Outro dia estava me perguntando por que todo homem acha que uma mulher vai chegar para ele e se atirar em seus braços, pronta para uma noite de muito sexo. A única resposta que cheguei foi que a culpa deve ser dos filmes pornôs, cujas "histórias" se resumem a uma mulher chegando e se atirando para cima - e para todos os lados, na verdade. A verdade é que isso não acontece, mas e se acontecer, qual seria a reação, já que não somos atores de filmes "XXX"?
Não acredito que o cineasta Juan Taratuto (Não é Você, Sou Eu) tenha imaginado isso tudo quando teve a idéia de Quem Disse que é Fácil? (¿Quién dice que es fácil?, 2007), mas essa é a mais ou menos a situação que dá início ao seu segundo longa-metragem, mais uma vez protagonizado por Diego Peretti.
Quem Disse que é fácil?
Quem Disse que é fácil?
No papel do certinho Aldo, Peretti constrói um personagem caricato de tão metódico que é. Sua necessidade por fazer tudo dentro do planejado é quase um TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), com checagens constantes do gás contra vazamentos, graxa no sapato, camisa para dentro da calça e colete, cardápio congelado para todas as refeições e uma rotineira tarde com os amigos na pista de autoramas na qual tem um time.
O controlado dia-a-dia começa a mudar quando ele aluga um apartamento vizinho ao seu para Andrea (Carolina Pelleritti), uma fotógrafa que passou os últimos 15 anos de sua vida rodando o mundo e agora voltou à Argentina. A liberdade dela é inversamente proporcional ao medo que ele tem por novidades e se reflete nas amizades e até nas suas vidas sexuais. Quando ela o "ataca", o resultado é patético e constrangedor, como boa parte do primeiro ato do filme, que tenta ser uma comédia, mas só consegue arrancar momentos de vergonha alheia.
A virada acontece quando os dois assumem o relacionamento. As disparidades entre os estilos de vida e pensamentos criam um drama que faz pensar e pode até emocionar, principalmente nas cenas envolvendo o pai de Aldo (Andrés Pazos), raiz do jeito solitário do filho quarentão.
Conseguiriam duas pessoas tão diferentes se dar bem e viver felizes para sempre? No cinema, seja ele feito em Hollywood ou Buenos Aires, a resposta para essa pergunta é bem óbvia, o que torna o desfecho bastante previsível como qualquer comédia romântica - ou filme pornô.