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Crítica

Resident Evil 5 - Retribuição | Crítica

Paul W.S. Anderson começa a encontrar, enfim, o curto-circuito ideal entre games e a mecânica do cinema de ação

17.10.2014, às 14H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Videogames não rendem bons filmes por culpa dos realizadores ou o problema seria uma incompatibilidade entre as duas mídias? Resident Evil 5 - Retribuição (Resident Evil: Retribution), o melhor filme da cinessérie livremente baseada no jogo de survival horror da Capcom, também é a melhor tradução de um game para o cinema até hoje, justamente por colocar essa transposição em evidência, e em discussão.

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O roteirista e diretor Paul W.S. Anderson, que faz dessas adaptações seu nicho desde Mortal Kombat (1995), vem cada vez mais dando a seus filmes uma interface de jogo - como já prenunciava Corrida Mortal, com seus enunciados dispostos na tela como se fossem HUD (heads-up display, as informações vitais de energia e munição nos cantos dos jogos). O que não deixa de ser uma inversão curiosa: enquanto a tendência em games, há anos, é eliminar o HUD para deixar a experiência mais próxima do cinema (a própria Capcom fez isso com seus Resident Evil), Anderson deixa no HUD, ou no "extra-filme", por assim dizer, as informações mais básicas que botam a narrativa em movimento.

Isso já fica claro no começo de Retribuição. Como a essa altura das reviravoltas ninguém entende mais o que se passa na cruzada de Alice (Milla Jovovich) contra a Corporação Umbrella, a personagem surge em um monitor para fazer um resumão dos quatro filmes anteriores. É a primeira pista dessa tendência de Anderson de realocar no "extra-filme" tudo aquilo - contextualização, exposição - que não se refere à ação em si. Em certa cena, em que Jovovich ensina Michelle Rodriguez a usar uma arma, ela diz que "é como uma câmera, basta apontar e atirar". Essa frase sintetiza a obra de Anderson - uma visão de cinema ao mesmo tempo simples e simplista -, que trata o espaço diegético como o domínio da ação e da ação apenas.

Talvez seja pensando nisso que Anderson promove neste quinto filme a volta de uma figura que estava ausente desde o primeiro longa, a inteligência artificial Rainha Vermelha. A menininha sinistra computadorizada (agora interpretada por Megan Charpentier) é não apenas o principal elemento do "extra-filme" em Retribuição, dando informações que situam e movem a trama, como também se comporta como mestre do jogo, acionando cenários e chefes-de-fase a cada missão de Alice e seus amigos. O fato de Retribuição se ambientar inteiro numa instalação de testes da Umbrella, de onde a heroína precisa fugir, obviamente dá ao filme uma cara de game, mas é mais nas escolhas de direção de Anderson do que no argumento em si que esse parentesco se estabelece de fato.

Até aqui, nada de muito espetacular, constatações apenas. Já houve filmes que também tentavam emular a fruição dos games (como a tosca cena em primeira-pessoa de Doom - A Porta do Inferno), Gamer continua sendo o mais arrojado deles todos, e essa disposição de Anderson dividir as cenas em mapas e grades tridimensionais talvez seja só uma forma de copiar Tron (a trilha sonora assinada pela dupla tomandandy chupa Daft Punk vergonhosamente). O que diferencia Resident Evil 5 - Retribuição mesmo é que, no meio de toda a mecanização (do universo do filme e da própria narrativa), Milla Jovovich continua sendo singularmente humana, uma presença falha - o corpo magro, o timbre de voz vacilante, o sorriso ainda de adolescente - à prova de automações.

Anderson, que afinal de contas é o marido da atriz, sabe perceber as qualidades de sua musa; e a luta da humana para não ser apenas um clone ou um zumbi, no fim, acaba sendo o grande mote de Alice. Muitos fãs torcem o nariz, porque a personagem não existe nos games de Resident Evil (aliás, é dos jogos que sai um dos poucos alívios cômicos deste quinto filme, uma cena sobre a relação de Leon e Ada Wong), mas Milla Jovovich fornece, desde o momento crucial em que surge seminua numa câmara kubrickiana de isolamento, o necessário lastro físico que garante que Retribuição não seja só um exercício de metalinguagem para o espectador médio, um filme onde os personagens dizem que a Máquina é capaz até de fazer nevar - e onde, na cena climática de luta, constatamos que a neve cai de verdade.

Resident Evil 5 - Retribuição | Cinemas e horários

Resident Evil 5 | Omelete entrevista Michelle Rodriguez

Resident Evil 5 | Omelete entrevista Paul W.S. Anderson

Resident Evil 5 | Omelete entrevista Milla Jovovich

Nota do Crítico
Ótimo
Resident Evil 5: Retribuição
Resident Evil: Retribution
Resident Evil 5: Retribuição
Resident Evil: Retribution

Ano: 2012

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 97 min

Direção: Paul W.S. Anderson

Roteiro: Paul W.S. Anderson

Elenco: Milla Jovovich, Sienna Guillory, Michelle Rodriguez, Aryana Engineer, Li Bingbing, Boris Kodjoe, Johann Urb, Robin Kasyanov, Kevin Durand, Ofilio Portillo, Oded Fehr, Colin Salmon, Shawn Roberts, Megan Charpentier, Ali Larter, Wentworth Miller, Spencer Locke, Anna Bolt, Indra Ové, Heike Makatsch, Sandrine Holt, Liz May Brice, Thomas Kretschmann

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