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Crítica

Demônio de Neon | Crítica

Nicolas Winding Refn frustra novamente ao tentar desconstruir imagens e gêneros americanos

29.09.2016, às 18H46.

Desde que circulou em festivais, Demônio de Neon (The Neon Demon) tem alimentado os factoides mais usuais do circuito de filmes de arte: recebeu vaias, recebeu ovações, fez público largar a sessão, deixou críticos encantados, deixou críticos em fúria. Até certo ponto é uma polarização esperada; Nicolas Winding Refn parte de um projeto estético de alta pretensão para entregar um filme distante e desinteressado, como se fosse mesmo responsabilidade de seus interlocutores preencher e reverberar todos os vazios.

A pretensão: Demônio de Neon tenta refazer um Showgirls como se fosse Laranja Mecânica, uma leitura estetizada, de uma violência distópica represada, daquela velha história de formação da garota do interior cuja identidade é destruída e reinventada no grande moedor de carne do showbiz. Desde que começou a flertar com Hollywood, o diretor dinamarquês tem incorporado os signos americanos em seus filmes, notadamente depois de criar seu caubói silencioso em Drive, e neste novo filme ele (que mal se encontrou ainda dentro da tradição narrativa do país) já parte para a desconstrução.

Ainda que Elle Fanning seja a protagonista ideal para Demônio de Neon - que outra atriz hoje em dia poderia personificar de tal forma esse mistério da beleza insondável e dos desejos inconfessos? - sua imagem fotogênica não consegue, sozinha, injetar sentido nos longos planos de Refn que se apropriam da linguagem dos videoclipes para denunciar sua esterilidade. Da mesma forma, a trilha sonora de Cliff Martinez (compositor que não parece ter ganhado muito ao trocar os filmes de Steven Soderbergh pelos de Refn, além de uma vitrine maior) se esforça até demais para transcender a simples repetição hipnótica.

Ainda que tenha seus bons momentos - a cena do animal no hotel é um exemplo de como a "realidade" entra como ruído nesse mundo todo ordenado de Los Angeles - Demônio de Neon termina marcado pelas platitudes. É um filme distante e calculado sobre um tema distante, calculado; esse é o acordo que Refn firma com seu material, e, ao recusar qualquer oportunidade de ruptura ou disrupção, o diretor faz seu filme mais acomodado, que não tem sequer os momentos de caos controlado de Drive ou Apenas Deus Perdoa.

Se Refn pretende fazer seus julgamentos sobre a imagem americana, que naturalmente se confunde com as noções de gêneros, já que Hollywood sempre foi a matriz do que entendemos por cinema narrativo, então nada mais justo que compará-lo a outros filmes. Vem logo à mente Sob a Pele, de Jonathan Glazer, que faz um flerte com o cinema de gênero muito mais eficiente, enquanto Demônio de Neon se aproxima o tempo todo do filme de horror mas parece envergonhado de se filiar a ele de fato. No mais, são dois filmes muito parecidos sobre a destruição do feminino (a beleza, a inocência) num mundo masculino de lógica predatória.

Elle Fanning tem tudo para crescer e se transformar numa Scarlett Johansson, impondo a força da sua imagem mesmo ao destruí-la, mas Demônio de Neon não é o filme que a eternizará.

Nota do Crítico
Regular
Demônio de Neon
The Neon Demon
Demônio de Neon
The Neon Demon

Ano: 2016

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 118 min

Direção: Nicolas Winding Refn

Roteiro: Nicolas Winding Refn, Mary Laws

Elenco: Elle Fanning, Abbey Lee, Christina Hendricks, Keanu Reeves, Jena Malone, Jamie Clayton, Alessandro Nivola, Desmond Harrington, Bella Heathcote, Charles Baker

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