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Crítica

Pequeno Segredo | Crítica

Representante brasileiro no Oscar não é muito mais que um filme caseiro sentimental

09.11.2016, às 11H51.
Atualizada em 15.02.2017, ÀS 19H02

Em tempos de emoções exacerbadas nos fóruns públicos, do inconformismo ao ódio puro, é sintomático que Pequeno Segredo seja o candidato brasileiro a uma vaga no Oscar, um filme que opera na superfície do sentimentalismo, mais ligado com os formatos das telenovelas brasileiras do que necessariamente com o que se entende por dramaturgia no cinema.

É tudo muito imediato na história da menina Kat e de seus pais velejadores, Heloisa e Vilfredo, trama que se cruza com a de um australiano que se apaixona por uma brasileira no Nordeste. Da rotina difícil de Kat na escola (por ter uma família que vive no mar, o seu dia a dia em terra passa por problemas de socialização) ao primeiro contato do gringo com a nordestina, Pequeno Segredo trata potenciais conflitos como dados consumados, e se exime de desenvolvê-los ou mesmo de narrá-los, como se o espectador realmente prescindisse de conhecê-los, já que seus resultados são os mais previsíveis (paixão instantânea no caso do casal, devoção paternal e proteção extremada no caso de Kat).

O exemplo mais latente dos caminhos do sentimentalismo é a subtrama do australiano, Robert (Erroll Shand), com a brasileira Jeanne (Maria Flor). O filme realiza uma série de elipses de tempo para resumir o relacionamento dos dois ao mais melodramático: Robert persegue Jeanne, a brasileira se entrega, Robert vacila quando precisa tomar uma decisão, e a consequência é uma violência que atinge o casal. Tudo o que está nos intervalos dessas viradas, e que particularmente ajudariam a dar mais consistência a Jeanne como personagem (as razões das brigas, das decisões de ir e vir), é ignorado por Pequeno Segredo em nome dos eventos mais "novelescos" e de impacto.

Não convém aqui entrar em detalhes sobre a subtrama de Kat, para preservar o pouco que o filme tem a oferecer ao seu espectador: as revelações sobre os laços familiares que acabam unindo as histórias de Kat, seus pais, Robert e Jeanne. É muito provável, de qualquer forma, na esteira das controvérsias da indicação ao Oscar, que o leitor já saiba tudo sobre essa jornada pessoal baseada em fatos. Alçado bizarramente a esperança brasileira na premiação da Academia, Pequeno Segredo nunca deixa de ser um projeto da família Schurmann para homenagear um dos seus, cheio de close-ups filmados em digital lavado que acabam reforçando ainda mais sua estética televisiva, e parece até injusto reivindicar que esse filme caseiro tenha algum compromisso com os conflitos e as problematizações de que são feitos os dramas de cinema de verdade.

Nota do Crítico
Regular
Pequeno Segredo
Pequeno Segredo

Ano: 2015

País: Brasil, Nova Zelândia

Classificação: 10 anos

Duração: 108 min

Direção: David Schurmann

Roteiro: Marcos Bernstein

Elenco: Júlia Lemmertz, Maria Flor

Onde assistir:
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