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Real Beleza | Crítica

Ao se arriscar no drama "sensível" Jorge Furtado faz um filme de platitudes

06.08.2015, às 18H38.

É possível amar e ser amada na meia-idade. A beleza às vezes está onde menos reparamos. É a efemeridade que torna a juventude tão fascinante. Não só a vida mas também os livros têm muito a ensinar. Dá pra ficar enumerando os bons ensinamentos de Real Beleza, o novo longa de Jorge Furtado, um filme feito disso que podemos chamar de "senso comum sensível".

Na trama, o fotógrafo João (Vladimir Brichta) procura candidatas a modelo em cidades do interior gaúcho. Ele se encanta com Maria (a modelo e atriz novata Vitória Strada), e acaba se envolvendo com a mãe dela, Anita (Adriana Esteves), nos dias em que aguarda a chegada do pai (Francisco Cuoco) de Maria para conseguir dele a permissão de profissionalizá-la.

Conhecido pelas comédias que partem da crônica social e comportamental, como O Homem que Copiava e Meu Tio Matou um Cara, Furtado tenta aqui manter sua matriz (a história do fotógrafo nasce de um comentário sobre a mercantilização e a banalização das coisas) mas trabalhar com outro gênero, o drama burguês - popular em países como a França mas raro na cinematografia brasileira. É uma mudança de chave arriscada, não só porque Furtado sempre pendeu aos motivos de esquerda, aos marginalizados (e o drama burguês trata, no fundo, de privilégios de classe), mas também porque sua especialidade sempre foi o humor.

O resultado, como se poderia esperar de uma experiência de tatear terreno "inimigo", é um filme que se contenta com platitudes. É o tal senso comum sensível que guia a história de João e Anita, combinado com o zelo pelo bom gosto, nas cenas de nudez do casal, nas interações educadas entre personagens. Ao buscar um filme de gravidade, reflexivo, Furtado acaba fazendo um filme de climão, engessado, solene, e que principalmente negligencia a feiúra - contraparte essencial para entendermos o belo.

Há alguns vislumbres de "feiúra" em Real Beleza, como na cena, a melhor do filme, em que João, de costas, vacila por um instante antes de se virar para Maria, temeroso de que ela tire a roupa ao pedir uma fotografia. A nudez da jovem e o convite à transa seriam uma lembrança de como as coisas são de fato - a facilidade do sexo, da negociação social mais básica. Mas o filme não segue por esse caminho. Ninguém é ameaçado de morte nos triângulos amorosos de Real Beleza; nem o adolescente com toda a vocação para psicopata do campo se oferece como perigo a nada. E então este pequeno drama burguês se encerra, na ilusão de que o mundo é organizado não pelos nossos instintos mas pelas boas intenções.

Nota do Crítico
Regular
Real Beleza (2015)
Real Beleza
Real Beleza (2015)
Real Beleza

Ano: 2015

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 97 min

Direção: Jorge Furtado

Roteiro: Jorge Furtado

Elenco: Vladimir Brichta, Adriana Esteves, Francisco Cuoco

Onde assistir:
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