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Showtime | Crítica

Uma comédia que sabe rir de si mesma

29.05.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Personagem Um: Mitch Preston (Robert De Niro), detetive durão, muitas vezes acima da lei, decano entre os policiais de Los Angeles, homem de poucas palavras e de poucos amigos.

Personagem Dois: Trey Sellars (Eddie Murphy), negro, patrulheiro estabanado, ator frustrado, histriônico e falastrão, mais afeito à busca pela fama do que à busca pela Justiça.

Duas figuras opostas, mas que envergam o mesmo uniforme de vigilante das ruas. Também, dois estereótipos básicos do gênero policial - que os próprios Murphy e De Niro ajudaram a criar e a consolidar.

Certo dia, de acordo com o roteiro de Showtime (2002), Chase Renzi (Rene Russo), uma produtora de televisão, tem uma idéia brilhante. Nada mais avançado, na onda dos reality shows, do que acompanhar o cotidiano perigoso dos policiais de verdade. Chase convence o delegado local do bem que um programa popular faria à imagem desgastada da Polícia de Los Angeles. E decide convocar, para o papel de protagonistas da série, dois tipos bem diferentes, mas que tivessem, em parceria, uma química toda especial - no caso, Preston e Sellars. Ameaçado por seu superior, o detetive durão aceita a missão, mesmo contrariado. Logicamente, o trapalhão se esbalda com a novidade e sua chance de sucesso. Deste modo, sob as câmeras atentas do programa Showtime, Preston e Sellars partem para o combate ao crime.

Lado auto-referente

Cabe aqui uma intervenção. Eis uma receita primordial para aquela comédia que busca o sucesso: não se levar muito a sério e saber rir de si própria. Produções pomposas arriscam-se mais ao fracasso do que fitas descompromissadas. Assim, o exemplo de Showtime, mais do que curioso, mostra-se significativo. Campanhas de marketing e trabalhos de assessoria vendem o filme como um libelo cínico contra os reality shows. Antes mesmo da estréia no Brasil, sessões seguidas de debates são organizadas junto a faculdades de Comunicação. Talvez seja uma divulgação equivocada. Primeiramente, porque o próprio filme não almeja esse objetivo, essa disciplina crítica instituída. E, principalmente, porque Showtime não se destaca exatamente pela porção reality show, mas pelo lado satírico, da utilização dos estereótipos como uma grande piada aos filmes detetivescos.

Antes de assumir o comando da película, o diretor Tom Dey apenas havia assinado a comédia Bater ou Correr (Shanghai Noon, 2000). Da sua estréia, porém, Dey conseguiu absorver todo o espírito despretensioso que transborda em Showtime. Isoladamente, a participação especial de William Shatner, no papel de diretor do reality show, já valeria algumas gargalhadas. No entanto, Eddie Murphy supera-se, como uma caricatura de Axel Foley, o detetive malandro de Um tira da pesada (Beverly Hills cop, de Martin Brest, 1984). De Niro reforça, com eficiência, o personagem mau-humorado de comédias recentes como Máfia no divã (Analyze this, de Harold Ramis, 1999) e Entrando numa fria (Meet the parents, de Jay Roach, 2000). Até Rene Russo aproveita o clima de escracho e abusa da persona Mulher Coragem que incorporou na série Máquina mortífera.

Não há cacoete do gênero que permaneça intacto, sem um devido tratamento irônico; desde a mania, um tanto espalhafatosa, de rolar pelo capô do carro, até a técnica de identificação de cocaína pelo paladar; desde a afinidade entre policiais e cães até o ritual da entrega do distintivo depois de um afastamento de caso. Se você não agüenta mais ouvir sobre Big Brothers, Casas, Famas ou Survivors, relaxe. O filme não encara o tema com a mesma seriedade do fraco 15 minutos (15 minutes, de John Herzfeld). Simplesmente fique despreocupado e curta a faceta auto-referente de Showtime, aquela que sabe rir de si mesma.

Nota do Crítico
Bom
Showtime
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Showtime

Ano: 2002

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 96 min

Direção: Tom Dey

Elenco: Robert De Niro, Rachael Harris, Eddie Murphy, Zaid Farid, William Shatner

Onde assistir:
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