Milhem Cortaz e Thiago Martins no filme Carga Máxima (Netflix/Divulgação)

Créditos da imagem: Guilherme Leporace, Alisson Louback/Netflix/Divulgação/Divulgação

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Criatividade, adrenalina e perrengue: um dia no set de Carga Máxima

Primeiro filme de ação brasileiro da Netflix aposta na criatividade para driblar baixo orçamento

Omelete
5 min de leitura
25.09.2023, às 14H40.
Atualizada em 26.09.2023, ÀS 20H32

Era um sábado, às 8h, e já estávamos na estrada rumo a uma parte incompleta dos trechos 4 e 5 do Rodoanel, na Grande São Paulo. Lá, a Netflix gravou algumas cenas de seu primeiro filme brasileiro de ação, Carga Máxima. Estrelado por Thiago Martins, Sheron Menezzes, Milhem Cortaz e Raphael Logam, o longa-metragem apresenta o universo da Fórmula Truck, uma corrida de caminhão genuinamente brasileira, com uma trama cheia de adrenalina.

No filme, Martins interpreta o protagonista Roger, um jovem piloto da competição de caminhão que tem uma relação conturbada com o pai e a ex-namorada, interpretada por Menezzes. Apesar de habilidoso, o protagonista compete com uma equipe que vai mal nas pistas. Assim, para sustentar a família, ele concorda em transportar uma carga misteriosa para um homem perigoso.

“Ele aprende a lidar com outras circunstâncias”, conta Martins, que nunca havia dirigido um caminhão antes do filme. “Já fui cobrador de kombi, sou habilitado em carro e moto, mas caminhão foi a primeira vez. Como o Roger acaba se envolvendo comem roubo de carga, eu tive que conhecer todos os detalhes do caminhão, desde mecânica até dirigir um caminhão com carreta.”

Bastidores do filme Carga Máxima
Guilherme Leporace, Alisson Louback/Netflix/Divulgação/Divulgação

Enquanto isso, no núcleo dos vilões, Milhem Cortaz é responsável por interpretar o contrabandista Fumaça, o homem com quem o protagonista se enrola. Cortaz diz que seu personagem é complexo e desconta a solidão em ações no crime organizado. Ainda assim, para ele, a preparação para viver o vilão “foi muito tranquila”. “Foi um presente. Há muito tempo eu não fazia um processo tão divertido, a ponto de a gente rir no meio do planejamento”, conta, comemorando a valorização que o diretor dá para o elenco. 

Ainda na onda de personagens complexos, temos o ator Raphael Logam como Danilo, um amigo de Roger que está disposto a tudo pela filha. O ator descreve sua preparação para o papel como intensa e muito divertida. “A gente foi para Curitiba. Eu nunca havia ido para lá, nem dirigido um caminhão e entrado a 160 km/h em uma curva. Foi uma experiência bem legal”

Logam diz que as expectativas para a recepção do público são as melhores. “Eu, o Thiago e a Sheron estamos muito ansiosos. É tudo muito novo para a gente também, tanto caminhão, quanto corrida”.

Nos bastidores da produção

O filme, gravado durante a pandemia de covid-19, demandou dez semanas de filmagens e protocolos de segurança tanto para a doença, quanto para o maquinário utilizado nas filmagens. A equipe que trabalhou no set em São Paulo era extremamente reduzida para evitar a contaminação. No local, havia elenco, engenharia, segurança, efeitos especiais e dublês — dois fixos e alguns extras, contratados para cenas específicas. Para coordenar todo mundo em um espaço tão grande, a produção utilizou diversos meios de comunicação e transporte inusitados como skate, moto, bicicleta e qualquer outra coisa que acelerasse a comunicação entre eles.

O produtor Rodrigo Castellar explicou que “para uma produção como essa, que tem muitas cenas de ação, as filmagens são muito mais técnicas”. “Com isso, nosso tempo de filmagem também é bem maior. Tivemos três semanas para filmar as cenas de dramaturgia e outras sete semanas filmando exclusivamente as cenas de ação”

Além da pandemia, as filmagens também aconteceram na mesma época em que o mundo ficou chocado com um terrível acidente. Em outubro de 2021, a diretora de fotografia Halyna Hutchins, que trabalhava nas filmagens do faroeste Rust, morreu após ser atingida pelo disparo do que deveria ser uma arma cenográfica. Por causa desse caso, muitos estúdios americanos prometeram parar de utilizar armas verdadeiras no set. 

Com Carga Máxima, essa preocupação era quase inexistente. A produção utilizou apenas armas de airsoft (ar comprimido) e, para garantir que nada desse errado, pelo menos três pessoas ficavam responsáveis por controlar e checar todas as armas antes e depois das gravações. Dependendo do tamanho da cena e de quantas pessoas estariam atuando com armas, o número de fiscais poderia aumentar.

Devido ao baixo orçamento (ouvimos que esse era um dos filmes mais baratos da Netflix), o projeto demandou muita criatividade técnica. A maior invenção da produção foi a “trucktana”, uma picape adaptada para servir como um caminhão fictício no filme. Afinal, como parte dos protagonistas sequer tinha tido contato com um caminhão na vida, eles precisaram criar um veículo que os atores não precisassem dirigir. Isso mesmo! Na frente do caminhão, um dublê e motorista de Fórmula Truck guiava o veículo conforme as instruções prévias do diretor. A máquina podia atingir até 110 km/h em linha reta — um caminhão de corrida profissional pode chegar até 240 km/h. Além disso, a traseira do veículo improvisado também servia de apoio para outras câmeras que, no geral, capturam um segundo caminhão — esse de verdade. Com isso, a equipe conseguia rodar dois takes de uma só vez.

Bastidores do filme Carga Máxima
Guilherme Leporace, Alisson Louback/Netflix/Divulgação/Divulgação

Já a parte interna da trucktana era completa, como a de um caminhão de verdade, mas nada funcionava. Uma buzina de gás foi deixada no veículo caso eles precisassem sinalizar algo. E a melhor parte dessa invenção era que ela pode ser adaptada para as mais variadas situações e, até, para diversos modelos de caminhão, já que sua cabine era removível. 

Sem luz no fim do túnel 

Chegando ao final da visita, fomos ao local onde Thiago e Milhem gravavam uma cena. Porém, chegar até lá foi uma verdadeira aventura, já que estávamos num dos limites da obra do Rodoanel. Sem asfalto no trecho em questão, a van que nos levava teve que encarar um caminho completamente irregular e coberto de barro e pedras. Entramos em um túnel incompleto, sem nenhuma iluminação e com um terreno ainda pior que o anterior. E, para piorar a situação, na entrada da “caverna” havia uma grande placa que advertia os pedestres curiosos: “Cuidado! Jiboias neste local”.

Ficamos cerca de cinco minutos no túnel, enfrentando um terreno horroroso deixado pelas máquinas da obra parada. A van precisou andar com toda a calma do mundo e com os faróis desligados para não corrermos o risco de atrapalhar as filmagens na outra ponta do túnel. Quando finalmente enxergamos a luz, um homem acenava distante, dizendo para pararmos. A espera durou mais alguns minutos, mas a escuridão fez parecer ter durado mais.

Após o “túnel dos horrores”, chegamos ao local da gravação. Lá, Thiago Martins e Milhem Cortaz contracenavam em uma cena tensa, e essa energia tomou conta do set. Tratava-se do “início do fim”: um grande embate entre o mocinho e o vilão. Ela foi gravada pelo menos quatro vezes até tudo sair perfeito. 

Não podemos dar mais detalhes dos acontecimentos, mas vale a pena conferir tudo isso quando o filme estrear na Netflix, no dia 27 de setembro.

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