mas estar no lugar certo, na hora certa, ajudou.

Assim que chegou à estreia do filme La Situación, dirigido por Portella, o visual marcante que usava por conta de seu personagem na série Americana, do Star+ (“uma costeleta com bigode, uma coisa meio ‘wolverinesca’”), chamou a atenção da produtora Iafa Britz. Só faltava demonstrar ao cineasta que o ator, conhecido por papéis dramáticos e densos no cinema, no teatro e na TV, não se levava a sério demais.

Tomás me chamou para um teste, queria saber se eu era bagaceiro (risos). Parece que eu convenci”, brinca.

Já no teste, Ciocler vestiu a camisa (no caso, um figurino improvisado pela produção, com capa, máscara e tudo). Mas a vestimenta oficial, no dia a dia, exige bem mais trabalho para estar sempre impecável em cena, sem que a touca ou o cabelo do intérprete apareçam ou a capa amarela enrosque no sofá, por exemplo. Além disso, entre um take e outro, um ventilador precisava ser acionado para refrescar minimamente o apertado set, de pouco mais de 20m². O cuidado extra tem motivo: a pausa para o almoço é o único momento do dia em que Ciocler deixa o uniforme roxo com enchimento de lado.

Caco Ciocler e o diretor Tomás Portella nos bastidores de Overman

Caco Ciocler e o diretor Tomás Portella nos bastidores de Overman

Pedro Macedo/Yuzú/Divulgação

Na primeira diária, tentei tirar só a parte de cima, mas na hora de fazer xixi foi difícil. Era uma ginástica”, lembra.

Ok, mas gravar as cenas em que Overman voa deve ter sido divertido, certo? “Foi a maior decepção da minha vida! Nunca me senti tão preso, você fica todo amarrado, pendurado… É muito desconfortável. A não ser o guindaste, em que prende o ganchinho e você nem sente”, diz Ciocler, abrindo os braços e o sorriso, simulando a postura de estar sendo erguido no ar.

Cargo na Secretaria de Segurança Pública

Na trama, que tem roteiro assinado por Arnaldo Branco, Leandro Soares e Tomás Portella, Overman recebe do Governador (Otávio Muller) uma proposta de trabalho na Secretaria de Segurança Pública. O convite é assunto de uma de suas muitas sessões com o Dr. Lights, psicanalista interpretado por Raphael Logam. E não é porque seu personagem não tem superpoderes que o ator de Impuros deixa de se divertir em cena.

Em uma das sequências do dia, Overman trocava de lugar - literalmente - com o terapeuta. Na hora em que o herói tira Lights de sua poltrona e o coloca no divã, Logam viu a oportunidade de colocar uma pitada extra de humor, com um movimento corporal “meio Didi Mocó”. Tomás aprovou, dizendo que no plano fechado a ideia funcionaria. Pouco depois, a equipe providenciou caixas para dar suporte ao ator. Depois de algumas repetições durante o ensaio, ele brincou: “Por que fui inventar de fazer isso?”. Mas, na hora de conferir a cena gravada, ele se deu por satisfeito e caiu na gargalhada.

Sou muito fã da Laerte. Como espectador, espero que o filme tenha a repercussão do tamanho dela, que é gigante”, torce Logam.

Raphaelm Logam e Caco Ciocler durante as gravações de Overman

Raphaelm Logam e Caco Ciocler durante as gravações de Overman

Pedro Macedo/Yuzú/Divulgação

Ter a aprovação da cartunista no projeto, aliás, era um ponto fundamental para Portella. “Recebemos a bênção para o roteiro, isso foi super importante. Cheguei a pedir: ‘Me avisa quando você ler’. Fiquei um pouco intimidado”, admite o cineasta.

Ao mesmo tempo em que busca atualizar o personagem para os tempos atuais, o filme traz das próprias tirinhas elementos para discussão, como a masculinidade tóxica do protagonista. “Ele não sabe perder. Quando tem uma mulher para dividir emprego com ele, como a Pâmela [personagem interpretada por Karina Ramil], ele não aguenta”, conta Ciocler.

Sátira assumida aos filmes de super-herói, Overman tem referências a produtos do gênero - como a voz impostada e soturna do personagem, inspirada na performance de Christian Bale na trilogia Batman - mas sem nenhuma ambição de tentar ser uma produção hollywoodiana. Portella foi assistente de direção do filme O Incrível Hulk (2008), que teve cenas rodadas no Rio, e viu na prática que é impossível fazer essa comparação.

Eles filmavam quatro ou cinco planos por dia. A gente deve fazer, em média, de 25 a 30. E tempo é o que mais custa dinheiro em cinema. Não dá para gente ter no nosso filme aquela visão de todos os ângulos da cena, temos o ponto de vista do personagem e é isso. Temos que usar nossas próprias armas”, opina.

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